sexta-feira, 13 de abril de 2007

É proibido proibir

Em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab proibiu os feirantes de atrair clientela no grito.
O Conselho Nacional de Justiça proibiu todos os tribunais brasileiros de identificar suas sedes ou setores (auditórios, salas, prenários, etc.) com nomes de pessoas vivas.
O presidente da Câmara dos Deputados proibiu o uso, em plenário, de indumentária que não seja terno e gravata ou o equivalente feminino.
Olhando assim, ficamos com a impressão de que não há coisa mais importante a fazer na prefeitura de São Paulo, no CNJ e na Câmara. Um olhar mais atento, contudo, mostrará que tais medidas têm lá a sua razão de ser, ainda que nem todas sejam corretas.
Considero correta a proibição de berros nas feiras. Trata-se de conforto ambiental.
Também aprovo a vedação de nomes de pessoas vivas para qualquer coisa. Evitam-se, assim, abusos próprios de gente medíocre e mau caráter, prática corriqueira aqui na terrinha. Basta ver que o odioso "Almir Gabriel" designa estádio de esportes em Ananindeua, paço municipal em Marituba e até uma favela, que tinha mais dignidade quando se chamava "Che Guevara". Nos últimos minutos do governo de Simão Jatene, algum beócio botou uma placa com seu nome na Escola de Governo. Isso sem falar na Jaderlândia...
Já quanto aos trajes no Congresso Nacional, penso que há um pouco de exagero. Eu prefiro um político honesto em trajes assim-assim a um Clodovil, por exemplo. Desde que a roupa não seja ofensiva, despudorada e anti-higiênica, qual o problema do chapéu de couro ou da bombacha (exemplos mostrados pela imprensa)? Pode até ser feio (a bombacha era bem elegante), mas feio é um juízo de valor, que varia de pessoa a pessoa. E não influencia em nada a qualidade do parlamentar. Além disso, são características regionais que podem ajudar a conferir uma identidade ao congressista. Se ele acha importante identificar-se com um chapéu de sertanejo, sinaliza que tipo de interesses pretende defender ali. Por mim, o chapéu fica. E as bombachas. E os cocares. Deputados cariocas, nada de trajes de banho.
Além do mais, essas frescuras fashion tendem a mudar com o tempo. Anos atrás, o ex-deputado, ex-petista e ex-paraense Babá incomodou com sua vasta cabeleira. Lembro-me de ver reportagem em que se suscitava quebra de decoro parlamentar. Quebra de decoro por causa do comprimento dos cabelos!! Mas nada aconteceu e, com os anos, ninguém se incomodava mais. E a Heloísa Helena fez sucesso com seus jeans e blusa branca! Mal vestida, era sem dúvida uma das melhores integrantes de todo o Senado.
Deixem os estilosos em paz. Lembrem que falta de personalidade pode explicar muitos dos desatinos que essa turma comete.

4 comentários:

Anônimo disse...

Esse ôba-ôba na Câmara dos deputados é mais para encobrir o auto aumento de seus salários, que qualquer outra coisa.

Yúdice Andrade disse...

Anônimo, tens toda a razão. Infelizmente para o país.

CJK disse...

Ótimo post: realmente não importa tanto o traje. A produção legislativa padece de males cuja remédio não será obtido por ternos Armani.

Yúdice Andrade disse...

Lamentavelmente, lá tem muitos trajes Armani. O que deveria ter, não tem.