George Clooney, um dos atores mais adorados pela mulherada devido a seus atributos físicos — por sinal, bastante reforçados com a idade —, e que merece elogios por seus inegáveis méritos como ator e diretor, deu mostras de que não é apenas um cidadão engajado no campo profissional (seus filmes Boa noite e boa sorte e Syriana mostram o seu comprometimento com certas legendas): ele é de fato um cidadão.
Digo isso porque, enquanto passeava de motocicleta com a namorada, Clooney foi perseguido por um paparazzo, também de moto. Encegueirado por um registro, o fotógrafo saiu pilotando alucinadamente. Clooney não perdoou: apeou da moto e passou-lhe um ralho: "Qual é o número da sua carteira de motorista? Quantas regras de trânsito você quebrou? Quantas pessoas você colocou em perigo?". Irritado, o ator explicou as regras de trânsito que tinham sido infringidas e concluiu que o sujeito pilotava como um maníaco.
Não sei se o miserável conseguiu a tão esperada fotografia. Mas levou um banho de civilidade e, claro, acabou na internet. Nesta matéria, há um link para o vídeo.
terça-feira, 20 de novembro de 2007
O espetaculoso tribunal
O Procurador de Justiça gaúcho Lênio Luiz Streck escreveu, há alguns anos, um livro chamado Tribunal do júri: símbolos e rituais. Nele, explica a ritualística engendrada há séculos para essa instituição judiciária, que viabiliza a efetiva participação popular na administração da Justiça. Afinal, no sistema brasileiro, enquanto o Executivo e o Legislativo são compostos por mandatários eleitos, o Judiciário é composto por técnicos, recrutados através de suposta demonstração de habilidade (pelo menos após a consagração dos concursos públicos). Obviamente, o que escrevo agora está num plano ideal, para ser sintético. Sabemos que na prática a teoria é diferente.
O tribunal do júri é uma espécie de ícone da simbologia estatal. A mesa do juiz fica num plano mais alto e olha de cima o amesquinhado réu, minúsculo em sua cadeirinha, de costas para os seus julgadores e para a assembleia. Os jurados também se sentam de costas para o público, simbolizando a suposta isenção de ânimo. O Ministério Público fica à direita do juiz, deixando escapar o atrelamento que sempre houve entre o Estado que acusa e o Estado que julga. Atualmente, não pode haver diferença de tratamento entre acusação e defesa, mas isso sempre foi e continua sendo balela. Basta ver como os juízes se confraternizam com os promotores de justiça, ao passo que tratam os advogados em geral com desconfiança e frequente má vontade. O promotor chega para uma audiência e vai logo entrando, manuseando os autos, usando o telefone. O advogado precisa ser convidado e receber autorização para tudo. Distorções inconfessas, mas inegáveis.
Tudo que se faz no plenário do júri cumpre uma missão de influenciar o ânimo dos jurados que, vale lembrar, são leigos. De regra, nada entendem de Direito e estão ali para dar um veredito de acordo com sua própria miopia acerca do mundo. Por isso, muitos juristas propõem requisitos mais rigorosos para seleção de jurados, a fim de garantir um pouco mais de qualidade nas decisões.
Tudo isto é para manifestar meu desagrado diante do circo de horrores em que transformaram o tribunal do júri de Belém, com a exibição de blocos de concreto, camburões e demais artefatos usados para assassinar e ocultar os corpos dos irmãos Novelino. Naturalmente, do maior interesse do Ministério Público. A visão desses instrumentos bota os jurados a pensar no crime em si, a visualizar a cena e, assim, compreender melhor o sofrimento experimentado pelas vítimas. Com tais monstruosidades no pensamento, a condenação fica quase certa, porque o julgamento de questiúnculas jurídicas fica prejudicado pela emoção.
Não sei se faria isso, caso fosse o promotor do caso. Acho que não precisa e sou avesso a esse tipo de espetáculo. Mas o júri é o teatro do Direito. Está nele quem gosta de aparecer.
Por fim, se eu fosse o Cardias, teria negado simular o estrangulamento das vítimas. Em pleno salão, um voluntário se deitou no chão para reproduzir a cena. Horrível. Com certeza, Cardias aceitou isso de olho na delação premiada, que acabou não recebendo. Só conseguiu mostrar aos jurados como é mau. Assinou a própria sentença e, de quebra, ganhou um aumento de pena.
Mas circo é isso. Faz o melhor espetáculo quem não tem medo de ousar. Só que, neste caso, o final não é o aplauso.
O tribunal do júri é uma espécie de ícone da simbologia estatal. A mesa do juiz fica num plano mais alto e olha de cima o amesquinhado réu, minúsculo em sua cadeirinha, de costas para os seus julgadores e para a assembleia. Os jurados também se sentam de costas para o público, simbolizando a suposta isenção de ânimo. O Ministério Público fica à direita do juiz, deixando escapar o atrelamento que sempre houve entre o Estado que acusa e o Estado que julga. Atualmente, não pode haver diferença de tratamento entre acusação e defesa, mas isso sempre foi e continua sendo balela. Basta ver como os juízes se confraternizam com os promotores de justiça, ao passo que tratam os advogados em geral com desconfiança e frequente má vontade. O promotor chega para uma audiência e vai logo entrando, manuseando os autos, usando o telefone. O advogado precisa ser convidado e receber autorização para tudo. Distorções inconfessas, mas inegáveis.
Tudo que se faz no plenário do júri cumpre uma missão de influenciar o ânimo dos jurados que, vale lembrar, são leigos. De regra, nada entendem de Direito e estão ali para dar um veredito de acordo com sua própria miopia acerca do mundo. Por isso, muitos juristas propõem requisitos mais rigorosos para seleção de jurados, a fim de garantir um pouco mais de qualidade nas decisões.
Tudo isto é para manifestar meu desagrado diante do circo de horrores em que transformaram o tribunal do júri de Belém, com a exibição de blocos de concreto, camburões e demais artefatos usados para assassinar e ocultar os corpos dos irmãos Novelino. Naturalmente, do maior interesse do Ministério Público. A visão desses instrumentos bota os jurados a pensar no crime em si, a visualizar a cena e, assim, compreender melhor o sofrimento experimentado pelas vítimas. Com tais monstruosidades no pensamento, a condenação fica quase certa, porque o julgamento de questiúnculas jurídicas fica prejudicado pela emoção.
Não sei se faria isso, caso fosse o promotor do caso. Acho que não precisa e sou avesso a esse tipo de espetáculo. Mas o júri é o teatro do Direito. Está nele quem gosta de aparecer.
Por fim, se eu fosse o Cardias, teria negado simular o estrangulamento das vítimas. Em pleno salão, um voluntário se deitou no chão para reproduzir a cena. Horrível. Com certeza, Cardias aceitou isso de olho na delação premiada, que acabou não recebendo. Só conseguiu mostrar aos jurados como é mau. Assinou a própria sentença e, de quebra, ganhou um aumento de pena.
Mas circo é isso. Faz o melhor espetáculo quem não tem medo de ousar. Só que, neste caso, o final não é o aplauso.
segunda-feira, 19 de novembro de 2007
Quando não há Estado...
Reação
Sem polícia por perto, moradores de uma localidade à altura do km 28 da Alça viária deram jeito na violência, pelo menos por enquanto. Armados, eles botaram cinco assaltantes para correr e avisaram: quem for flagrado roubando vai levar chumbo.
(Repórter 70 de hoje)
Muita gente deve ter aplaudido a atitude que, não o nego, advém da necessidade. Todavia, isso não é coisa que se comemore. Não é o cidadão comum que deve viabilizar a segurança pública. Aliás, o cidadão comum sequer deveria possuir armas.
Quando o Estado se omite, o cidadão sofre. E se porventura o cidadão reage com êxito, sofrem os princípios éticos que deveriam nortear a sociedade, cada vez mais submetida à lei do Oeste. Além disso, o justiceiro que hoje impõe a sua vontade sobre o ladrão, amanhã a imporá sobre o vizinho que o aborrecer. Alguém duvida?
Criminalização da homofobia
A Constituição de 1988 dispõe que "a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei" (art. 5º, XLII). A lei em questão é a de n. 7.716, de 5.1.1989, que "define os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor". Posteriormente, a Lei n. 9.459, de 1997, inseriu a punição, também, da discriminação decorrente de "etnia, religião ou procedência nacional".
Até onde me consta, não houve dificuldade para aprovação dessas matérias pelo Congresso Nacional. Todavia, no ano passado foi proposto o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados n. 122, que pretende ampliar mais uma vez os termos dessa lei, criminalizando agora as condutas que importem em discriminação por motivo de "gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero". E adivinhem o que aconteceu? Em vez de mobilização em torno da aprovação de um diploma que pode favorecer a cidadania, tratando a todos como iguais, e apesar de o PL ter sido aprovado na Câmara ainda em 2006, no Senado a mobilização é da bancada evangélica, que deseja ver punido apenas o preconceito quanto ao sexo, mas não orientação sexual.
Em suma, os evangélicos não veem mal nenhum nos atos cotidianos de menosprezo aos homossexuais. E, de quebra, querem impor ao país a sua forma de ver o mundo, condicionada por sua miopia religiosa. Pelo que vi, navegando em algumas páginas da Internet, a preocupação da turma é não poder emitir opinião nenhuma contrária ao homossexualismo, coisa que poderia atrapalhar as suas pregações. Ah, o maldito Estado laico!
Enquanto alguns parlamentares despreparados agem como se o Brasil fosse uma teocracia fundamentalista, o Deputado Federal Iran Barbosa (PT/SE), relator do projeto, que fora da política é professor de educação básica (tendo formação em História e Direito), emitiu um parecer favorável que é um libelo pela justiça e pelo amor. Na íntegra, com meus agradecimentos a Aline Beckman, que me enviou o texto:
Todas as cores do amor
"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e näo tivesse amor, (...) eu nada seria".
A principal mensagem do evangelho de Jesus Cristo é o amor. Isso está evidente na máxima segundo a qual devemos "amar o próximo como a nós mesmos". O amor também é o fundamento da maioria das religiões, cristãs e não-cristãs.
Infelizmente, o amor cedeu espaço à intolerância na análise do PL 122/2006, em trâmite no Senado Federal, que torna crime a prática da homofobia.
A polêmica é falsa. Primeiro, porque o pleno exercício da sexualidade, livre de preconceito, discriminação e violência é um direito de todas as pessoas em um Estado Democrático de Direito, onde religião e políticas públicas não se confundem.
Segundo, porque a lei não instituirá comportamentos. Eles já existem. O PL 122/2006 apenas assegurará que as individualidades das pessoas homossexuais não sejam violadas pelos que não aceitam a livre orientação sexual e a identidade de gênero.
O Brasil é campeão de homofobia. Mais de uma centena de seres humanos são barbaramente assassinados anualmente apenas por serem homossexuais. Milhares de outros sofrem agressões físicas e psicológicas, diariamente, somente porque amam seus iguais.
Homossexualidade não é doença! Os gays são mais de 18 milhões de cidadãos e cidadãs tratados como seres de segunda categoria, pois têm os mesmos deveres mas não podem usufruir dos direitos garantidos aos heterossexuais.
O que o PL 122/2007 faz é eleger a integridade física e psicológica das pessoas gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (GLBT) à dignidade de bem jurídico tutelado pelo direito penal. Ou seja, ele criminaliza a homofobia, submetendo essa prática às mesmas penas previstas para o racismo. Seu grande mérito é desestimular comportamentos homofóbicos, em especial os crimes que hoje em dia são praticados com requintes de crueldade.
Interpretações baseadas em leituras fundamentalistas da Bíblia não podem inviabilizar a criminalização da homofobia. Os argumentos de que o PL atinge os princípios da liberdade de expressão e da liberdade religiosa também não se sustentam, já que o projeto apenas pune condutas e discursos discriminatórios. Se o racismo, a discriminação de gênero e a xenofobia já são crimes, por que não a homofobia?
O projeto não interfere na liberdade de culto ou de pregação religiosa. Essa liberdade é uma grande conquista da civilização contemporânea. Seu fundamento essencial é a separação entre Igreja e Estado, ou seja, o Estado laico. "A Deus o que é de Deus, a César o que é de César". Assuntos religiosos têm que ser tratados pelas religiões. Políticas públicas são questões de Estado.
O mesmo Estado laico que assegura a liberdade religiosa, impede que as crenças interfiram nas políticas públicas. Por esse motivo, as religiões podem manifestar livremente juízos de valor teológico sobre a homossexualidade, mas não podem impedir que o Estado brasileiro comece a pagar a dívida inaceitável que tem com a comunidade homossexual. Também não podem praticar condutas discriminatórias e incitação à violência.
A homossexualidade, para alguns, é pecado. Para outros, sem-vergonhice. Pensamos que não é nem uma coisa nem outra. É apenas uma das muitas faces da complexidade humana. À sociedade e ao Estado cabe respeitar a liberdade dos que possuem uma orientação sexual diferente. Diversas religiões entenderam isso, tanto que a Igreja Cristã Metropolitana e a Igreja Anglicana aceitam a homossexualidade, ordenando, inclusive, religiosos homossexuais para postos de destaque em suas fileiras.
As relações homoafetivas são um fato. Elas geram direitos e deveres. Em um Estado laico e democrático, podem e devem ser reconhecidas, como já aconteceu em diversos países social e juridicamente mais avançados.
O PL 122/2006 causa polêmica porque nossa sociedade ainda é marcada por traços machistas, sexistas e homofóbicos. Alguns setores ainda não aprenderam a conviver com o diferente, o que causa estranhamento em um país com tanta diversidade cultural, social e religiosa como o Brasil.
A "paz de cemitério" que reinava, até a década de 90, entre homofóbicos e as pessoas GLBT beneficiava apenas aos primeiros, em detrimento da dignidade e dos direitos humanos dos segundos. A invisibilidade dos homossexuais diminuiu sensivelmente com as paradas e as políticas públicas que, finalmente, começam a ser implementadas no Brasil. A maior parada gay do mundo reuniu mais de 3,5 milhões de pessoas em São Paulo, este ano, e mais de 30 mil aqui em Aracaju.
A visibilidade dos homossexuais trouxe consigo os conflitos. Mas o regime democrático não pode resolver esses conflitos oprimindo os homossexuais ou mantendo-os no anonimato. Ao contrário, deve fazê-lo alargando a cidadania, de sorte a incorporar os GLBTs.
Nesse contexto, o PL 122/2006 ajuda o Brasil a enfrentar a guerra desumana contra o preconceito e a discriminação. Representa um passo importante na caminhada em defesa da dignidade humana das pessoas GLBT. É, enfim, um projeto que homenageia o amor, em todas as suas cores.
Até onde me consta, não houve dificuldade para aprovação dessas matérias pelo Congresso Nacional. Todavia, no ano passado foi proposto o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados n. 122, que pretende ampliar mais uma vez os termos dessa lei, criminalizando agora as condutas que importem em discriminação por motivo de "gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero". E adivinhem o que aconteceu? Em vez de mobilização em torno da aprovação de um diploma que pode favorecer a cidadania, tratando a todos como iguais, e apesar de o PL ter sido aprovado na Câmara ainda em 2006, no Senado a mobilização é da bancada evangélica, que deseja ver punido apenas o preconceito quanto ao sexo, mas não orientação sexual.
Em suma, os evangélicos não veem mal nenhum nos atos cotidianos de menosprezo aos homossexuais. E, de quebra, querem impor ao país a sua forma de ver o mundo, condicionada por sua miopia religiosa. Pelo que vi, navegando em algumas páginas da Internet, a preocupação da turma é não poder emitir opinião nenhuma contrária ao homossexualismo, coisa que poderia atrapalhar as suas pregações. Ah, o maldito Estado laico!
