quinta-feira, 11 de setembro de 2008

...E o mundo não se acabou

É quase um retorno à Idade Média: um embate entre a ciência e o obscurantismo.
Ontem entrou em operação o grande acelerador de hádrons (large hadron collider — LHC), um dos maiores engenhos humanos de todos os tempos. Construído ao longo de 14 anos pelo Conselho Europeu para Pesquisa Nuclear (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire — CERN), ao custo de 8 bilhões de dólares, trata-se de um acelerador de partículas e é a maior máquina já construída no planeta. Sua finalidade é provocar a colisão entre prótons e observar as conseqüências: a pulverização dos prótons em partículas subatômicas que, hoje, são concebidas apenas teoricamente. Tudo indica que elas existem, mas nunca foram detectadas na realidade. A função do LHC é comprovar a sua existência, o que abre caminho para uma série de constatações. Uma das mais instigantes é: veremos, finalmente, a antimatéria?
Admito, contudo, que esta minha explicação é bastante simplória, já que estamos no campo da Física ultra-avançada, para a qual não sou minimamente qualificado. Recomendo aos interessados, pois, procurar melhores fontes.

O LHC impressiona. Para funcionar, precisava ser imenso, a tal ponto que o melhor local para construí-lo era abaixo da superfície. Foi cravado em região de fronteira, ocupando o subsolo da França e da Suíça — um anel de 8,6 Km de diâmetro e 27 Km de perímetro.
Mas onde entra o obscurantismo nesta história? É que alguém inventou uma teoria pseudocientífica segundo a qual a colisão dos prótons produziria um buraco negro, levando à destruição do planeta Terra, ou seja, nada menos do que o fim do mundo! O tempo passa e, em vez de nos livrarmos dessas sandices que não se destinam a outra coisa senão emperrar o progresso científico, vemos que elas também se desenvolvem e recorrem à própria ciência para dar ares de seriedade aos arautos da desgraça. O fato é que os anúncios escatológicos foram desmentidos por algumas das mais notáveis autoridades do mundo no assunto, tais como o inglês Stephen Hawking.
Pesquisadores brasileiros, que têm o privilégio de participar do projeto, relataram à imprensa que as teorias do fim do mundo, relacionadas ao LHC, são motivo de piada.
Ontem, os trabalhos se iniciaram com o disparo de um feixe de prótons, que teve estabilidade suficiente para dar uma volta completa no anel — um desempenho melhor do que o esperado para o primeiro dia. Apenas um teste. Se o mundo vai acabar ou não, levaremos meses para saber, pois levará tempo até que o artefato esteja plenamente apto a fazer os prótons colidirem.
Uma certeza todos podemos ter: o mundo nunca mais será como antes.
Fontes:

7 comentários:

Anônimo disse...

Indiana se suicida por medo de experiência do Big Bang

Plantão | Publicada em 10/09/2008 às 13h39m
Reuters/Brasil Online

BHOPAL, Índia (Reuters) - Uma adolescente no centro da Índia se suicidou na quarta-feira porque ficou traumatizada com as reportagens que diziam que o experimento para recriar o "Big Bang", na Europa, podiam levar ao fim do mundo, disse o pai da garota.

A moça de 16 anos morava no estado de Madhya Pradesh, bebeu pesticida e foi levada ao hospital, mas logo morreu, segundo a polícia.

Seu pai, identificado pela TV local como Biharilal, disse que a filha, Chayyam, se matou depois de assistir às previsões feitas pela TV indiana.

"Nos últimos dois dias, Chayya perguntou a mim e outros parentes sobre o fim do mundo no dia 10 de setembro", disse Biharilal, segundo a TV.

"Tentamos distraí-la e dissemos a ela que ela não deveria se preocupar com tais coisas, mas não adiantou", acrescentou.

