Imagine a cena: sujeito decide furtar um carro velho, estacionado na rua. Consuma o delito e vai embora. Adiante, porém, descobre que há uma criança dormindo no banco traseiro. Indignado com a irresponsabilidade dos pais — abandonar uma criança no interior de um carro em plena madrugada —, o ladrão telefonou para a Brigada Militar da cidade gaúcha de Passo Fundo e informou o fato. Disse não ter visto a criança antes de furtar o veículo e indicou em qual rua deixaria o automóvel. Seguindo as indicações dadas por ele, os policiais encontraram o carro. O menino, de apenas 5 anos, permanecia dormindo lá dentro.
A criança foi levada para a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento, de onde acionaram o Conselho Tutelar. Descobriu-se que, por ocasião do furto, os pais do menino estavam bebendo num bar.
E eis que, de repente, na luta maniqueísta entre os "vagabundos" e os "cidadãos de bem", é o ladrão que revela melhores princípios morais. Segundo me disseram, parece que o delegado que investiga o caso teria declarado que, caso venha a encontrar o ladrão, não pedirá sua prisão preventiva pelo furto. Nem eu pediria.
Quero só ver se os pais vão botar a culpa na mardita.
Fontes: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL763089-5598,00-LADRAO+ENCONTRA+CRIANCA+DORMINDO+EM+CARRO+E+CHAMA+POLICIA.html e http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u445879.shtml
PS — O título da postagem não tem a menor intenção de ofender os pais da criança, como parece (reconheço). Olhando o texto, agora (dia seguinte), percebi isso e, como não pretendo incorrer em vícios que critico, esclareço: no jargão policial, qualquer acusado de delito é vagabundo. Não interessa sua história, apenas a existência de uma acusação. Isso faz parte do discurso moralizante que caracteriza as polícias. O título da postagem, portanto, significa que o ladrão, rotulável como vagabundo, teve mais ética e responsabilidade que os pais do menino, portanto não mereceria o predicado. Estes, uma vez criminalizados, passariam a ostentar essa classificação.
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