Enquanto alguns parlamentares despreparados agem como se o Brasil fosse uma teocracia fundamentalista, o Deputado Federal Iran Barbosa (PT/SE), relator do projeto, que fora da política é professor de educação básica (tendo formação em História e Direito), emitiu um parecer favorável que é um libelo pela justiça e pelo amor. Na íntegra, com meus agradecimentos a Aline Beckman, que me enviou o texto:
Todas as cores do amor
"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e näo tivesse amor, (...) eu nada seria".
I Coríntios 13: 1-2.
A principal mensagem do evangelho de Jesus Cristo é o amor. Isso está evidente na máxima segundo a qual devemos "amar o próximo como a nós mesmos". O amor também é o fundamento da maioria das religiões, cristãs e não-cristãs.
Infelizmente, o amor cedeu espaço à intolerância na análise do PL 122/2006, em trâmite no Senado Federal, que torna crime a prática da homofobia.
A polêmica é falsa. Primeiro, porque o pleno exercício da sexualidade, livre de preconceito, discriminação e violência é um direito de todas as pessoas em um Estado Democrático de Direito, onde religião e políticas públicas não se confundem.
Segundo, porque a lei não instituirá comportamentos. Eles já existem. O PL 122/2006 apenas assegurará que as individualidades das pessoas homossexuais não sejam violadas pelos que não aceitam a livre orientação sexual e a identidade de gênero.
O Brasil é campeão de homofobia. Mais de uma centena de seres humanos são barbaramente assassinados anualmente apenas por serem homossexuais. Milhares de outros sofrem agressões físicas e psicológicas, diariamente, somente porque amam seus iguais.
Homossexualidade não é doença! Os gays são mais de 18 milhões de cidadãos e cidadãs tratados como seres de segunda categoria, pois têm os mesmos deveres mas não podem usufruir dos direitos garantidos aos heterossexuais.
O que o PL 122/2007 faz é eleger a integridade física e psicológica das pessoas gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (GLBT) à dignidade de bem jurídico tutelado pelo direito penal. Ou seja, ele criminaliza a homofobia, submetendo essa prática às mesmas penas previstas para o racismo. Seu grande mérito é desestimular comportamentos homofóbicos, em especial os crimes que hoje em dia são praticados com requintes de crueldade.
Interpretações baseadas em leituras fundamentalistas da Bíblia não podem inviabilizar a criminalização da homofobia. Os argumentos de que o PL atinge os princípios da liberdade de expressão e da liberdade religiosa também não se sustentam, já que o projeto apenas pune condutas e discursos discriminatórios. Se o racismo, a discriminação de gênero e a xenofobia já são crimes, por que não a homofobia?
O projeto não interfere na liberdade de culto ou de pregação religiosa. Essa liberdade é uma grande conquista da civilização contemporânea. Seu fundamento essencial é a separação entre Igreja e Estado, ou seja, o Estado laico. "A Deus o que é de Deus, a César o que é de César". Assuntos religiosos têm que ser tratados pelas religiões. Políticas públicas são questões de Estado.
O mesmo Estado laico que assegura a liberdade religiosa, impede que as crenças interfiram nas políticas públicas. Por esse motivo, as religiões podem manifestar livremente juízos de valor teológico sobre a homossexualidade, mas não podem impedir que o Estado brasileiro comece a pagar a dívida inaceitável que tem com a comunidade homossexual. Também não podem praticar condutas discriminatórias e incitação à violência.
A homossexualidade, para alguns, é pecado. Para outros, sem-vergonhice. Pensamos que não é nem uma coisa nem outra. É apenas uma das muitas faces da complexidade humana. À sociedade e ao Estado cabe respeitar a liberdade dos que possuem uma orientação sexual diferente. Diversas religiões entenderam isso, tanto que a Igreja Cristã Metropolitana e a Igreja Anglicana aceitam a homossexualidade, ordenando, inclusive, religiosos homossexuais para postos de destaque em suas fileiras.
As relações homoafetivas são um fato. Elas geram direitos e deveres. Em um Estado laico e democrático, podem e devem ser reconhecidas, como já aconteceu em diversos países social e juridicamente mais avançados.
O PL 122/2006 causa polêmica porque nossa sociedade ainda é marcada por traços machistas, sexistas e homofóbicos. Alguns setores ainda não aprenderam a conviver com o diferente, o que causa estranhamento em um país com tanta diversidade cultural, social e religiosa como o Brasil.
A "paz de cemitério" que reinava, até a década de 90, entre homofóbicos e as pessoas GLBT beneficiava apenas aos primeiros, em detrimento da dignidade e dos direitos humanos dos segundos. A invisibilidade dos homossexuais diminuiu sensivelmente com as paradas e as políticas públicas que, finalmente, começam a ser implementadas no Brasil. A maior parada gay do mundo reuniu mais de 3,5 milhões de pessoas em São Paulo, este ano, e mais de 30 mil aqui em Aracaju.
A visibilidade dos homossexuais trouxe consigo os conflitos. Mas o regime democrático não pode resolver esses conflitos oprimindo os homossexuais ou mantendo-os no anonimato. Ao contrário, deve fazê-lo alargando a cidadania, de sorte a incorporar os GLBTs.
Nesse contexto, o PL 122/2006 ajuda o Brasil a enfrentar a guerra desumana contra o preconceito e a discriminação. Representa um passo importante na caminhada em defesa da dignidade humana das pessoas GLBT. É, enfim, um projeto que homenageia o amor, em todas as suas cores.
Sentimentos por decreto
Já pensou se o governo pudesse editar uma lei obrigando você a amar uma certa pessoa? Ou a deixá-la? Ou se a tal lei determinasse que todos os pais e mães devem amar os seus filhos na mais pura igualdade, sem o menor laivo de preferência? Ou, ainda, determinando que todos somos obrigados a nos sentir realizados no trabalho que hoje desempenhamos?
Você dirá que qualquer uma dessas proposições é absurda e simplesmente inviável, porque irreal, porque desatende ao que se passa no coração e na mente das pessoas. Concordo. E vou além: afirmo que a essas proposições se equivale à proposta de mudar a legislação de trânsito, para determinar que os causadores de acidentes sejam considerados autores de crimes necessariamente dolosos. O tema sempre vem à tona quando acidentes dramáticos magoam a sociedade. E o número de acidentes sempre aumenta nos feriadões.
Para quem não está habituado à linguagem jurídica, uma síntese rasteira: dolo é a vontade de praticar uma conduta (ação ou omissão) que se avalia como danosa a alguém. Como toda vontade, pressupõe um conhecimento sobre o objeto, porque não se pode querer aquilo que se desconhece. Já a culpa é a efetiva prática de um dano que não se desejou, mas que acabou ocorrendo porque o indivíduo realizou conduta descuidada e perigosa, abdicando de procedimentos de cautela que qualquer um tomaria na situação em que o agente se encontrava.
Uma pessoa que manipula uma arma de fogo carregada e permite que ela dispare, matando alguém às proximidades, tanto pode ter agido com dolo quanto com culpa. O mesmo se diga de quem, no mês de julho, solta um balão e provoca um incêndio de largas proporções. Ou quem convida uma pessoa para atravessar um rio, ciente de que a mesma não se sentia segura para nadar, e cria as condições para um afogamento, que acaba se consumando. Somente em cada caso concreto podemos avaliar se o agente teve dolo ou culpa. Não posso predeterminar isso por lei. À toda evidência, nos delitos de trânsito, o mesmo raciocínio deve ser utilizado. Por que seria diferente?
Esclareço que não tenho nenhum interesse na prevalência de qualquer tese, seja profissional, seja pessoal. Não sou vítima nem causador de acidente, nem parente ou amigo de vítimas ou de causadores de acidentes. Jamais advoguei nessa área. Minha preocupação advém da minha condição de professor e significa tornar clara a racionalidade que deve presidir as decisões penais. Em qualquer caso, contudo, sou solidário às vítimas e a quem as cerca e entendo que os culpados devem ser punidos exemplarmente, porém de acordo com o que realmente fizeram.
Além da perda de racionalidade, custaria caro à clientela do Direito Penal se pré-estabelecêssemos este ou aquele estado mental para um indivíduo. Aqui não há espaço para agir com o coração. Podemos ter o desejo de ver o assassino de nosso ente amado 20 anos na cadeia. Mas se o crime foi culposo, foi culposo e ponto final. No máximo, 3 anos de detenção. Da mesma forma que quem surrupia nossa carteira, furtivamente, levando todo o salário do mês e nos deixando na indigência, deve ser condenado por furto e não roubo, já que não praticou violência.
Estas são alegações muitíssimo incipientes. À medida que as pessoas se manifestem, podemos conversar mais demoradamente a respeito.
Você dirá que qualquer uma dessas proposições é absurda e simplesmente inviável, porque irreal, porque desatende ao que se passa no coração e na mente das pessoas. Concordo. E vou além: afirmo que a essas proposições se equivale à proposta de mudar a legislação de trânsito, para determinar que os causadores de acidentes sejam considerados autores de crimes necessariamente dolosos. O tema sempre vem à tona quando acidentes dramáticos magoam a sociedade. E o número de acidentes sempre aumenta nos feriadões.
Para quem não está habituado à linguagem jurídica, uma síntese rasteira: dolo é a vontade de praticar uma conduta (ação ou omissão) que se avalia como danosa a alguém. Como toda vontade, pressupõe um conhecimento sobre o objeto, porque não se pode querer aquilo que se desconhece. Já a culpa é a efetiva prática de um dano que não se desejou, mas que acabou ocorrendo porque o indivíduo realizou conduta descuidada e perigosa, abdicando de procedimentos de cautela que qualquer um tomaria na situação em que o agente se encontrava.
Uma pessoa que manipula uma arma de fogo carregada e permite que ela dispare, matando alguém às proximidades, tanto pode ter agido com dolo quanto com culpa. O mesmo se diga de quem, no mês de julho, solta um balão e provoca um incêndio de largas proporções. Ou quem convida uma pessoa para atravessar um rio, ciente de que a mesma não se sentia segura para nadar, e cria as condições para um afogamento, que acaba se consumando. Somente em cada caso concreto podemos avaliar se o agente teve dolo ou culpa. Não posso predeterminar isso por lei. À toda evidência, nos delitos de trânsito, o mesmo raciocínio deve ser utilizado. Por que seria diferente?
Esclareço que não tenho nenhum interesse na prevalência de qualquer tese, seja profissional, seja pessoal. Não sou vítima nem causador de acidente, nem parente ou amigo de vítimas ou de causadores de acidentes. Jamais advoguei nessa área. Minha preocupação advém da minha condição de professor e significa tornar clara a racionalidade que deve presidir as decisões penais. Em qualquer caso, contudo, sou solidário às vítimas e a quem as cerca e entendo que os culpados devem ser punidos exemplarmente, porém de acordo com o que realmente fizeram.
Além da perda de racionalidade, custaria caro à clientela do Direito Penal se pré-estabelecêssemos este ou aquele estado mental para um indivíduo. Aqui não há espaço para agir com o coração. Podemos ter o desejo de ver o assassino de nosso ente amado 20 anos na cadeia. Mas se o crime foi culposo, foi culposo e ponto final. No máximo, 3 anos de detenção. Da mesma forma que quem surrupia nossa carteira, furtivamente, levando todo o salário do mês e nos deixando na indigência, deve ser condenado por furto e não roubo, já que não praticou violência.
Estas são alegações muitíssimo incipientes. À medida que as pessoas se manifestem, podemos conversar mais demoradamente a respeito.
domingo, 18 de novembro de 2007
Parado na blitz
Pedro Álvares Cabral, entre Júlio César e Rodolfo Chermont, sentido Centro-Entroncamento, antes das dez da manhã. Avistei os cones na pista e os policiais militares. Logo um deles me fez sinal. Encostei. Dois agentes haviam gesticulado, por isso fiquei olhando de um para o outro, esperando que me esclarecessem com qual deveria falar. Nenhum me esclareceu nada. O mais próximo, ao meu lado, deu uns passos em minha direção, com uma cara de bunda (diria o meu irmão). Parou e ficou me encarando. Aguardei uns segundos, mas como ele não se dirigiu a mim, abri o vidro. Somente aí ele me pediu os documentos. Nenhum bom dia, nenhuma explicação.
Entreguei minha habilitação e o documento do carro. Ele os examinou e me devolveu, fitando-me com aquela mesma expressão que eu definiria como desprezo. Não agradeceu, não me deu bom dia nem me mandou prosseguir. Enfim, não me disse absolutamente nada.
Por considerar importante que tais blitzen ocorram, pois elas são necessárias para coibir e desarmar criminosos, inviabilizar crimes em andamento e, mesmo, flagrar os félas que andam sem placas, agradeci e desejei bom dia ao policial, o qual já me dera as costas.
Em um país civilizado, o agente abordaria o cidadão com uma saudação respeitosa e explicaria o motivo da diligência. Diria que o incômodo é necessário para a segurança de todos. Já fui abordado dessa forma e posso assegurar que você se sente muito melhor. Pode sentir até alguma simpatia pelo policial, já que você se sente atendido, de algum modo, pelo Estado, normalmente omisso.
Temos muito a avançar. Vivemos a repetir isso. Mas em um lugar onde até bem pouco tempo atrás mal se via polícia na rua, topar com policiais mal educados já é lucro. Deprimente dizer isso, mas é melhor do que nada. Pelo menos, por alguns metros, quero crer que fiquei livre do risco de ser assaltado.
Quem sabe na próxima eu ganho um bom dia?
Entreguei minha habilitação e o documento do carro. Ele os examinou e me devolveu, fitando-me com aquela mesma expressão que eu definiria como desprezo. Não agradeceu, não me deu bom dia nem me mandou prosseguir. Enfim, não me disse absolutamente nada.
Por considerar importante que tais blitzen ocorram, pois elas são necessárias para coibir e desarmar criminosos, inviabilizar crimes em andamento e, mesmo, flagrar os félas que andam sem placas, agradeci e desejei bom dia ao policial, o qual já me dera as costas.
Em um país civilizado, o agente abordaria o cidadão com uma saudação respeitosa e explicaria o motivo da diligência. Diria que o incômodo é necessário para a segurança de todos. Já fui abordado dessa forma e posso assegurar que você se sente muito melhor. Pode sentir até alguma simpatia pelo policial, já que você se sente atendido, de algum modo, pelo Estado, normalmente omisso.
Temos muito a avançar. Vivemos a repetir isso. Mas em um lugar onde até bem pouco tempo atrás mal se via polícia na rua, topar com policiais mal educados já é lucro. Deprimente dizer isso, mas é melhor do que nada. Pelo menos, por alguns metros, quero crer que fiquei livre do risco de ser assaltado.
Quem sabe na próxima eu ganho um bom dia?
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Crianças do século XXI
Esta é verídica e foi contada a minha esposa por uma amiga.
Estava ela em casa, tomando café da manhã com o neto, uma criança de 3 anos. Em dado momento, o menino disse que faria o café e perguntou à avó se ela compraria o café dele. Concordando, a avó pegou uns papeis e disse que aquele era o seu dinheiro.
— Não, vovó — retrucou o garoto, em seu jeito infantil de falar.
Ele se levantou, pegou um pedaço de cartolina e começou a passá-lo na fresta da madeira de uma cadeira e disse:
— Passa cartão!
É, as crianças do século XXI nos surpreendem com esse tipo de comportamento, mas talvez porque nós ainda estejamos com a cabeça um pouco no passado. Se pararmos para pensar, a atitude do menino não é verdadeiramente surpreendente, pois ele agiu de acordo com o que vê ao seu redor, cotidianamente. As crianças de hoje são naturalmente mais adaptadas a tecnologias que pessoas de nossa geração só conheceram a certa altura da vida.
Se não nos cuidarmos, acabaremos obsoletos. Não com a tecnologia e sim com as crianças.
Estava ela em casa, tomando café da manhã com o neto, uma criança de 3 anos. Em dado momento, o menino disse que faria o café e perguntou à avó se ela compraria o café dele. Concordando, a avó pegou uns papeis e disse que aquele era o seu dinheiro.
— Não, vovó — retrucou o garoto, em seu jeito infantil de falar.