Nos últimos dois dias, muitos noticiários indianos discutiram as previsões de que uma enorme máquina de choque de partículas, enterrada abaixo da fronteira entre a Suíça e a França, pudesse trazer o fim do mundo.

A máquina foi ligada na quarta-feira. O experimento está sendo descrito pelos cientistas como o maior da história humana.

A máquina faz as partículas se chocarem na tentativa de obter, em escala reduzida, o mesmo fenômeno da teoria do "Big Bang" de criação do universo.

Os cientistas e pesquisadores-chefes da Organização Européia de Pesquisa Nuclear disseram que a experiência é segura. Eles negam as previsões de que o feito poderia criar um buraco negro.

Mas, na Índia, que é profundamente religiosa e supersticiosa, o medo em relação à experiência se espalhou graças à mídia.

No leste da Índia, milhares de pessoas correram aos templos para rezar, enquanto outros saboreavam seus pratos preferidos, à espera do fim do mundo.

Yúdice Andrade disse...

Veja que curioso, anônimo: decidi escrever este texto por causa do suicídio da moça indiana, mas me preocupei com os aspectos técnicos e acabei esquecendo a notícia. Agora você resgata o assunto, trazendo à baila uma notícia da imprensa. Muito obrigado. É graças a essa notícia que a crítica ao obscurantismo faz mais sentido.

Anônimo disse...

Dar fim à vida por causa de uma experiência científica? Que idiota.

Francisco Rocha Junior disse...

Yúdice,
A tragédia da menina indiana faz pensar. Porém, certo é que logo, logo haverá um filme americano usando do obscurantismo para fazer dinheiro, com roteiro previsível: a experiência dá errado, o buraco negro é criado e ameaça engolir a Terra e o Sistema Solar; então, Will Smith, Bruce Willis e Harrisson Ford (em conjunto ou separadamente, como nas procurações ad juditia) salvam o planeta.
Assim caminha a humanidade. Afinal, money makes the world go round.
Abração.

Yúdice Andrade disse...

Prefiro não julgar a moça, anônimo. Sabe-se lá que dramas estava vivendo. Ela não se matou especificamente por causa do LHC, com certeza. Pode ter sido apenas um pretexto.
E, acredite, há coisas tão idiotas quanto que as pessoas fazem todo dia, ao nosso redor. E ainda acham natural.

O teu prognóstico pode ser dado como certo, Francisco. E aposto que será Will Smith o ator principal. Quando o filme estrear, por favor, não me convides.

Polyana disse...

Na verdade, o ator seria o Tom Hanks. O livro já existe, e é o Anjos e Demônios, do Dan Brown. Ele é o mesmo autor do Código DaVinci e por conta disso o personagem principal, Robert Langdon, seria vidio por Tom Hanks, como foi no filme deste livro. Anjos e Demônios é bem melhor que Código, em minha opinião, mas pode ser só porque o li primeiro. Fala justamente de um pedacinho de antimatéria (obtido em um acelerador de partículas que compartilha da mesmíssima descrição do apresentado na notícia) que foi roubado de um laboratório de pesquisas e está sendo usado como arma contra a Igraja Católica. Leitura interessante, recomendo. Bem, pelo menos daria um ótimo filme.

Yúdice Andrade disse...

De fato, meu amor, essa é a sinopse do "Anjos e demônios" - romance, em minha opinião bem melhor do que "O código da Vinci". Mas ele não faz referência ao LHC e, segundo entendi do comentário do anônimo, é provável que façam um filme bem específico, sem questões outras (como a Igreja), supostamente de ficção científica, no qual os testes provocassem mesmo um buraco negro e somente um desses heróis americanos pudessem salvar o planeta. Insisto que Will Smith é o cara. Atualmente, é o maior protagonista desses filmes imbecis, com a mesma temática de sempre sobre catástrofes.
"Anjos e demônios" daria, sem dúvida, um bom filme. Mas nada de especial. Somente mais um blockbuster tipicamente industrializado.