Ele provavelmente se assustaria em ser classificado assim, mas Ariano Suassuna é um pop star da Feira do Livro. No ano passado, tive o privilégio de vê-lo, ouvi-lo, colher um autógrafo e tirar uma foto. Lamento não ter sido possível este ano, mas aposto que foi um arraso, como sempre. Nada como um homem inteligentíssimo, cuja idade lhe permite falar de tudo. E o povo simplesmente adora.
Transcrevo trecho de sua preleção, comovente e forte, consoante publicado hoje em O Liberal, matéria de Carolina Menezes (foto da publicação online):
Transcrevo trecho de sua preleção, comovente e forte, consoante publicado hoje em O Liberal, matéria de Carolina Menezes (foto da publicação online):
"(...) Fui criado, formado e deformado no Brasil. Temos que achar os problemas que existem no Brasil real, o Brasil de verdade. Educação não é o principal problema que nós temos, é a miséria, isso eu aprendi com a minha experiência de vida. Aos sete anos de idade, fui alfabetizado em casa, porque naquela época a gente não ia pra escola aprender a ler, já entrava sabendo. Minha mãe e uma tia me alfabetizaram. Na escola havia três meninos que eram constantemente ridicularizados. Menino, gente, é inocente, não é bobo, e por ser tão inocente faz cada crueldade sem sentir... Eu era tão ruim... (a platéia vai às gargalhadas)! Agora que eu estou melhorando um pouco. Pra vocês verem, chegava novato na escola, a primeira coisa que a gente fazia era arrumar um apelido pra ele, daqueles que te arrebenta pro resto da vida! E a gente tinha uma brincadeira, que eu não sei se vocês têm aqui, que se chamava garrafão. Aí, a gente chamava o novato pra brincar, e de propósito, não explicava direito as regras. Quando ele errava, todo mundo ia bater nele! Um dia entraram três irmãos pra estudar lá, Osório, Pedro e David. Maus alunos, os piores da escola. Com essa hostilidade toda, ninguém chamava eles pra brincar no recreio e eles ficavam num paredão, encostados, olhando. Minha mãe me dava um pão aberto no meio com manteiga, todo dia, pra eu levar. Um dia, na hora do recreio, eu peguei o pão pra comer e vi o Osório olhando. Senti algo que me fez perguntar se ele queria um pedaço. Ele disse que sim e eu dei a metade. Pois ele chamou os dois irmãos e dividiu em três o pedaço que eu dei pra ele. Dali em diante, todo dia que fazia aquilo. Se eu contasse à minha mãe, ela me dava uns tapas ou me daria mais três pães pra eu levar, não sei. Anos depois, eu reencontrei Pedro e ele me contou que aquele pão que eu dava pra eles era o café da manhã daqueles irmãos, gente. Eles vinham da zona rural todo dia sem nada na barriga. Como podiam aproveitar as aulas? Podia colocar ali o melhor educador do mundo que não ia dar jeito. A nós, compete lembrar desse problema, porque tem gente que não quer dar atenção. Hoje em dia, 18,4% da população brasileira vive na miséria, naquela linha que chamam de abaixo da pobreza. Antes do bolsa-família, eram mais de 34%, e ainda tem gente que fala mal do bolsa-família (platéia o interrompe com aplausos). Eu digo, a educação está em segundo plano dentro dos nossos problemas, a miséria é o primeiro. Tô falando isso porque comi três vezes só hoje, né? (...)".
2 comentários:
Yúdice, gostei tanto que vou colocar no meu blog. espero que não se importe.
Abs!
Lu.
Quem poderia importar-se seria a autora da matéria, minha querida. Espero que não, já que dei o crédito. Abraços.
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