Ele se levantou, pegou um pedaço de cartolina e começou a passá-lo na fresta da madeira de uma cadeira e disse:
— Passa cartão!
É, as crianças do século XXI nos surpreendem com esse tipo de comportamento, mas talvez porque nós ainda estejamos com a cabeça um pouco no passado. Se pararmos para pensar, a atitude do menino não é verdadeiramente surpreendente, pois ele agiu de acordo com o que vê ao seu redor, cotidianamente. As crianças de hoje são naturalmente mais adaptadas a tecnologias que pessoas de nossa geração só conheceram a certa altura da vida.
Se não nos cuidarmos, acabaremos obsoletos. Não com a tecnologia e sim com as crianças.
quinta-feira, 15 de novembro de 2007
A culpa é da Veja
Como todos sabemos, a revista Veja enxerga o mundo em tons de marrom. Dentre as suas muitas preocupações diuturnas, está infernizar o PT, Lula e outras pessoas que, sabe-se lá por quê, pisaram no calo da insuspeita publicação. A governadora Ana Júlia é uma delas. Por isso, no início do ano, foi dada enorme repercussão a um decreto de ponto facultativo que, segundo teria explicado a governadora, apenas sacramentava uma praxe estabelecida há anos no Estado. Ou seja, da noite para o dia o paraense virou um vagabundo de carteirinha. A explicação da autoridade, de fato, não foi lá muito feliz.
Amanhã, quando milhares de servidores públicos estaduais tiverem que acordar para trabalhar, numa sexta-feira imprensada, porque o governo do Estado se recusou a facultar o ponto, agradeçam à Veja. Há pedradas que o governo pode evitar de levar.
PS — Deixo claro que, pessoalmente, desaprovo essa institucionalização brasileira da malandragem. Se o feriado é na quinta, ele termina à meia-noite de quinta. Não há razão para enforcar a sexta-feira. Mesmo sabendo que me odiarão por dizer isso, sinto-me à vontade para fazê-lo, pois sou da raia miúda e não empregador. A vagabundagem generalizada custa caro ao desenvolvimento do país. E aumenta as mortes nas estradas.
Amanhã, quando milhares de servidores públicos estaduais tiverem que acordar para trabalhar, numa sexta-feira imprensada, porque o governo do Estado se recusou a facultar o ponto, agradeçam à Veja. Há pedradas que o governo pode evitar de levar.
PS — Deixo claro que, pessoalmente, desaprovo essa institucionalização brasileira da malandragem. Se o feriado é na quinta, ele termina à meia-noite de quinta. Não há razão para enforcar a sexta-feira. Mesmo sabendo que me odiarão por dizer isso, sinto-me à vontade para fazê-lo, pois sou da raia miúda e não empregador. A vagabundagem generalizada custa caro ao desenvolvimento do país. E aumenta as mortes nas estradas.
Técnica de convencimento
Nesta cidade, em diversos cruzamentos, quando paramos, somos abordados por uma miríade de vendedores, limpadores de vidro, malabaristas, pedintes, etc. A novidade para mim, hoje, foi encontrá-los na Júlio César com a Pedro Álvares Cabral uniformizados. O uniforme consiste numa camiseta branca com a legenda JUSTIÇA! e a conhecida fotografia dos irmãos Novelino, que também estampa alguns outdoors.
Camisetas aludindo a vítimas de crimes rumorosos ou a movimentos surgidos em decorrência deles não são novidade. Mas costumam ser envergadas pelos familiares e amigos próximos, pessoas que assumem a causa ou, ainda, por quem tenha ligação com instituições especialmente interessadas.
Nunca antes vira gente ser cooptada para usar uma roupa expressiva de uma mensagem que, convenhamos, não deve ser preocupação de quem a veste. Acredito que seja uma teste de marketing criada pela família, a fim de criar em toda a população a percepção de que cada indivíduo, sem exceção, está pessoalmente interessado no desfecho do julgamento. Por mais respeito que tenhamos pela família enlutada, isso não é verdade. Se perguntarmos ao próprio vendedor que usa a camiseta se ela pensa no assunto, talvez escutemos que ele tem mais urgência em conseguir dinheiro para levar para casa. Ou em vender suas frutas, antes que estraguem.
Essa manobra para nos convencer de que estamos todos empenhados num grito por justiça poderia ter, creio, apenas um efeito: influenciar no ânimo dos sete jurados que decidirão a sorte dos réus. Quanto mais eles acreditarem que precisam condenar exemplarmente os réus, maior a chance de isso se concretizar.
Não recrimino a família Novelino. No lugar deles, e dispondo dos recursos de que dispõem, talvez fizesse a mesma coisa. Só me incomoda a manipulação. Por isso, é mais provável que eu usasse a penetração que possuem junto aos meios de comunicação e instituições públicas para fazer apelos ostensivos por justiça. Mas sem a necessidade de tentar convencer cada motorista de ônibus, motoboy ou desempregado da cidade de que é nisso que ele está pensando hoje,
Camisetas aludindo a vítimas de crimes rumorosos ou a movimentos surgidos em decorrência deles não são novidade. Mas costumam ser envergadas pelos familiares e amigos próximos, pessoas que assumem a causa ou, ainda, por quem tenha ligação com instituições especialmente interessadas.
Nunca antes vira gente ser cooptada para usar uma roupa expressiva de uma mensagem que, convenhamos, não deve ser preocupação de quem a veste. Acredito que seja uma teste de marketing criada pela família, a fim de criar em toda a população a percepção de que cada indivíduo, sem exceção, está pessoalmente interessado no desfecho do julgamento. Por mais respeito que tenhamos pela família enlutada, isso não é verdade. Se perguntarmos ao próprio vendedor que usa a camiseta se ela pensa no assunto, talvez escutemos que ele tem mais urgência em conseguir dinheiro para levar para casa. Ou em vender suas frutas, antes que estraguem.
Essa manobra para nos convencer de que estamos todos empenhados num grito por justiça poderia ter, creio, apenas um efeito: influenciar no ânimo dos sete jurados que decidirão a sorte dos réus. Quanto mais eles acreditarem que precisam condenar exemplarmente os réus, maior a chance de isso se concretizar.
Não recrimino a família Novelino. No lugar deles, e dispondo dos recursos de que dispõem, talvez fizesse a mesma coisa. Só me incomoda a manipulação. Por isso, é mais provável que eu usasse a penetração que possuem junto aos meios de comunicação e instituições públicas para fazer apelos ostensivos por justiça. Mas sem a necessidade de tentar convencer cada motorista de ônibus, motoboy ou desempregado da cidade de que é nisso que ele está pensando hoje,
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Com a palavra, as mulheres

(...) Toda mulher tem que ser despudorada na cama, se não for, o casal se trava, ainda mais hoje em dia que tudo é tão aberto. Mas sei que sou uma minoria. Na nossa sociedade, ainda deve ter muita mulher infeliz, que não sabe o que é gozar, que não tem fantasias realizadas".
Flávia Alessandra, 33, atriz carioca, em entrevista recente
Vida sem perspectivas
Ontem, quase à meia noite, eu e minha esposa paramos em frente a uma loja, a fim de entrar no carro. Lancei um breve olhar à vitrine. Apesar de breve, esse olhar foi percebido pelo flanelinha que se aproximava e foi logo explicando que o traje composto no manequim custava, ao todo, mais de 900 reais. Tratava-se de camisa, uma jaqueta (para o clima de Belém?) e calças jeans. Ele sabia dizer o preço de cada peça e o somatório.
Perguntamo-nos, no trajeto para casa, se ele conhecia aqueles valores apenas porque os via o tempo todo, porque passa muitas horas em frente à loja, ou se, talvez, ele já se postou diante da vitrine sonhando em, um dia, poder cobrir o corpo com uma beca daquelas.
Se sonhou, convenhamos, é um sonho com remotas possibilidades de realização. E isso sempre foi algo que me assustou muito: pior do que ter ou não ter dinheiro para alguma coisa, é não ter a perspectiva de mudar a conjuntura em que nos encontramos, não vislumbrar uma vida diferente, uma melhoria à frente. Já pensou? Você se imagina daqui a cinco, oito anos, e o que vê é a mesmíssima situação de agora. Para mim, é assustador.
Assim pensando, até senti alguma simpatia pelo flanelinha sem nome, que falou comigo tão educadamente. Até me arrependi um pouco pelos 75 centavos que lhe dei, mesmo consciente de não precisar dar-lhe absolutamente nada. É da minha natureza me condoer com as misérias humanas. Não suporto ter que conviver com essas disparidades: frente à frente, a opulência e a penúria, coexistindo como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Não é. Ao me deitar para dormir, pairava ante meus olhos uma imagem fictícia do flanelinha olhando fixamente aquele manequim. E depois indo embora, arrastando suas sandálias. Como seria bom se ele pudesse, amanhã, conseguir ao menos uma fonte de renda honesta capaz de lhe suprir as necessidades.
Bom seria.
Perguntamo-nos, no trajeto para casa, se ele conhecia aqueles valores apenas porque os via o tempo todo, porque passa muitas horas em frente à loja, ou se, talvez, ele já se postou diante da vitrine sonhando em, um dia, poder cobrir o corpo com uma beca daquelas.
Se sonhou, convenhamos, é um sonho com remotas possibilidades de realização. E isso sempre foi algo que me assustou muito: pior do que ter ou não ter dinheiro para alguma coisa, é não ter a perspectiva de mudar a conjuntura em que nos encontramos, não vislumbrar uma vida diferente, uma melhoria à frente. Já pensou? Você se imagina daqui a cinco, oito anos, e o que vê é a mesmíssima situação de agora. Para mim, é assustador.
Assim pensando, até senti alguma simpatia pelo flanelinha sem nome, que falou comigo tão educadamente. Até me arrependi um pouco pelos 75 centavos que lhe dei, mesmo consciente de não precisar dar-lhe absolutamente nada. É da minha natureza me condoer com as misérias humanas. Não suporto ter que conviver com essas disparidades: frente à frente, a opulência e a penúria, coexistindo como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Não é. Ao me deitar para dormir, pairava ante meus olhos uma imagem fictícia do flanelinha olhando fixamente aquele manequim. E depois indo embora, arrastando suas sandálias. Como seria bom se ele pudesse, amanhã, conseguir ao menos uma fonte de renda honesta capaz de lhe suprir as necessidades.
Bom seria.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
O sistema
Agora que o Arbítrio está sendo visitado por filósofos, é melhor subir o nível dos temas. Brincadeiras à parte, navegando pelo Observatório da Imprensa encontrei um artigo muito interessante sobre o novo seriado humorístico da Rede Globo, O sistema. Criação de profissionais da melhor qualidade no ramo — o diretor José Lavigne e os roteiristas Alexandre Machado e Fernanda Young —, o programa não leva a ninguém a rir desbragadamente (a julgar apenas pelo primeiro episódio e pelo primeiro bloco do segundo — foi só o que vi), mas decididamente não é coisas para os rets de plantão, que desligam o cérebro para ver TV ou ir ao cinema. Há inteligência no ar, apesar da linguagem previsivelmente exagerada, como se vê por um Ney Latorraca de fralda.
O fato é que produtos televisivos, quando bem pensados, podem gerar discussões muitíssimo interessantes, como esta acerca de um sistema como um ente com existência própria, externa e superior aos seres humanos e, por isso mesmo, insuscetível de ser vencido.
Leia a ótima resenha aqui.
O fato é que produtos televisivos, quando bem pensados, podem gerar discussões muitíssimo interessantes, como esta acerca de um sistema como um ente com existência própria, externa e superior aos seres humanos e, por isso mesmo, insuscetível de ser vencido.
Leia a ótima resenha aqui.
"Ela é rica e bonita"
Maria Cláudia Del'Isola (foto) era bonita, tinha uma boa família, dinheiro, cursava faculdades de Peda
gogia e de Psicologia, divertia-se com amigos. Tinha uma vida adorável, o tipo de coisa que desperta inveja. E despertou. No dia 9.12.2004, a empregada da residência de Maria Cláudia, Adriana de Jesus Santos, convenceu seu namorado e também caseiro no local, Bernardino do Espírito Santo Filho, a estuprar e assassinar a moça, que então contava 19 anos.

Amarrada com fios, a vítima sofreu abusos sexuais diversos e foi morta a golpes de faca e pá, numa ação premeditada. Posteriormente, foi enterrada sob uma escada da própria casa, uma residência luxuosa do Lago Sul, em Brasília. Os dois homicidas permaneceram na casa como se nada tivesse acontecido.
Segundo se apurou depois, Adriana ficou com ciúme ao perceber que Bernardino, que já tinha histórico de violência sexual, sentia-se atraído pela jovem patroa. A inaceitação pessoal foi poderosa: ela não suportou o fato de Maria Cláudia ser "rica e bonita" enquanto ela era "pobre e feia". Além disso, havia também a motivação econômica, que os levou a forçar a vítima a fornecer a senha do cofre.
A princípio, Maria Cláudia foi dada como desaparecida. O corpo somente foi encontrado devido ao mau cheiro, já no dia 12. Bernardino se evadira para a Bahia, mas acabou preso, delatado por Adriana, que segundo a polícia confessou o delito falando "sempre com muita arrogância e muito desprezo".
Ontem, o tribunal do júri — que representa a própria comunidade afetada pelo crime convidada a participar da jurisdição, poder inerente ao Estado — decidiu condenar Adriana a 58 anos de reclusão. Foram 30 anos por homicídio qualificado, 12 anos e seis meses por estupro, pena igual por atentado violento ao pudor e mais três anos por ocultação de cadáver.
Bernardino deve ser julgado no próximo dia 10 de dezembro.
Não é brincadeira a natureza humana.
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Por pouco
Retorno para dizer que, por pouco, os senhores não ficaram sem atualizações neste blog. Ontem, por volta das 21 horas, parei no cruzamento da Av. Brigadeiro Protásio com a Dr. Freitas. Como finalmente alguém percebeu que devia reajustar o tempo do semáforo da Duque, naquela confluência, o ridículo intervalo de 12 segundos subiu para 30 segundos, provocando a diminuição do congestionamento diário. Não sei se o tempo das outras vias mudou também.
O fato é que eu já estava parado há algum tempo e até comentei com minha esposa sobre a demora, para quem estava no ponto em que nos encontrávamos. Foi quando o sinal abriu para mim. Vi que, no sentido em que eu trafegava, o tempo era de 28 segundos. Nesse instante, um motociclista avançou o sinal vermelho, no sentido Dr. Freitas-Duque. Ele e sua carona estavam sem capacete. Apontei o irresponsável e me pus em movimento. Fui o primeiro veículo a avançar e, dali a pouco, escutei uma buzina apertada à toda. Surpreso, olhei para a esquerda e vi um Corsa, modelo antigo, cor escura, aproximando-se. Ou seja, ele avançou o sinal fechado na maior cara dura, pois vinha atrás da moto que, por sua vez, já tinha avançado também.
Passei sem maiores problemas, mas se eu tivesse saído um pouco mais lentamente ou se o animal viesse com maior velocidade — o que seria de se esperar de alguém que fura deliberadamente o sinal — a colisão teria ocorrido. Ele teria atingido o meu carro em cheio, ficando o impacto diretamente sobre mim.
Chegamos em casa com segurança, a despeito de tudo, agradecendo a Deus. O que mais me assustou foi um fator que pode incidir sobre qualquer um de nós: eu simplesmente não vi o carro! Não estava distraído. Pelo contrário. Prestei atenção num motociclista que parou perto de mim, no motociclista que avançou o sinal vindo do mesmo lado, no semáforo e até em pedestres, mas simplesmente não vi o tal carro. E isso provavelmente porque confiei que, com o semáforo me garantindo, eu podia passar.
Em suma, não podemos confiar. Temos que adivinhar e tomar cautelas excepcionais para nos proteger desses calhordas, desgraçados com instinto suicida e assassino, que numa fração de segundo pode mudar completamente as nossas vidas. Ou acabar com elas.
