sábado, 7 de abril de 2007

Como assim, "belo"?

O Centro Comercial de Belém é chamado por alguns de "Belo Centro". Devia ser, até meados do século XX, mas desde que uma legião de retardados mentais importou a ideia de que desenvolver implica em destruir tudo que é velho, começou a demolição daquele espaço, outrora construído com imensa preocupação estética.
Você já parou para prestar atenção aos detalhes daquelas fachadas antigas? Os beirais, as estátuas, as calhas. Até as calhas eram ricamente trabalhadas! Mas foi tudo se perdendo e o que subsiste está oculto por medonhos paineis metálicos e por uma fiação elétrica atrapalhada, suspeita e perigosa. Se você nunca olhou, esqueça, porque parar numa esquina daquelas e ficar patetando para o alto é pedir para ser roubado.
Durante o primeiro mandato de Edmilson Rodrigues, a Prefeitura criou um projeto de revitalização do centro. Tive a oportunidade de assistir ao seu lançamento, comandado por Ana Júlia, na época vice-prefeita. Naturalmente, devido aos elevados custos, ele só poderia ser implementado com a parceria da iniciativa privada, os proprietários dos imóveis, que receberiam como contrapartida descontos no IPTU (há muitos anos existe uma lei autorizando essa medida). Mas adivinhe o que eles queriam? Que a Prefeitura bancasse as obras sozinha. Ou seja, queriam que a Prefeitura gastasse dinheiro público em imóveis particulares, para que seus donos pudessem explorá-los comercialmente e lucrar com o novo ambiente. Seria o caso de se perguntar se na badinha não vai nunda. Tal ideia, por sinal, era e é simplesmente ilegal.
O projeto nunca saiu do papel. Foi vendo os croquis dos prédios após a reforma, em comparação com fotos de seu estado à época, que descobri a maravilha que temos ali, perdida, sendo destruída dia a dia. O maravilhamento cedeu lugar à fúria, mas tive que engoli-la. Afinal, nove anos depois as coisas só pioraram. Nem prefeito temos mais.
Quando Hélio Gueiros era o alcaide, aventou-se a ideia de proibir o tráfego de veículos no centro comercial. Claro que, na terra do comodismo — onde o indivíduo acha que deve estacionar bem na frente do seu destino, mesmo que em fila quádrupla; acha que deve saltar do ônibus ao lado da cama e onde certo é ser errado, individualista e cretino —, isso não foi adiante.
Hoje, precisei percorrer a pé alguns trechos do comércio. Que horror, Jesus Cristo! Honestamente, penso que proibir o estacionamento naquelas ruas estreitas é medida para ontem. Manteríamos o tráfego até que se encontrasse uma alternativa, mas estacionamento nem pensar. O poder público poderia fomentar o surgimento de estacionamentos particulares, em níveis.
Seria, ao menos, um começo.

PS — Como medidas assim devem ser implementadas da maneira menos traumática possível, minha sugestão é que fosse dado um prazo de 15 dias para proibir o estacionamento na Tv. 1º de Março, da Manoel Barata até a Boulevard Castilhos França, por onde passei um dia desses de carro, estressadíssimo, porque ao menor descuido você bate em alguma coisa ou alguém. Esse pequeno trecho, de apenas três quarteirões, seria o parâmetro para avaliar o impacto da medida, a ser estendida posteriormente, até chegarmos na própria Manoel Barata, que fica impraticável, principalmente no trecho entre a Frutuoso Guimarães e a Pres. Vargas.

4 comentários:

Fábio Cavalcante disse...

Pô, e a barulheira nesse inferno? Agora ainda tem umas bicicletas - com umas caixas na frente - que entram em qualquer buraco com o volume no máximo! É poluição de todo tipo!

Anônimo disse...

Quando voce fala de fachadas ricas em detalhes, poderiamos copiar de São Paulo a lei de cidade limpa. Ontem mesmo passou na televisão várias imagens do cenro de sampa, sem aqueles letreiros enormes, mostrando realmente a bela arquitetura dos prédios antigos.
Em tremos de visula nota 10 para São Paulo.

Yúdice Andrade disse...

Fábio, o que queres dizer com "agora"? Essa publicidade em bicicletas existe desde que sou criança, pelo menos. Naturalmente, agora também se tornou balbúrdia.

Ana Laura, a idéia é boa, mas não tens idéia da pressão que os empresários de outdoors fazem para continuar agindo como bem entendem. Só para identificar as empresas pela cor das bordas dos painéis, o que permitiria identificar os responsáveis por irregularidades, já foi uma luta. Tentou-se acabar com as empenas - aquelas estruturas metálicas imensas, que são vistas de longe e por isso mesmo causam enorme poluição visual. És testemunha de que elas continuam por aí.
Enfim, a idéia é boa, mas executá-la exigiria um governo firme. E nem governo temos nesta cidade.

Fábio Cavalcante disse...

É verdade Yúdice! o negócio mesmo é que os equipamentos vão ficando cada mais potentes, e vai ficando também também cada vez mais impressionante a porcaria que um negocinho com menos de meio metro de tamanho consegue fazer!