Redobre você também a sua cautela. No trânsito, vale a filosofia Arquivo X: não confie em ninguém.
O fato é que eu já estava parado há algum tempo e até comentei com minha esposa sobre a demora, para quem estava no ponto em que nos encontrávamos. Foi quando o sinal abriu para mim. Vi que, no sentido em que eu trafegava, o tempo era de 28 segundos. Nesse instante, um motociclista avançou o sinal vermelho, no sentido Dr. Freitas-Duque. Ele e sua carona estavam sem capacete. Apontei o irresponsável e me pus em movimento. Fui o primeiro veículo a avançar e, dali a pouco, escutei uma buzina apertada à toda. Surpreso, olhei para a esquerda e vi um Corsa, modelo antigo, cor escura, aproximando-se. Ou seja, ele avançou o sinal fechado na maior cara dura, pois vinha atrás da moto que, por sua vez, já tinha avançado também.
Passei sem maiores problemas, mas se eu tivesse saído um pouco mais lentamente ou se o animal viesse com maior velocidade — o que seria de se esperar de alguém que fura deliberadamente o sinal — a colisão teria ocorrido. Ele teria atingido o meu carro em cheio, ficando o impacto diretamente sobre mim.
Chegamos em casa com segurança, a despeito de tudo, agradecendo a Deus. O que mais me assustou foi um fator que pode incidir sobre qualquer um de nós: eu simplesmente não vi o carro! Não estava distraído. Pelo contrário. Prestei atenção num motociclista que parou perto de mim, no motociclista que avançou o sinal vindo do mesmo lado, no semáforo e até em pedestres, mas simplesmente não vi o tal carro. E isso provavelmente porque confiei que, com o semáforo me garantindo, eu podia passar.
Em suma, não podemos confiar. Temos que adivinhar e tomar cautelas excepcionais para nos proteger desses calhordas, desgraçados com instinto suicida e assassino, que numa fração de segundo pode mudar completamente as nossas vidas. Ou acabar com elas.
Redobre você também a sua cautela. No trânsito, vale a filosofia Arquivo X: não confie em ninguém.
Soy contra!
A primeira vez que escutei a expressão "Hay gobierno? Soy contra!", não aquilatei muito bem o seu alcance. Mas depois fui para a UFPA e aí, digamos, as minhas percepções foram desanuviadas. Afinal, ali o que mais tem é gente contrária a... a... a o que mesmo?
Mais uma vez foi realizada a prova do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes — ENADE e, mais uma vez, houve protestos, confusão e recomendação de boicote. Em Belém, para variar, até desforço físico. E tudo isso para quê? Por que o ENADE não avalia! Todavia, é o caso de perguntar, se não avalia, o que poderia ser usado como instrumento de avaliação? Penso que seria minimamente sensato, da parte dos opositores, oferecer uma proposta que pudesse ser apreciada. Mas se as coisas não mudaram na política estudantil nos últimos quinze anos, aposto que os queixosos são contra e nada têm a oferecer. Querem apenas acabar com a medida, já que é do governo.
Há muitos senões a se levantar quanto ao Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior — SINAES, mas considero um avanço haver uma política oficial com essa finalidade. E como toda avaliação, ela nunca é plena e definitiva, mas deve ser discutida durante o processo. Essa é a única forma de a medida ter uma chance de ser bem sucedida. Mas não para os revolucionários, claro.
Considero justa, entretanto, a reclamação contra o impedimento imposto ao aluno faltoso, no que tange ao recebimento de sua documentação acadêmica. Primeiro porque cria distinção entre as pessoas, eis que não se trata de obrigação a todos imposta. Se sou selecionado, ganho o ônus de ter que realizar mais atos para concluir meu curso validamente do que os demais colegas. O maior argumento, contudo, diz respeito a possível ilegalidade. Afinal, ninguém é obrigado a submeter-se a imposições que não tenham como suporte a lei.
Em página específica na internet, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira — INEP, vinculado ao Ministério da Educação e responsável pelo SINAES, informa que o ENADE "é componente curricular obrigatório dos cursos de graduação, sendo o registro de participação condição indispensável para a emissão do histórico escolar" e que "a participação do estudante selecionado no Enade é condição indispensável para a emissão do histórico escolar". Aduz que "o estudante selecionado que não realizou a prova não poderá receber o seu diploma enquanto não regularizar a sua situação junto ao Enade."
O exame é regulamentado pela Portaria n. 107, de 2004, cujo art. 6º determina que "Os estudantes selecionados pelo INEP para participarem do ENADE deverão comparecer e realizar, obrigatoriamente, o Exame, no dia e hora definidos em calendário, para terem o registro no seu histórico escolar sobre sua situação no ENADE, de acordo com o artigo 28 da Portaria Nº 2.051, de 09 de julho de 2004, do Ministro do Estado da Educação".
Ocorre que uma portaria não supre a exigência de lei, em sentido estrito, a menos que uma lei em sentido estrito autorize expressamente a emissão da tal portaria. E quando examinamos a Lei n. 10.861, de 2004, o que encontramos em seu art. 5º, § 5º, é o seguinte: "O ENADE é componente curricular obrigatório dos cursos de graduação, sendo inscrita no histórico escolar do estudante somente a sua situação regular com relação a essa obrigação, atestada pela sua efetiva participação ou, quando for o caso, dispensa oficial pelo Ministério da Educação, na forma estabelecida em regulamento."
Em suma, realmente fiquei com sérias dúvidas quanto à legalidade dessa obrigação.
Mais uma vez foi realizada a prova do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes — ENADE e, mais uma vez, houve protestos, confusão e recomendação de boicote. Em Belém, para variar, até desforço físico. E tudo isso para quê? Por que o ENADE não avalia! Todavia, é o caso de perguntar, se não avalia, o que poderia ser usado como instrumento de avaliação? Penso que seria minimamente sensato, da parte dos opositores, oferecer uma proposta que pudesse ser apreciada. Mas se as coisas não mudaram na política estudantil nos últimos quinze anos, aposto que os queixosos são contra e nada têm a oferecer. Querem apenas acabar com a medida, já que é do governo.
Há muitos senões a se levantar quanto ao Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior — SINAES, mas considero um avanço haver uma política oficial com essa finalidade. E como toda avaliação, ela nunca é plena e definitiva, mas deve ser discutida durante o processo. Essa é a única forma de a medida ter uma chance de ser bem sucedida. Mas não para os revolucionários, claro.
Considero justa, entretanto, a reclamação contra o impedimento imposto ao aluno faltoso, no que tange ao recebimento de sua documentação acadêmica. Primeiro porque cria distinção entre as pessoas, eis que não se trata de obrigação a todos imposta. Se sou selecionado, ganho o ônus de ter que realizar mais atos para concluir meu curso validamente do que os demais colegas. O maior argumento, contudo, diz respeito a possível ilegalidade. Afinal, ninguém é obrigado a submeter-se a imposições que não tenham como suporte a lei.
Em página específica na internet, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira — INEP, vinculado ao Ministério da Educação e responsável pelo SINAES, informa que o ENADE "é componente curricular obrigatório dos cursos de graduação, sendo o registro de participação condição indispensável para a emissão do histórico escolar" e que "a participação do estudante selecionado no Enade é condição indispensável para a emissão do histórico escolar". Aduz que "o estudante selecionado que não realizou a prova não poderá receber o seu diploma enquanto não regularizar a sua situação junto ao Enade."
O exame é regulamentado pela Portaria n. 107, de 2004, cujo art. 6º determina que "Os estudantes selecionados pelo INEP para participarem do ENADE deverão comparecer e realizar, obrigatoriamente, o Exame, no dia e hora definidos em calendário, para terem o registro no seu histórico escolar sobre sua situação no ENADE, de acordo com o artigo 28 da Portaria Nº 2.051, de 09 de julho de 2004, do Ministro do Estado da Educação".
Ocorre que uma portaria não supre a exigência de lei, em sentido estrito, a menos que uma lei em sentido estrito autorize expressamente a emissão da tal portaria. E quando examinamos a Lei n. 10.861, de 2004, o que encontramos em seu art. 5º, § 5º, é o seguinte: "O ENADE é componente curricular obrigatório dos cursos de graduação, sendo inscrita no histórico escolar do estudante somente a sua situação regular com relação a essa obrigação, atestada pela sua efetiva participação ou, quando for o caso, dispensa oficial pelo Ministério da Educação, na forma estabelecida em regulamento."
Em suma, realmente fiquei com sérias dúvidas quanto à legalidade dessa obrigação.
Caravanas?
Tudo bem que se queira colocar telões do lado de fora do salão onde o tribunal do júri julgará os réus do "caso Novelino". Não seria a primeira vez que julgamentos rumorosos são tratados dessa forma. Mas de onde nasceu a expectativa de que "várias caravanas do interior do Estado" virão a Belém para acompanhar o acontecimento, como noticia hoje o Repórter Diário? No caso Eldorado do Carajás havia mais de 150 réus, tornando a medida necessária porque nem sequer as famílias dos acusados poderiam acompanhar a sessão de outra forma. E quanto ao caso Dorothy Stang, trata-se de crime relacionado aos conflitos agrários que, no Pará, são meio de cultura para atrocidades de todo tipo. As caravanas eram de agricultores.
Quanto ao julgamento dos acusados de matar os Novelino, quem seriam essas tantas pessoas interessadas em vir de longe para acompanhar o julgamento? Será que já existem tantas faculdades de Direito no interior do Estado? A menos que eu esteja muito desinformado, além dos familiares (por motivos óbvios), os estudantes teriam interesse em acompanhar de perto. Decerto que há muita gente profundamente interessada no desfecho dos acontecimentos mas... não vão querer aparecer, certo?
PS — Enquanto isso, o outro jornal noticia que o acesso do público ao plenário do tribunal do júri será livre, dispondo de 200 vagas para quem quiser. Isso destoa completamente da sugestão de um julgamento concorrido pois, se assim o fosse, haveria a necessidade de restrição de acesso.
Quanto ao julgamento dos acusados de matar os Novelino, quem seriam essas tantas pessoas interessadas em vir de longe para acompanhar o julgamento? Será que já existem tantas faculdades de Direito no interior do Estado? A menos que eu esteja muito desinformado, além dos familiares (por motivos óbvios), os estudantes teriam interesse em acompanhar de perto. Decerto que há muita gente profundamente interessada no desfecho dos acontecimentos mas... não vão querer aparecer, certo?
PS — Enquanto isso, o outro jornal noticia que o acesso do público ao plenário do tribunal do júri será livre, dispondo de 200 vagas para quem quiser. Isso destoa completamente da sugestão de um julgamento concorrido pois, se assim o fosse, haveria a necessidade de restrição de acesso.
domingo, 11 de novembro de 2007
Incrível!
Diante do título da postagem, o que você pensou? Provavelmente, em algo grandioso, extraordinário, estarrecedor. Duvido que lhe tenha passado pela cabeça a ideia de algo que não ofereça credibilidade ou confiança.
Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss:
Não é difícil perceber como o sentido originário da palavra migrou para o que mais se conhece hoje em dia. Afinal, algo fora do normal é mesmo difícil ou até impossível de acreditar. Daí, incrível. O problema é que, pelo menos aqui no Brasil, o sentido por derivação se tornou tão importante que acabou por anular o sentido original. Se eu, p. ex., numa aula, falasse algo como "No processo, foi ouvida uma testemunha incrível", meus interlocutores provavelmente entenderiam tratar-se de uma testemunha tão poderosa que, somente com o seu depoimento, muito se avançou na descoberta da verdade. Mas, pelo contrário, quero dizer que ela é suspeita e não merece a menor fé, por isso não ajudou em nada ao processo.
Já me flagrei várias vezes dizendo que algo "não é crível" pois, se dissesse que "é incrível", poderia não me dar a entender.
Para quem lamentar a perda do sentido etimológico do vocábulo, há a alternativa de usar a forma incredível. Todavia, trata-se de uma forma antiga e de uso raro, o que pode ser interpretado como arcaísmo, aquele vício de linguagem consistente em usar palavras que já caíram em desuso. E, como sabemos, os vícios de linguagem devem ser evitados porque não decorrem do uso consciente de um certo estilo de comunicação, e sim do desconhecimento da norma culta.
Tenha um domingo incrível.
Atualizado no mesmo dia, às 16h15:
Na verdade, eu estava enganado. Leiam o comentário escrito pelo filósofo André Coelho e descubram que a origem de "incrível" é exatamente a oposta da que supus nesta postagem. Vivendo e aprendendo. Abraços, André.
Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss:
Incrível
* adjetivo de dois gêneros e substantivo masculino
1 que ou o que não é crível, não se pode acreditar
Ex.:
* adjetivo de dois gêneros
2 que possui um caráter extraordinário; fantástico
Ex.:
3 fora do comum, ridículo, extravagante; excêntrico, singular, incompreensível
Ex.: "é um homem i., suas atitudes são sempre imprevisíveis"
Não é difícil perceber como o sentido originário da palavra migrou para o que mais se conhece hoje em dia. Afinal, algo fora do normal é mesmo difícil ou até impossível de acreditar. Daí, incrível. O problema é que, pelo menos aqui no Brasil, o sentido por derivação se tornou tão importante que acabou por anular o sentido original. Se eu, p. ex., numa aula, falasse algo como "No processo, foi ouvida uma testemunha incrível", meus interlocutores provavelmente entenderiam tratar-se de uma testemunha tão poderosa que, somente com o seu depoimento, muito se avançou na descoberta da verdade. Mas, pelo contrário, quero dizer que ela é suspeita e não merece a menor fé, por isso não ajudou em nada ao processo.
Já me flagrei várias vezes dizendo que algo "não é crível" pois, se dissesse que "é incrível", poderia não me dar a entender.
Para quem lamentar a perda do sentido etimológico do vocábulo, há a alternativa de usar a forma incredível. Todavia, trata-se de uma forma antiga e de uso raro, o que pode ser interpretado como arcaísmo, aquele vício de linguagem consistente em usar palavras que já caíram em desuso. E, como sabemos, os vícios de linguagem devem ser evitados porque não decorrem do uso consciente de um certo estilo de comunicação, e sim do desconhecimento da norma culta.
Tenha um domingo incrível.
Atualizado no mesmo dia, às 16h15:
Na verdade, eu estava enganado. Leiam o comentário escrito pelo filósofo André Coelho e descubram que a origem de "incrível" é exatamente a oposta da que supus nesta postagem. Vivendo e aprendendo. Abraços, André.
sábado, 10 de novembro de 2007
Marcha um tanto quanto lenta
Já perdi a conta das vezes que passei por aqui recentemente dizendo que minhas obrigações têm reduzido o meu tempo para prazeres, dentre eles o blog. As tarefas se sucedem numa quantidade absurda e num ritmo cruel, de modo que, vencida uma, lá vem o restante da fila. A coisa continua nesse nível e é daqui para pior, até as vésperas do Natal, pelo menos. Daí meu interesse em que o ano acabe.
Digo isto para as pessoas que gentilmente têm deixado os seus comentários e que talvez não encontrem respostas para eles. Tenho demorado até dois dias para responder, mas mantenho minha firme intenção de sempre dar um retorno a quem me escreve. Por isso, se você fizer um comentário, retornar e não encontrar a minha réplica, só me dê mais um tempinho e depois procure novamente. Ao menos um alô eu lhe darei.
Grato pela paciência e, acima de tudo, pela honra de me dedicar uns instantes do seu tempo, coisa muito valiosa hoje em dia. Abraços a todos.
Digo isto para as pessoas que gentilmente têm deixado os seus comentários e que talvez não encontrem respostas para eles. Tenho demorado até dois dias para responder, mas mantenho minha firme intenção de sempre dar um retorno a quem me escreve. Por isso, se você fizer um comentário, retornar e não encontrar a minha réplica, só me dê mais um tempinho e depois procure novamente. Ao menos um alô eu lhe darei.
Grato pela paciência e, acima de tudo, pela honra de me dedicar uns instantes do seu tempo, coisa muito valiosa hoje em dia. Abraços a todos.
Aniversário em família
Hoje meu filho completou três anos de vida. Não se trata de um filho no sentido mais estrito do termo, e sim de uma criatura viva que o coração decide adotar. Já falei dele aqui. Trata-se de Frodo, meu golden retriever, que está diretamente associado a minha história de casado, já que adquirido durante a lua-de-mel. Portanto, tudo o que diz respeito a minha casa, a minha vida em seu sentido mais doméstico tem a ver com ele, de algum modo.

Só quem possui um cachorro e valoriza essa convivência compreende o que quero dizer. Não se trata daquelas futilidades, frescuras e sandices que gente sem noção comete. Cachorro é bicho e deve ser tratado como tal. Não deve comer alimentos humanos (gordurosos e nocivos à saúde), especialmente doces (tem gente que dá chocolate e até bebida alcoólica! uns criminosos!), nem dormir em nossas camas ou ditar o ritmo da casa. Não pode, também, virar a válvula de escape das frustrações e mediocridades de seus donos, o que pode ser percebido em animais que apresentam um temperamento particularmente detestável. Ele não é assim: ficou assim, por causa da má educação recebida.

Ser tratado como bicho de modo algum precisa ser ruim. Muito pelo contrário. Tenho convicção de que muita gente gostaria de estar no lugar do meu Frodo. Ele tem um teto seguro, vive e dorme em lugares limpos, tem alimentação balanceada, come petiscos, possui brinquedos, acompanhamento médico e — suprema bênção — uma família devotada, gente que nutre por ele uma afeição imensa, revelada em atos de inequívoco carinho, como muitos humanos jamais lograram ter.
E retribui, com seu olhar doce, sua cauda agitada, sua alegria, seu instinto protetivo e sua entrega total, especialmente quando se deita no chão, exibe o peito e nos diz, com gestos, que confia plenamente em nós.
Como toda relação de amor, uma dádiva para nossas vidas. Feliz aniversário, Frodo. Obrigado por tudo.


Um filhote narigudo
Só quem possui um cachorro e valoriza essa convivência compreende o que quero dizer. Não se trata daquelas futilidades, frescuras e sandices que gente sem noção comete. Cachorro é bicho e deve ser tratado como tal. Não deve comer alimentos humanos (gordurosos e nocivos à saúde), especialmente doces (tem gente que dá chocolate e até bebida alcoólica! uns criminosos!), nem dormir em nossas camas ou ditar o ritmo da casa. Não pode, também, virar a válvula de escape das frustrações e mediocridades de seus donos, o que pode ser percebido em animais que apresentam um temperamento particularmente detestável. Ele não é assim: ficou assim, por causa da má educação recebida.
Aos dois anos, um passeio e o prazer de um carinho
Ser tratado como bicho de modo algum precisa ser ruim. Muito pelo contrário. Tenho convicção de que muita gente gostaria de estar no lugar do meu Frodo. Ele tem um teto seguro, vive e dorme em lugares limpos, tem alimentação balanceada, come petiscos, possui brinquedos, acompanhamento médico e — suprema bênção — uma família devotada, gente que nutre por ele uma afeição imensa, revelada em atos de inequívoco carinho, como muitos humanos jamais lograram ter.
E retribui, com seu olhar doce, sua cauda agitada, sua alegria, seu instinto protetivo e sua entrega total, especialmente quando se deita no chão, exibe o peito e nos diz, com gestos, que confia plenamente em nós.
Como toda relação de amor, uma dádiva para nossas vidas. Feliz aniversário, Frodo. Obrigado por tudo.

Aos três anos, o charme adulto
Acréscimo em 4.10.2011
Mas eis que veio uma gravidez e uma pequenina chamada Júlia e a alegria do Frodo deixou de ser a mesma de antes...
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Dizque de Caxias 4
O prazo de 15 dias dado para a fiscalização educativa (ahahahahahahahahah!!!) de trânsito ao longo da Av. Duque de Caxias, especialmente no que tange às faixas de pedestres, ainda nem terminou, mas esta tarde os dois agentes que pajeavam a faixa às proximidades da Vileta não se aguentaram: quando um veículo passou ignorando a faixa, enquanto transeuntes aguardavam para atravessar, a multa foi aplicada.
A gana dos agentes era tanta que ambos sacaram do talonário e da caneta ao mesmo tempo, sendo que um declinou em favor do parceiro, que começou a escrever. O primeiro deve ter ficado frustrado.
Enquanto isso, eu parado à espera da travessia, vi uma mulher a um metro da faixa (e não sobre ela), olhando em redor meio abobalhada. Acho que ela não acreditou que, como pedestre, tinha preferência de passagem. A motorista ao meu lado fazia-lhe sinal para que seguisse em frente, mas ela permaneceu imóvel.
Ávidos pelos carros, os agentes não saber que educação para o trânsito envolve, também, atenção ao pedestre. Eles não viram a mulher. Claro, ela não pode ser multada.
A gana dos agentes era tanta que ambos sacaram do talonário e da caneta ao mesmo tempo, sendo que um declinou em favor do parceiro, que começou a escrever. O primeiro deve ter ficado frustrado.
Enquanto isso, eu parado à espera da travessia, vi uma mulher a um metro da faixa (e não sobre ela), olhando em redor meio abobalhada. Acho que ela não acreditou que, como pedestre, tinha preferência de passagem. A motorista ao meu lado fazia-lhe sinal para que seguisse em frente, mas ela permaneceu imóvel.
Ávidos pelos carros, os agentes não saber que educação para o trânsito envolve, também, atenção ao pedestre. Eles não viram a mulher. Claro, ela não pode ser multada.
Notícias que vão mudar o mundo — 13ª edição
Só que esta pode mudar o mundo, mesmo:
Fora das universidades, muita gente tem dinheiro para gastar com pesquisa. Esta foi bancada pela Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela e ouviu 14.123 pessoas, em 3.170 cidades. Realmente, o universo tem todo o interesse em saber quem é sexy na Venezuela. Eu, p. ex., não dormia há seis meses pensando nisso. O biótipo indígena sulamericano — a tez morena, os olhinhos puxados — fazem o maior sucesso mundo afora, certo? Basta ver quantos modelos internacionais possuem essas características.
Minha grande preocupação agora é se o impagável Chávez vai iniciar a terceira guerra mundial por conta desse resultado desfavorável. Afinal, ele está armando o país. Que se cuidem o ator e apresentador Winston Vallenilla (este principalmente, por ser o mais sexy e por trabalhar na RCTV, aquela que perdeu a concessão do governo), o apresentador Daniel Sarcos e os atores Juan Carlos García e Ricardo Alamo. Afinal, há um modo muito fácil de Chávez passar a ser o número 1.
"Hugo Chávez é o quinto homem mais sexy da Venezuela."
Fora das universidades, muita gente tem dinheiro para gastar com pesquisa. Esta foi bancada pela Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela e ouviu 14.123 pessoas, em 3.170 cidades. Realmente, o universo tem todo o interesse em saber quem é sexy na Venezuela. Eu, p. ex., não dormia há seis meses pensando nisso. O biótipo indígena sulamericano — a tez morena, os olhinhos puxados — fazem o maior sucesso mundo afora, certo? Basta ver quantos modelos internacionais possuem essas características.
Minha grande preocupação agora é se o impagável Chávez vai iniciar a terceira guerra mundial por conta desse resultado desfavorável. Afinal, ele está armando o país. Que se cuidem o ator e apresentador Winston Vallenilla (este principalmente, por ser o mais sexy e por trabalhar na RCTV, aquela que perdeu a concessão do governo), o apresentador Daniel Sarcos e os atores Juan Carlos García e Ricardo Alamo. Afinal, há um modo muito fácil de Chávez passar a ser o número 1.
Música no tribunal
Neste exato momento, um sexteto formado por servidores do Tribunal de Justiça do Estado do Pará está dando um show no saguão do prédio anexo ao Palácio Lauro Sodré. Samba da melhor qualidade, com direito a Ave Maria na versão cavaquinho, consagrada por Jorge Aragão, muitíssimo bem executada, tanto que eu pensei ser uma gravação e só depois percebi que era uma interpretação ao vivo. E agora começou o carimbó.
Trata-se do Programa de Qualidade de Vida do Judiciário, que está realizando a Semana do Servidor. Nos últimos dias, serviços médicos e de orientação à saúde, como informações nutricionais, além de massoterapia e acupuntura, ocorreram nas dependências do tribunal. Mas hoje fomos surpreendidos com essa música deliciosa, que está pondo gente para dançar dentro dos gabinetes.
Excelente iniciativa, que quebra a sisudez árida dos ambientes judiciários por um ambiente alegre e de confraternização. Parabéns a quem teve a iniciativa e aos músicos. Espero que eventos assim ocorram com mais frequência. Eu mesmo, aqui dentro da minha sala, já me sinto mais animado e satisfeito. Um ótimo dia a todos.
Trata-se do Programa de Qualidade de Vida do Judiciário, que está realizando a Semana do Servidor. Nos últimos dias, serviços médicos e de orientação à saúde, como informações nutricionais, além de massoterapia e acupuntura, ocorreram nas dependências do tribunal. Mas hoje fomos surpreendidos com essa música deliciosa, que está pondo gente para dançar dentro dos gabinetes.
Excelente iniciativa, que quebra a sisudez árida dos ambientes judiciários por um ambiente alegre e de confraternização. Parabéns a quem teve a iniciativa e aos músicos. Espero que eventos assim ocorram com mais frequência. Eu mesmo, aqui dentro da minha sala, já me sinto mais animado e satisfeito. Um ótimo dia a todos.
Procurar uma pena justa
Mesmo estando muito cansado, pode-se dizer há semanas, amanhã, sábado, levantarei cedo da minha cama e irei ministrar uma aula extra para duas turmas, às 8h30. Tenho um bom motivo para isso. O tema da aula será dosimetria, nome que se dá ao procedimento que o juiz criminal faz para impor ao réu uma pena, quando decide condená-lo.
Embora a dosimetria seja obviamente obrigatória em todos os casos em que haja condenação, daí não resulta, na prática, a conclusão a que logicamente se poderia chegar: a de que os juízes sabem calcular a pena. Muito pelo contrário. As sentenças que vejo são tecnicamente incorretas, lacônicas (vício de fundamentação), repletas de especulações e valorações moralistas do magistrado (o Direito não existe para impor moral a ninguém), frequentemente omissas sobre fatos averiguados nos autos e, em geral, mal redigidas — sim, inclusive quanto ao vernáculo.
Para ser bem honesto, em dez anos como profissional do Direito, oito como professor de Direito Penal e quatro trabalhando no Tribunal de Justiça, raríssimas vezes vi sentenças decentes (note o adjetivo escolhido). Com tristeza, devo admitir que algumas das melhores que li foram produzidas em outros Estados do país, que costumam ser apontados nos meios jurídicos como mais avançados em questões jurídicas. Da produção paroara, lembro-me de uma única vez ter dito que a sentença estava muito bem elaborada. Algumas, que eram sentenças razoáveis (decentes). No geral, são ruins, quando não péssimas. Muitas, medíocres.
Para esclarecer minhas críticas, além do que mencionei acima, cito alguns erros técnicos gravíssimos e muito frequentes nas sentenças:
1. Na análise da circunstância judicial culpabilidade, falar em "intensidade do dolo" ou em "grau da culpa", posto que dolo e culpa pertencem ao âmbito do fato típico e não da culpabilidade — pelo menos desde a reforma penal de 1984. Não saber isso mostra que o juiz está desatualizado ou, pior, que ignora conceitos essenciais, trazidos pela teoria finalista da ação, que sucedeu a teoria causalista, já abandonada.
2. Aceitar como antecedentes criminais registros policiais pendentes, inquéritos ou ações penais em andamento, dentre outros, quando somente as condenações penais definitivas (fora dos casos de reincidência) podem gerar antecedentes.
3. Confundir antecedentes com reincidência.
4. Fazer especulações cretinas sobre a personalidade e a conduta social, tais como "a personalidade do réu é antissocial" (sem esclarecimentos) ou "o réu é voltado à criminalidade" (porque cometeu um delito, justamente o objeto da condenação).
5. Desvalorar duas vezes, ou nos momentos incorretos, circunstâncias executivas do crime ou a sua motivação.
6. Aumentar a pena com base em consequências óbvias, tais como aumentá-la, no homicídio, porque a vítima morreu! Ou no roubo, porque a vítima sofreu prejuízo econômico. É uma das coisas mais imbecis que se poderia fazer mas, acredite, acontece com frequência.
Se eu for desfiar o rosário, corro o risco de ficar horas escrevendo, então paro aqui.
Peço que compreendam que, ao dizer isso, não quero ser arrogante nem ofender ninguém. É a aflição de um estudioso do Direito Penal que move meus dedos sobre o teclado, neste instante. E é por isso que faço questão absoluta de ministrar essa aula específica sobre dosimetria, em pleno sábado. Se, dessas dezenas de alunos, uns dez conseguirem assimilar a questão e tomá-la como algo a ser cultivado, terá valido a pena. Para que o futuro da rotina forense-criminal seja um pouco melhor do que é agora.
É preciso que os profissionais da área aprendam e esse é o meu papel. Aquilo que consegui aprender amanhã será compartilhado. Espero que renda frutos.
Acréscimo em 10.11.2007, às 22h42:
PS — E a aula foi bem legal.
Embora a dosimetria seja obviamente obrigatória em todos os casos em que haja condenação, daí não resulta, na prática, a conclusão a que logicamente se poderia chegar: a de que os juízes sabem calcular a pena. Muito pelo contrário. As sentenças que vejo são tecnicamente incorretas, lacônicas (vício de fundamentação), repletas de especulações e valorações moralistas do magistrado (o Direito não existe para impor moral a ninguém), frequentemente omissas sobre fatos averiguados nos autos e, em geral, mal redigidas — sim, inclusive quanto ao vernáculo.
Para ser bem honesto, em dez anos como profissional do Direito, oito como professor de Direito Penal e quatro trabalhando no Tribunal de Justiça, raríssimas vezes vi sentenças decentes (note o adjetivo escolhido). Com tristeza, devo admitir que algumas das melhores que li foram produzidas em outros Estados do país, que costumam ser apontados nos meios jurídicos como mais avançados em questões jurídicas. Da produção paroara, lembro-me de uma única vez ter dito que a sentença estava muito bem elaborada. Algumas, que eram sentenças razoáveis (decentes). No geral, são ruins, quando não péssimas. Muitas, medíocres.
Para esclarecer minhas críticas, além do que mencionei acima, cito alguns erros técnicos gravíssimos e muito frequentes nas sentenças:
1. Na análise da circunstância judicial culpabilidade, falar em "intensidade do dolo" ou em "grau da culpa", posto que dolo e culpa pertencem ao âmbito do fato típico e não da culpabilidade — pelo menos desde a reforma penal de 1984. Não saber isso mostra que o juiz está desatualizado ou, pior, que ignora conceitos essenciais, trazidos pela teoria finalista da ação, que sucedeu a teoria causalista, já abandonada.
2. Aceitar como antecedentes criminais registros policiais pendentes, inquéritos ou ações penais em andamento, dentre outros, quando somente as condenações penais definitivas (fora dos casos de reincidência) podem gerar antecedentes.
3. Confundir antecedentes com reincidência.
4. Fazer especulações cretinas sobre a personalidade e a conduta social, tais como "a personalidade do réu é antissocial" (sem esclarecimentos) ou "o réu é voltado à criminalidade" (porque cometeu um delito, justamente o objeto da condenação).
5. Desvalorar duas vezes, ou nos momentos incorretos, circunstâncias executivas do crime ou a sua motivação.
6. Aumentar a pena com base em consequências óbvias, tais como aumentá-la, no homicídio, porque a vítima morreu! Ou no roubo, porque a vítima sofreu prejuízo econômico. É uma das coisas mais imbecis que se poderia fazer mas, acredite, acontece com frequência.
Se eu for desfiar o rosário, corro o risco de ficar horas escrevendo, então paro aqui.
Peço que compreendam que, ao dizer isso, não quero ser arrogante nem ofender ninguém. É a aflição de um estudioso do Direito Penal que move meus dedos sobre o teclado, neste instante. E é por isso que faço questão absoluta de ministrar essa aula específica sobre dosimetria, em pleno sábado. Se, dessas dezenas de alunos, uns dez conseguirem assimilar a questão e tomá-la como algo a ser cultivado, terá valido a pena. Para que o futuro da rotina forense-criminal seja um pouco melhor do que é agora.
É preciso que os profissionais da área aprendam e esse é o meu papel. Aquilo que consegui aprender amanhã será compartilhado. Espero que renda frutos.
Acréscimo em 10.11.2007, às 22h42:
PS — E a aula foi bem legal.
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
Nível judicial
A vítima de um suposto estelionato requer a sua admissão ao processo, na condição de assistente de acusação. O Ministério Público se manifesta contrariamente, por entender que a figura do assistente é inconstitucional. O juiz, porém, acata o pedido, dando um show de fundamentação:
Decisão primorosa, não? Se a Língua Portuguesa sofre com o "defero", a obrigação constitucional do juiz, de fundamentar toda e qualquer decisão, vem com essa de "não vejo como negar". Então tá. Da próxima vez que for pedir algo a alguém, já sabe: é só dizer que você não vê como o seu pedido possa ser negado. Simples assim.
Defero o pedido de admissão de assistência do Ministério Público, muito embora este Órgão tenha manifestado contrário, mas no caso em tela não vejo como negar.
Decisão primorosa, não? Se a Língua Portuguesa sofre com o "defero", a obrigação constitucional do juiz, de fundamentar toda e qualquer decisão, vem com essa de "não vejo como negar". Então tá. Da próxima vez que for pedir algo a alguém, já sabe: é só dizer que você não vê como o seu pedido possa ser negado. Simples assim.
Nível parlamentar
O deputado federal paraense Gerson Peres, de múltiplos mandatos, durante debates na Câmara Federal sobre a regulamentação da prostituição, saiu-se com esta: "A mulher dá porque quer dar."
Alto nível o do debate. Mas para dizer isso não precisa ser deputado. Basta ser bronco. A assertiva até que cai bem numa roda de amigos jocosos, mas no Congresso Nacional?
Se bem que, pensando melhor, lá é o ambiente mais adequado para se discutir o tema em questão. Afinal, as mães são sagradas.
Alto nível o do debate. Mas para dizer isso não precisa ser deputado. Basta ser bronco. A assertiva até que cai bem numa roda de amigos jocosos, mas no Congresso Nacional?
Se bem que, pensando melhor, lá é o ambiente mais adequado para se discutir o tema em questão. Afinal, as mães são sagradas.
Software bloqueia estupidez em comentários nos blogs
"É hora de contra-atacar: sofremos em silêncio por muito tempo sob a tirania da idiotice."
É assim que os criadores do site Stupid Filter descrevem o projeto no qual trabalham. Trata-se de uma ferramenta que, como o nome já denuncia, filtra comentários considerados estúpidos, não permitindo que cheguem ao blog e incomodem o moderador. Maravilhoso, não? Infelizmente, por enquanto o programa tem propriedades muito limitadas, que se baseiam, p. ex., na repetição de letras ou em erros vernaculares graves. Não há meios de filtrar intenções estúpidas, num texto corretamente redigido. Que pena.
Em fase de testes, o programa deve ganhar uma versão para testes abertos em dezembro. Infelizmente, só em inglês. Nada para português ou para o nefasto miguxês. Mas bem que poderiam criar no filtro uma opção para identificar o excesso de letras "x" e mandar a mensagem para o olho da lixeira. Para saber mais, clique aqui.
É assim que os criadores do site Stupid Filter descrevem o projeto no qual trabalham. Trata-se de uma ferramenta que, como o nome já denuncia, filtra comentários considerados estúpidos, não permitindo que cheguem ao blog e incomodem o moderador. Maravilhoso, não? Infelizmente, por enquanto o programa tem propriedades muito limitadas, que se baseiam, p. ex., na repetição de letras ou em erros vernaculares graves. Não há meios de filtrar intenções estúpidas, num texto corretamente redigido. Que pena.
Em fase de testes, o programa deve ganhar uma versão para testes abertos em dezembro. Infelizmente, só em inglês. Nada para português ou para o nefasto miguxês. Mas bem que poderiam criar no filtro uma opção para identificar o excesso de letras "x" e mandar a mensagem para o olho da lixeira. Para saber mais, clique aqui.
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Indenização por "vício adquirido"
Parece coisa de Estados Unidos, mas aconteceu ontem no Brasil. Rélvia Braga Bittencourt decidiu processar a empresa de cigarros Souza Cruz alegando que, aos 12 anos de idade, começou a fumar, seduzida pela publicidade que, sabidamente, sempre associou o tabagismo a glamour, sucesso, sofisticação e beleza. Tendo adquirido o vício, com ele vieram tantas doenças que a queixosa chegou a ter uma perna amputada.
Ontem, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, acatando o voto do desembargador Elpídio Donizetti Nunes, agora meu ídolo, assegurou uma indenização de 200 mil reais, alegando que a indústria tabagista conhece os malefícios do cigarro desde a década de 50, porém omitiu informações vitais à população, para garantir as vendas. Exatamente o mesmo que se vê no excelente filme O informante (dirigido por Michael Mann, EUA, 1999).
Esta postagem se baseia numa notícia da imprensa. Acessei o sítio do Tribunal de Justiça mineiro, mas ainda não havia nenhuma notícia disponível. Assim que souber mais sobre o caso, informo.
Acréscimo em 4.10.2011
Demorou, mas aqui está: o acórdão proferido neste caso pode ser encontrado no link http://www.tjmg.jus.br/juridico/jt_/inteiro_teor.jsp?tipoTribunal=1&comrCodigo=24&ano=1&txt_processo=38251&complemento=1&sequencial=0&palavrasConsulta=&todas=&expressao=&qualquer=&sem=&radical=
Ontem, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, acatando o voto do desembargador Elpídio Donizetti Nunes, agora meu ídolo, assegurou uma indenização de 200 mil reais, alegando que a indústria tabagista conhece os malefícios do cigarro desde a década de 50, porém omitiu informações vitais à população, para garantir as vendas. Exatamente o mesmo que se vê no excelente filme O informante (dirigido por Michael Mann, EUA, 1999).
Esta postagem se baseia numa notícia da imprensa. Acessei o sítio do Tribunal de Justiça mineiro, mas ainda não havia nenhuma notícia disponível. Assim que souber mais sobre o caso, informo.
Acréscimo em 4.10.2011
Demorou, mas aqui está: o acórdão proferido neste caso pode ser encontrado no link http://www.tjmg.jus.br/juridico/jt_/inteiro_teor.jsp?tipoTribunal=1&comrCodigo=24&ano=1&txt_processo=38251&complemento=1&sequencial=0&palavrasConsulta=&todas=&expressao=&qualquer=&sem=&radical=
Lei do Oeste no Pará
Jamais gostei de filmes de faroeste — que me perdoem os fãs de Sérgio Leoni. Não tinha a menor paciência para, sequer, começar a ver. Agastava-me aquela coisa de cowboys e índios, com a preponderância dos primeiros, numa indisfarçável ideologia colonialista — mentalidade que começou a mudar em 1991, quando Kevin Costner filmou Dança com Lobos e mostrou o outro lado, com muita humanidade.
Todavia, ficou o conceito de lei do Oeste, para indicar o que seria mais exatamente um estado de anomia, a falta de leis de Direito, que acabava gerando a lei do mais forte, do mais armado ou do mais insano como sendo o meio para solução dos problemas. Havia um desenho a que assistia na infância, embora não me recorde agora o nome, em que um personagem tinha como bordão "É a leeeeeeeeeeei do Oeste!"
O bang bang se instalou no Brasil faz tempo. Aqui, a lógica dos criminosos — matar ou morrer; não tenho nada a perder — tem explicado boa parte das barbaridades a que assistimos, de que tomamos conhecimento e que tanto nos angustiam. Agora, mais uma demonstração.
Em 28 de julho, nosso amigo Eduardo Lauande foi baleado durante um assalto realizado por dois jovens, falecendo dois dias depois. Ontem à noite, um dos acusados do crime, Max Delean Gomes de Souza, o "Mascote", foi executado, sem que se conheça o autor do delito (um motoqueiro de capacete) ou os seus motivos. Cumpriu-se a lei do Oeste: "Mascote" matou e depois morreu. No final das contas, duas vidas desperdiçadas — uma produtiva, outra que poderia tê-lo sido. Não há nada a comemorar.
A morte de "Mascote" tem características de vingança ou acerto de contas, como prefere dizer a polícia. Afinal, enquanto a vítima conversava com um conhecido, passou o motoqueiro e, sem nada dizer, sem parar o veículo, disparou cinco vezes (queria ter certeza de sucesso). Seguiu seu rumo, sem molestar o outro rapaz. Portanto, sua ação tinha endereço certo.
Especulando, creio que um dos possíveis motivos dessa execução tem a ver com a banalização da criminalidade. "Mascote" morava naquela região e, segundo dizem, cometia assaltos por ali. Participou do assalto a Lauande e sua esposa, mas não se afastou. Uma professora da escola pública do Conjunto Médici I declarou que a polícia não prendia os dois porque não queria, pois ela os tinha visto num campo de futebol das redondezas. Depois a dupla foi presa no Guamá, assaltando. "Mascote" recobrou a liberdade e voltou para casa. Foi morto perto de casa, perto de onde caiu Lauande. Sua desenvoltura na sede de seus delitos, como se nada tivesse acontecido, deve ter indignado muita gente. Afinal, tem sempre alguém olhando. Então alguém se cansou dele. Isso se não for uma vítima mais direta.
Recuso-me taxativamente ao discurso de tudo-bem-se-quem-morreu-foi-bandido. Defender os chamados justiceiros (odeio a expressão, porque isso nada tem a ver com justiça) é, no mínimo, fazer concessões ao suicídio. Uma espécie de suicídio social. Que mundo é este, em que o talião parece revigorado e é encarado como um avanço?
Max Delean certamente tinha mãe. Hoje, ela chora a morte de seu filho. Acredito honestamente que sua dor mereça respeito. Definitivamente, não podemos viver de velório em velório.
Atualizado em 8.11.2007:
Do Repórter Diário de hoje:
Tem gente sem noção, mesmo. Telefonar para a família Lauande a fim de parabenizá-los pelo ocorrido é, no mínimo, desconhecer por completo o ideário do Eduardo, que se tenta preservar por meio do movimento "Lauande Vive". Ratifico o que disse ontem: não há o que comemorar.
Todavia, ficou o conceito de lei do Oeste, para indicar o que seria mais exatamente um estado de anomia, a falta de leis de Direito, que acabava gerando a lei do mais forte, do mais armado ou do mais insano como sendo o meio para solução dos problemas. Havia um desenho a que assistia na infância, embora não me recorde agora o nome, em que um personagem tinha como bordão "É a leeeeeeeeeeei do Oeste!"
O bang bang se instalou no Brasil faz tempo. Aqui, a lógica dos criminosos — matar ou morrer; não tenho nada a perder — tem explicado boa parte das barbaridades a que assistimos, de que tomamos conhecimento e que tanto nos angustiam. Agora, mais uma demonstração.
Em 28 de julho, nosso amigo Eduardo Lauande foi baleado durante um assalto realizado por dois jovens, falecendo dois dias depois. Ontem à noite, um dos acusados do crime, Max Delean Gomes de Souza, o "Mascote", foi executado, sem que se conheça o autor do delito (um motoqueiro de capacete) ou os seus motivos. Cumpriu-se a lei do Oeste: "Mascote" matou e depois morreu. No final das contas, duas vidas desperdiçadas — uma produtiva, outra que poderia tê-lo sido. Não há nada a comemorar.
A morte de "Mascote" tem características de vingança ou acerto de contas, como prefere dizer a polícia. Afinal, enquanto a vítima conversava com um conhecido, passou o motoqueiro e, sem nada dizer, sem parar o veículo, disparou cinco vezes (queria ter certeza de sucesso). Seguiu seu rumo, sem molestar o outro rapaz. Portanto, sua ação tinha endereço certo.
Especulando, creio que um dos possíveis motivos dessa execução tem a ver com a banalização da criminalidade. "Mascote" morava naquela região e, segundo dizem, cometia assaltos por ali. Participou do assalto a Lauande e sua esposa, mas não se afastou. Uma professora da escola pública do Conjunto Médici I declarou que a polícia não prendia os dois porque não queria, pois ela os tinha visto num campo de futebol das redondezas. Depois a dupla foi presa no Guamá, assaltando. "Mascote" recobrou a liberdade e voltou para casa. Foi morto perto de casa, perto de onde caiu Lauande. Sua desenvoltura na sede de seus delitos, como se nada tivesse acontecido, deve ter indignado muita gente. Afinal, tem sempre alguém olhando. Então alguém se cansou dele. Isso se não for uma vítima mais direta.
Recuso-me taxativamente ao discurso de tudo-bem-se-quem-morreu-foi-bandido. Defender os chamados justiceiros (odeio a expressão, porque isso nada tem a ver com justiça) é, no mínimo, fazer concessões ao suicídio. Uma espécie de suicídio social. Que mundo é este, em que o talião parece revigorado e é encarado como um avanço?
Max Delean certamente tinha mãe. Hoje, ela chora a morte de seu filho. Acredito honestamente que sua dor mereça respeito. Definitivamente, não podemos viver de velório em velório.
Atualizado em 8.11.2007:
Do Repórter Diário de hoje:
Avesso da paz
A morte do adolescente Max Delean Gomes de Souza, o “Mascote”, acusado de envolvimento no assassinato do sociólogo Eduardo Lauande, em julho passado, suscitou vários telefonemas de felicitações à família Lauande. Nenhuma dessas manifestações foi bem recebida pelos familiares do sociólogo. Integrantes do Movimento “Lauande Vive”, eles defendem a idéia de uma cultura de paz e não-violência e lamentam a morte do adolescente. O movimento não quer mortes; luta por segurança e justiça.
Tem gente sem noção, mesmo. Telefonar para a família Lauande a fim de parabenizá-los pelo ocorrido é, no mínimo, desconhecer por completo o ideário do Eduardo, que se tenta preservar por meio do movimento "Lauande Vive". Ratifico o que disse ontem: não há o que comemorar.
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Quer um desses?
O menino sai de casa, toma dois ônibus e se dirige ao aeroporto de sua cidade. Ali, sem ter um só documento, mas munido de muita astúcia, mistura-se aos passageiros e tem acesso à sala de embarque. Escorregadio, consegue entrar na aeronave e chega à maior cidade do país, onde poderá viver muitas aventuras.
Está pensando que isso é o roteiro de mais uma comediazinha débil mental sobre moleques demoníacos que sempre se dão bem? Errado. Trata-se de uma história verídica, somente agora divulgada. O fato se deu em 18 de outubro último e o artista viajou de Cuiabá para São Paulo.
De quebra, meteu os pais numa bela enrascada, a ser explicada perante o Conselho Tutelar.
Quem também vai ter que se explicar são a INFRAERO e a Gol, já que ambas falharam ridiculamente em seus mais comezinhos procedimentos de segurança. Se um garoto de 11 anos consegue entrar num avião e efetivamente viajar sem que ninguém o incomode, o que impedirá alguém de passar com um canivete ou, quem sabe, um explosivo? Mais munição para a crise aérea...
Perdoem-me os pedagogos e psicólogos, mas esse moleque está merecendo umas palmadinhas evangélicas.
Está pensando que isso é o roteiro de mais uma comediazinha débil mental sobre moleques demoníacos que sempre se dão bem? Errado. Trata-se de uma história verídica, somente agora divulgada. O fato se deu em 18 de outubro último e o artista viajou de Cuiabá para São Paulo.
De quebra, meteu os pais numa bela enrascada, a ser explicada perante o Conselho Tutelar.
Quem também vai ter que se explicar são a INFRAERO e a Gol, já que ambas falharam ridiculamente em seus mais comezinhos procedimentos de segurança. Se um garoto de 11 anos consegue entrar num avião e efetivamente viajar sem que ninguém o incomode, o que impedirá alguém de passar com um canivete ou, quem sabe, um explosivo? Mais munição para a crise aérea...
Perdoem-me os pedagogos e psicólogos, mas esse moleque está merecendo umas palmadinhas evangélicas.
Procure o Carlos
Há muito tempo, fui com amigos ao restaurante Famiglia Trattoria, na Tv. Benjamim Constant, ponto onde funcionou o saudoso As Bruxas. Foi uma daquelas noites complicadas, onde todos saíram insatisfeitos. A comida demorou, veio pouca e ruinzinha. Risquei o endereço da minha agenda.
Um longo tempo se passou e comecei a escutar recomendações para ir até lá. Resisti. Um dia, porém, tantas eram as experiências bem sucedidas que me narravam, que resolvi experimentar. Não sei o que mudou no restaurante ao longo do tempo; só sei que a mudança foi grande e altamente positiva. O Famiglia, agora, está na minha lista de preferências.
Em menos de dois meses, estive três vezes lá, sempre atendido pelo garçon Carlos, que provavelmente é uma das receitas do sucesso do local. Mais do que educado e atencioso, Carlos parece analisar o perfil do cliente e tenta sugerir um prato que acerte no alvo. Comigo, acertou. Nas três oportunidades, larguei o cardápio e aceitei as sugestões que me fez: primeiro, um salmão; depois, um bacalhau; por fim, um linguado. Segundo Carlos, um prato retirado do cardápio e dois testes. Ele já sabe como me agradar.
Para completar, você pode modificar os pratos, trocando as guarnições, e isso simplesmente não acrescenta em nada o valor. Ou seja, o restaurante mima o freguês e não cobra por isso. Além de que os pratos são bem servidos: mesmo um sujeito disposto come bem e sai bastante satisfeito.
Estou na fase do enamoramento. Já penso na próxima oportunidade em que poderei saborear as iguarias do Famiglia Trattoria. Experimente.
Um longo tempo se passou e comecei a escutar recomendações para ir até lá. Resisti. Um dia, porém, tantas eram as experiências bem sucedidas que me narravam, que resolvi experimentar. Não sei o que mudou no restaurante ao longo do tempo; só sei que a mudança foi grande e altamente positiva. O Famiglia, agora, está na minha lista de preferências.
Em menos de dois meses, estive três vezes lá, sempre atendido pelo garçon Carlos, que provavelmente é uma das receitas do sucesso do local. Mais do que educado e atencioso, Carlos parece analisar o perfil do cliente e tenta sugerir um prato que acerte no alvo. Comigo, acertou. Nas três oportunidades, larguei o cardápio e aceitei as sugestões que me fez: primeiro, um salmão; depois, um bacalhau; por fim, um linguado. Segundo Carlos, um prato retirado do cardápio e dois testes. Ele já sabe como me agradar.
Para completar, você pode modificar os pratos, trocando as guarnições, e isso simplesmente não acrescenta em nada o valor. Ou seja, o restaurante mima o freguês e não cobra por isso. Além de que os pratos são bem servidos: mesmo um sujeito disposto come bem e sai bastante satisfeito.
Estou na fase do enamoramento. Já penso na próxima oportunidade em que poderei saborear as iguarias do Famiglia Trattoria. Experimente.
O tempo dela está chegando
A meteorologia já avisou: em 2007 tem La Niña, portanto podemos esperar muita água nas próximas semanas, especialmente na nossa estação habitualmente chuvosa. Vai ser cada gota do tamanho de uma jaca! Naturalmente, isso obriga a uma série de cuidados, a começar por não jogar lixo que possa acabar nos bueiros, entupindo-os e piorando a tendência natural que Belém possui de ir para o fundo com apenas cinco minutos de chuva forte.
Dentre as diversas providências que devem ser tomadas por nós, cidadãos, individualmente, uma merece atenção para a hora da chuva propriamente dita: cuidados com a condução de veículos.

Clique aqui para conhecer as sugestões de especialistas para dirigir sob chuva, especialmente você que pretende pegar a estrada no feriado do próximo dia 15, enforcando a sexta-feira.
Todo cuidado é pouco. Afinal, apesar da intensa campanha midiática, os acidentes continuam aumentando em quantidade e gravidade. A famosa guerra do trânsito brasileiro, que mata por ano mais do que uma guerra do Iraque, continua em plena atividade.
segunda-feira, 5 de novembro de 2007
Caridade de final de ano
Mesmo para quem, como eu, evita visões romanceadas do mundo, existe de fato algo que se pode chamar de espírito natalino. Constata-se por uma certa gentileza nas pessoas em geral, num tom acima do usual, posto que a secura no trato é bem mais frequente. Constata-se, principalmente, na iniciativa de várias pessoas em fazer doações aos necessitados, aspecto que me parece um dos mais bonitos do Natal.
Logo no começo do primeiro governo Lula, conversando com um amigo que há anos auxilia uma instituição benemerente, creio que no PAAR, ouvi dele que não pretendia fazer nenhuma doação ao Fome Zero. Economista, explicou-me que se perde um dinheiro enorme nos meandros da burocracia, por meio da criação de secretarias, pagamento de salários, infraestrutura, água, luz, telefone e o escambau. Concluiu dizendo que sua decisão estava tomada: iria à dita instituição perguntar de que eles precisavam. Um fogão, uma geladeira, algo assim. Então ele compraria e mandaria entregar lá. Com isso, ele tem a garantia de que 100% da doação serão empregados exclusivamente nos fins que ele quer ajudar, sem perdas, sem locupletamento, sem desvios.
Tive que dar razão ao amigo. Naturalmente, não recomendo que se abandonem completamente os programas caritativos de maior vulto, vinculados a instituições públicas ou privadas. Sugiro, apenas, que se tome um cuidado adicional com a destinação dada aos recursos doados. Não estou falando de corrupção ou safadezas em geral, mas de perdas inevitáveis, tais como uso de parte do montante doado para pagamento de pessoal ou contratação de transporte.
Pessoalmente, prefiro fazer como meu amigo. Se você quiser ajudar alguém e também almeja 100% de segurança, escolha uma instituição e a visite pessoalmente. Saiba como pode ajudar e defina um meio que seja útil, sem lhe causar ônus desnecessários. E não perca a oportunidade de conhecer o trabalho em si e seus beneficiários. Converse com o público atendido, leve o seu abraço, a sua solidariedade, o seu sorriso.
Asseguro-lhe que essa é a melhor parte.
Logo no começo do primeiro governo Lula, conversando com um amigo que há anos auxilia uma instituição benemerente, creio que no PAAR, ouvi dele que não pretendia fazer nenhuma doação ao Fome Zero. Economista, explicou-me que se perde um dinheiro enorme nos meandros da burocracia, por meio da criação de secretarias, pagamento de salários, infraestrutura, água, luz, telefone e o escambau. Concluiu dizendo que sua decisão estava tomada: iria à dita instituição perguntar de que eles precisavam. Um fogão, uma geladeira, algo assim. Então ele compraria e mandaria entregar lá. Com isso, ele tem a garantia de que 100% da doação serão empregados exclusivamente nos fins que ele quer ajudar, sem perdas, sem locupletamento, sem desvios.
Tive que dar razão ao amigo. Naturalmente, não recomendo que se abandonem completamente os programas caritativos de maior vulto, vinculados a instituições públicas ou privadas. Sugiro, apenas, que se tome um cuidado adicional com a destinação dada aos recursos doados. Não estou falando de corrupção ou safadezas em geral, mas de perdas inevitáveis, tais como uso de parte do montante doado para pagamento de pessoal ou contratação de transporte.
Pessoalmente, prefiro fazer como meu amigo. Se você quiser ajudar alguém e também almeja 100% de segurança, escolha uma instituição e a visite pessoalmente. Saiba como pode ajudar e defina um meio que seja útil, sem lhe causar ônus desnecessários. E não perca a oportunidade de conhecer o trabalho em si e seus beneficiários. Converse com o público atendido, leve o seu abraço, a sua solidariedade, o seu sorriso.
Asseguro-lhe que essa é a melhor parte.
Mérito a reconhecer
Fui compelido a abrir uma conta no Banco do Estado do Pará em 1997. Com alegria, deixei de me relacionar com essa instituição no ano 2000. Digo alegria porque era uma relação conflituosa e por demais insatisfatória para mim. O pior episódio desse período foi quando me afanaram uma folha de cheque e efetuaram um saque, felizmente de valor baixo, a demonstrar a condição simplória da pessoa que me lesou. Ocorre que a pessoa em questão falsificou minha assinatura com tamanha inidoneidade que, a olho nu, até um recém-nascido saberia tratar-se de uma falsificação grosseira, considerando a cópia que me foi fornecida. Mesmo assim, a gerente me informou que, para eu ser ressarcido, precisaria escrever uma carta circunstanciada à superintendência e, num espaço de 90 dias, eu teria uma "posição". Obviamente, como bom brasileiro, deixei de lado e suportei o prejuízo. Não pagava a pena me estressar com o caso.
Em 2003, precisei retornar às hostes do BANPARÁ. Furioso, claro, mas novamente não tive escolha. Amarguei meus dissabores, a começar por não existirem caixas eletrônicos fora das agências ou de instituições públicas — estas, indisponíveis fora do expediente, especialmente nos finais de semana e feriados. De 2005 a 2006, num espaço de 5 meses, precisei trocar o cartão magnético nada menos do que 6 vezes, porque ele sempre estragava em menos de uma semana. Quantas vezes fui ao aeroporto tentar sacar dinheiro e encontrei o caixa em manutenção, sem dinheiro ou sem opção de saque.
Sou forçado a reconhecer, contudo, que os tempos são outros. A começar pelo fato de que estou usando o mesmo cartão há meses. Agora, além de novas agências, há caixas eletrônicos próprios em vários supermercados, inclusive pela rede 24 Horas, em todo o país. Finalmente, posso viajar sem precisar fazer uma transferência entre minhas contas. A civilização está chegando.
Acredito que a mudança seja o efeito de alguns anos de trabalho. Acima de tudo, deve-se mudar a mentalidade medíocre por outra, de eficiência e qualidade. Como usuário, sinto-me no dever de fazer justiça. Ainda há muito a melhorar, mas estamos indo bem. Graças a Deus.
Em 2003, precisei retornar às hostes do BANPARÁ. Furioso, claro, mas novamente não tive escolha. Amarguei meus dissabores, a começar por não existirem caixas eletrônicos fora das agências ou de instituições públicas — estas, indisponíveis fora do expediente, especialmente nos finais de semana e feriados. De 2005 a 2006, num espaço de 5 meses, precisei trocar o cartão magnético nada menos do que 6 vezes, porque ele sempre estragava em menos de uma semana. Quantas vezes fui ao aeroporto tentar sacar dinheiro e encontrei o caixa em manutenção, sem dinheiro ou sem opção de saque.
Sou forçado a reconhecer, contudo, que os tempos são outros. A começar pelo fato de que estou usando o mesmo cartão há meses. Agora, além de novas agências, há caixas eletrônicos próprios em vários supermercados, inclusive pela rede 24 Horas, em todo o país. Finalmente, posso viajar sem precisar fazer uma transferência entre minhas contas. A civilização está chegando.
Acredito que a mudança seja o efeito de alguns anos de trabalho. Acima de tudo, deve-se mudar a mentalidade medíocre por outra, de eficiência e qualidade. Como usuário, sinto-me no dever de fazer justiça. Ainda há muito a melhorar, mas estamos indo bem. Graças a Deus.
Conceito de "leseira"
Bom dia.
Esqueçam o dicionário. O que se segue é uma impressão estritamente pessoal minha, arbitrária no sentido mais puro da palavra.
Leseira
s.f. Reg. (N e NE) 1. Qualidade daquilo que é leso, sem noção, irrefletido; patetice, palermice. 2. Capacidade de fazer merda por distração ou despreocupação consigo, com terceiros ou com o ambiente. Frequentemente, causa danos a terceiros inocentes.
Para mim, já deu. Não vejo a hora de 2007 terminar.
Esqueçam o dicionário. O que se segue é uma impressão estritamente pessoal minha, arbitrária no sentido mais puro da palavra.
Leseira
s.f. Reg. (N e NE) 1. Qualidade daquilo que é leso, sem noção, irrefletido; patetice, palermice. 2. Capacidade de fazer merda por distração ou despreocupação consigo, com terceiros ou com o ambiente. Frequentemente, causa danos a terceiros inocentes.
Para mim, já deu. Não vejo a hora de 2007 terminar.
domingo, 4 de novembro de 2007
Eu e os bonecos do Brasil

Daqui a duas semanas, quando o projeto SESI Bonecos do Brasil chegar a Macapá, terá percorrido todo o país num esforço de divulgar e, através disso, preservar elementos da verdadeira cultura nacional de raiz. O foco é mostrar o valor desses artistas, tais como os mestres mamulengueiros, espalhados pelo país afora, gente simples, que vai levando sua arte do jeito que pode e, em alguns momentos e locais, como no carnaval de Olinda, consegue um momento de glória.
O evento aberto ontem, no Hangar, e que termina hoje, com programação sempre a partir das 17 horas, serve para mostrar o trabalho de grupos que fazem trabalho com bonecos no Brasil, alguns com carreira internacional. No programa, artistas de Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo e Pará, dentre outros. O espetáculo de abertura, por sinal, foi da Companhia In Bust Teatro com Bonecos, que particularmente adoro. Eles apresentaram o espetáculo inspirado nos pássaros juninos, típicos daqui, A peleja da Princesa Mariana e sua ave Garça Dourada contra a Rainha Valéria de Marambaia e a Bruxa do Mal. Maravilhoso.
O público, claro, atendeu ao convite e o Hangar encheu. Daí se precisa chegar a uma constatação chata, porém ve
rdadeira: eventos desse tipo precisam ser mais bem preparados. Quando cheguei ao local, com minha família, quase uma hora antes da abertura, deparamo-nos com umas 200 cadeiras, mais ou menos, em frente aos palcos principais. Obviamente, um nada. Àquela altura, já estavam todas ocupadas — senão com pessoas, com bolsas, pois todo vagabundo antissocial entende que tem o direito de guardar lugar para quem vai chegar depois, em detrimento de quem já está lá, inclusive minha mãe e seu esporão calcâneo.

Quando a peça começou, o excesso de barulho abafava as vozes dos atores, apesar de o sistema de som ser aparentemente bom. Ou seja, realmente precisamos que as peças sejam exibidas em locais com acústica adequada, sob pena de o público não aproveitar o espetáculo e de não se fazer justiça aos artistas.
Mas valeu. Peço a Deus que mais iniciativas desse tipo surjam e cheguem até aqui. Foi um domingo diferente e bem legal. Aí ao lado, eu fingindo manipular um tocador de rabeca.
sábado, 3 de novembro de 2007
Esfinge
Após noticiar que uns félas estão surrupiando os vegetais plantados no canteiro central da Av. Duque de Caxias — o que não surpreende, considerando que essas plantas são fáceis de vender —, a coluna Repórter 70 de hoje me sai com esta frase enigmática:
Estou tentando, mas ainda não consegui entender o que o jornal quis dizer com isso. Não mesmo.
AliásÉ melhor roubar planta do que dinheiros públicos.
Estou tentando, mas ainda não consegui entender o que o jornal quis dizer com isso. Não mesmo.
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
A 1000
Passado um ano, dois meses e dois dias desde que me sentei à frente de um computador e cliquei no botão "Criar um blog", lá se vão 1000 postagens. Esta é a milésima, número esse que inclui seis textos que, após um tempo de exibição, foram suprimidos e agora existem apenas em meu acervo pessoal. Mas, enfim, posso dizer, sem hipérboles, que mil coisas me passaram pela cabeça.
Mil bobagens, mil pensamentos sérios, mil devaneios. Eu, que sempre sonhei em ser escritor, mas não realizei o sonho, acabei escrevendo de fato e alguém leu. Alguém tomou conhecimento dessas ideias, alguém se manifestou. Alguém foi solidário, alguém me fez pensar por outro viés. Alguém enriqueceu o que eu sabia ou me informou coisas de que jamas ouvira falar. Também me criticaram e me disseram coisas feias. E sobre essas feiúras eu falei rindo com minha psicóloga. As ofensas chegaram com anos de atraso. Agora só me atinge o que eu acho que tem um fundo de verdade. Agora eu sei por que as pessoas agridem.
O Arbítrio do Yúdice surgiu sobre o fio da navalha. Podia ter durado o tempo de uma empolgação, mas resistiu além disso. Fui ficando, graças a pessoas tão especiais que conheci através da blogosfera. Por isso permaneço, contabilizando postagens, bobagens, idéias, devaneios, comentários e amigos. Ainda acordo de manhã me perguntando: "sobre o que postarei hoje?"
Mil textos já são muita coisa. Acho que algo de mim, de um jeito ou de outro, ficará. Espero que estejam gostando, como eu. Muitos abraços. Deus nos abençoe.
Mil bobagens, mil pensamentos sérios, mil devaneios. Eu, que sempre sonhei em ser escritor, mas não realizei o sonho, acabei escrevendo de fato e alguém leu. Alguém tomou conhecimento dessas ideias, alguém se manifestou. Alguém foi solidário, alguém me fez pensar por outro viés. Alguém enriqueceu o que eu sabia ou me informou coisas de que jamas ouvira falar. Também me criticaram e me disseram coisas feias. E sobre essas feiúras eu falei rindo com minha psicóloga. As ofensas chegaram com anos de atraso. Agora só me atinge o que eu acho que tem um fundo de verdade. Agora eu sei por que as pessoas agridem.
O Arbítrio do Yúdice surgiu sobre o fio da navalha. Podia ter durado o tempo de uma empolgação, mas resistiu além disso. Fui ficando, graças a pessoas tão especiais que conheci através da blogosfera. Por isso permaneço, contabilizando postagens, bobagens, idéias, devaneios, comentários e amigos. Ainda acordo de manhã me perguntando: "sobre o que postarei hoje?"
Mil textos já são muita coisa. Acho que algo de mim, de um jeito ou de outro, ficará. Espero que estejam gostando, como eu. Muitos abraços. Deus nos abençoe.
Aí, capitalistas: cultura dá dinheiro!
O Sesi Teatro de Bonecos do Brasil, que vai se apresentar amanhã e domingo, no Hangar, deve atingir, com o público de Belém, mais de um milhão de espectadores desde que iniciou sua turnê pelo país. Com isso, é candidato a entrar no livro dos recordes como o maior evento de bonecos do mundo. Para se ter uma idéia da graciosidade do espetáculo, a estrutura leva três dias para ser montada, 10 horas para ser desmontada e gera aproximadamente 900 empregos diretos. (Repórter Diário, hoje)
900 empregos diretos! Ainda que temporários, isso é excelente, pois permite a pessoas viverem de seu trabalho, honestamente. Há um salário e isso injeta recursos na economia, fazendo a circulação da riqueza. O que falta, então, para os capitalistas selvagens investirem mais em eventos culturais? Lucram eles, o público e os trabalhadores.
Além disso, Belém é uma cidade sequiosa de cultura. Apesar das extremas concessões à mediocridade que se veem no âmbito "musical", o povo sempre responde aos eventos, quando existem. Todo Arrastão do Pavulagem é acompanhado por uma procissão. Todo ano as comunidades se empenham em participar do concurso de quadrilhas juninas. O Auto do Círio lota. Faltou ingresso para o Circuito Cultural Banco do Brasil. Todo ano temos um festival de música erudita e outro de ópera, além do concurso de canto, e todos estão sempre cheios e considerados de alto nível pela crítica, em âmbito nacional. Já temos até um incipiente festival de cinema, além da mostra de curtas e do Anima Mundi. Tudo sempre cheio.
Então alguém vai me dizer que não há público para cultura? Fala sério! É investir e ver a coisa acontecer!
Festival de bonecos, eu vou!!
Com ou sem dia de finados
Ao contrário dos textos anteriores, o poema que se segue não versa sobre o dia de finados, especificamente, mas menciona uma possível visita ao túmulo de uma pessoa amada, vista pela ótica de quem morreu! É um de meus sonetos favoritos, que leva às últimas conseqüências os delírios do amor romântico — aquele capaz de vencer a morte.
O coração que bate neste peito,
E que bate por ti unicamente,
O coração, outrora independente,
Hoje humilde, cativo e satisfeito;
Quando eu cair, enfim, morto e desfeito,
Quando a hora soar lugubremente
Do repouso final, — tranqüilo e crente
Irá sonhar no derradeiro leito.
E quando um dia fores comovida
— Branca visão que entre os sepulcros erra —
Visitar minha fúnebre guarida,
O coração, que toda em si te encerra,
Sentindo-te chegar, mulher querida,
Palpitará de amor dentro da terra.
E que bate por ti unicamente,
O coração, outrora independente,
Hoje humilde, cativo e satisfeito;
Quando eu cair, enfim, morto e desfeito,
Quando a hora soar lugubremente
Do repouso final, — tranqüilo e crente
Irá sonhar no derradeiro leito.
E quando um dia fores comovida
— Branca visão que entre os sepulcros erra —
Visitar minha fúnebre guarida,
O coração, que toda em si te encerra,
Sentindo-te chegar, mulher querida,
Palpitará de amor dentro da terra.

Luís Caetano Pereira Guimarães Júnior nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de fevereiro de 1845. Foi poeta, romancista e teatrólogo, tendo se abeberado no Romantismo e no Parnasianismo. Também atuou como diplomata, exercendo suas funções em Santiago, Roma e Lisboa, onde morreu em 30 de maio de 1898, tendo lá se fixado após sua aposentadoria. Foi um dos dez membros eleitos para completar o quadro de fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde criou a Cadeira n. 31, que tem como patrono o poeta Pedro Luís.
Dia de finados — Jorge Luís Borges
Que o mármore temerário não arrisque
ruidosas transgressões ao poder do esquecimento,
enumerando com prolixidade
o nome, a opinião, os factos , a pátria.
Tantos enfeites pertencem às trevas
E que o mármore não diga o que calam os homens.
O essencial da vida fenecida
— a trémula esperança, o milagre implacável da dor e o assombro do gozo —
irá perdurar sempre.
Às cegas reclama duração a alma arbitrária
quando a tem assegurada em vidas alheias,
quando tu próprio és o espelho e a réplica
dos que não atingiram o teu tempo
e outros serão (e são) a tua imortalidade na terra.

Jorge Luís Borges Acevedo nasceu em Buenos Aires em 24 de agosto de 1899. A catarata o deixou praticamente cego, o que o fazia referir-se a sua condição como "um lento crepúsculo que já dura mais de meio século". Faleceu em Genebra em 14 de junho de 1986. Deixou, entre outras publicações, 15 livros de poesia, 6 de contos e mais 10 ensaios.
Dia de finados — Bashô
Dia de finados
Do jeito que estão,
Dedico as flores.
Em se tratando de um haicai, dedico esta postagem ao Oliver, do Flanar. Considerei este poema um dos mais belos que já vi. O motivo você fica sabendo lendo isto:
Este haicai (poema em três versos) foi escrito pelo poeta chinês Bashô, 2000 a.c. Esta tradução é de um poeta brasileiro.
O poema tem um significado difícil de descobrir, mas que depois de descoberto, não admite outra solução.
Para quem gosta de escrever, sugiro esta nova-velha-inédita-bashoana belíssima modalidade de poesia: O poema enigma.
A mera retratação de um pensamento, como veio à mente e sem conexões lógicas, não produz poesia. Uma definição melhor que a do professor da Mari para o Haicai é de um poema miniaturizado com refinadíssimas técnicas. É mais ou menos como um chip inventado há milênios.
Vamos à análise do poema. No dia de finados, as pessoas dedicam as flores, em homenagem aos mortos, arrancando-as do pé e depositando-as nos túmulos. Bashô, no haicai, protesta contra isso. Porque isso é dedicar a morte à morte. Então ele dedica

Em termos filosóficos, é um tributo da vida à morte. Dentro da filosofia oriental, que mostra a morte como a extensão da vida, Bashô dedica vida a vida e não morte a morte. Mas isso já é uma história mais profunda, e nem precisamos entrar nesse mérito para reconhecer uma construção poética perfeita tão sutil que poucos compreendem.
Ao contrário do que dito acima, Matuo Bashô não viveu por volta do ano 2000 a. C., e sim no século XVII. Nasceu em Tóquio, em 1644, e faleceu em Osaka, em 1694. Atribui-se a ele ter codificado e estabelecido os cânones do tradicional haicai japonês. A interpretação do texto, acima, parece bastante acertada, considerando que Bashô professava a filosofa Zen. Conheça alguns de seus haicais.
Dia de finados — Manuel Bandeira
Poema de finados
Amanhã que é dia dos mortos
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai.
Leva três rosas bem bonitas.
Ajoelha e reza uma oração.
Não pelo pai, mas pelo filho:
O filho tem mais precisão.
O que resta de mim na vida
É a amargura do que sofri.
Pois nada quero, nada espero.
E em verdade estou morto ali.

Manuel Carneiro de Souza Bandeira nasceu no Recife em 19 de abril de 1886. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1940. Morreu em 13 de outubro de 1968. Deixou uma obra vasta e famosa, sendo sua primeira publicação poética A cinza das horas, de 1917, da qual você já ouviu falar se escutou a canção Vambora, de Adriana Calcanhotto ("Ainda tem o seu perfume pela casa / Ainda tem você na sala / Por que meu coração dispara se eu sinto seu cheiro / dentro de um livro? / n'A cinza das horas").
Dias de finados — Dalila Teles Veras
Dia de Finados I
O dia dois de novembro
era apenas um feriado
e sempre chovia
Todos estavam vivos
e jorravam primaveras
nas águas da primavera
(a juventude é imortal
imune a intempéries)
Neste dia dois de novembro
do ano dois mil e dois
(não chove – rito e tradição rompidos)
aprendo, pelo desespero da ausência
o significado dos sinos
e o imensurável peso do cinza
(a maturidade é consciência da finitude
susceptível a mudanças climáticas)
Dia de finados II
O dia dois de novembro
era apenas um feriado
e sempre chovia
Todos estavam vivos
e jorravam primaveras
nas águas da primavera
(a juventude é imortal
imune a intempéries)
Neste dia dois de novembro
do ano dois mil e dois
(não chove – rito e tradição rompidos)
aprendo, pelo desespero da ausência
o significado dos sinos
e o imensurável peso do cinza
(a maturidade é consciência da finitude
susceptível a mudanças climáticas)
Dia de finados II
Ofereço-te uma rosa
(gostavas tanto delas...)
orações seculares
poemas enlutados
e este pranto incontido
à beira do teu jazigo
Inúteis heranças lusas
que não lavam dores
nem preenchem vazios
(gostavas tanto delas...)
orações seculares
poemas enlutados
e este pranto incontido
à beira do teu jazigo
Inúteis heranças lusas
que não lavam dores
nem preenchem vazios

Dalila Teles Veras nasceu na Ilha da Madeira, em 1946. Casada com um brasileiro, publicou 11 livros de poesia e 3 de prosa, além de textos sobre obras de outros autores e participação em obras coletivas. Também teve textos adaptados para o teatro. Os poemas acima foram escritos em homenagem à mãe, que considera sua iniciadora nas letras.
Na foto, com a poetisa brasileira Cora Coralina (que é a velhinha).
Dizque de Caxias 3
Para não dizerem que só falo mal, hoje farei um elogio.
Se a intenção é criar uma nova (e inusitada) cultura de respeito aos pedestres, em Belém, é essencial que os agentes de trânsito estejam na rua. Tenho passado diariamente pela Duque e não vejo muitos deles. Quando há, estão nos cruzamentos, como de praxe. Hoje, contudo, eles estavam nas novas faixas de segurança pintadas em pontos sem cruzamento, exatamente onde os motoristas devem aprender a parar, espontaneamente, se alguém deseja atravessar a pista. Para chamar a atenção dos condutores, foram postos nas divisões de cada faixa de rolagem, o que já alerta para uma redução de velocidade. Quem passava na moral, escutava o apito.
É assim que deve ser. Fiscalização diuturna, sinalização ostensiva, ausência de surpresas e atuação preventiva e educativa dos agentes, sem a preocupação de multar. Autuações, só em casos graves. É dessa maneira que, com o tempo — e, no caso de Belém, provavelmente muito tempo —, poderemos aspirar a um tráfego mais humano e seguro.
Mas se fizer corpo mole, bota-se tudo a perder. Se começar a corrida de multas, isso levará o cidadão a entender que a medida não é educativa, e sim arrecadadora, pondo tudo a perder do mesmo jeito. O indivíduo que se acha injustamente punido tende, naturalmente, a confrontar-se com o seu pretenso adversário. É da natureza humana. Freud explica. Se isso ocorrer, o tiro pode sair pela culatra e os motoristas podem ficar cada vez mais aloprados sobre as faixas de segurança, para mostrar insubmissão.
A hora é agora. É educar ou morrer. Não, não é drama. No trânsito, se as coisas funcionam mal, alguém acaba morrendo. Literalmente falando.
Se a intenção é criar uma nova (e inusitada) cultura de respeito aos pedestres, em Belém, é essencial que os agentes de trânsito estejam na rua. Tenho passado diariamente pela Duque e não vejo muitos deles. Quando há, estão nos cruzamentos, como de praxe. Hoje, contudo, eles estavam nas novas faixas de segurança pintadas em pontos sem cruzamento, exatamente onde os motoristas devem aprender a parar, espontaneamente, se alguém deseja atravessar a pista. Para chamar a atenção dos condutores, foram postos nas divisões de cada faixa de rolagem, o que já alerta para uma redução de velocidade. Quem passava na moral, escutava o apito.
É assim que deve ser. Fiscalização diuturna, sinalização ostensiva, ausência de surpresas e atuação preventiva e educativa dos agentes, sem a preocupação de multar. Autuações, só em casos graves. É dessa maneira que, com o tempo — e, no caso de Belém, provavelmente muito tempo —, poderemos aspirar a um tráfego mais humano e seguro.
Mas se fizer corpo mole, bota-se tudo a perder. Se começar a corrida de multas, isso levará o cidadão a entender que a medida não é educativa, e sim arrecadadora, pondo tudo a perder do mesmo jeito. O indivíduo que se acha injustamente punido tende, naturalmente, a confrontar-se com o seu pretenso adversário. É da natureza humana. Freud explica. Se isso ocorrer, o tiro pode sair pela culatra e os motoristas podem ficar cada vez mais aloprados sobre as faixas de segurança, para mostrar insubmissão.
A hora é agora. É educar ou morrer. Não, não é drama. No trânsito, se as coisas funcionam mal, alguém acaba morrendo. Literalmente falando.
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Eu vi primeiro
Na coluna empoucaslinhas, que completa a Repórter 70, de hoje:
Mas em 27 de setembro, portanto há mais de um mês, publiquei uma postagem sobre o assunto, com direito a fotos. Seria isso um furo de reportagem? Ou apenas mais um rombo no nosso patrimônio?
O pavilhão montado na Júlio César, há mais de um ano, para abrigar algumas feiras está abandonado e se acabando. Custou ao Estado R$ 2 milhões. Só de centrais de ar ele tem 30.
Mas em 27 de setembro, portanto há mais de um mês, publiquei uma postagem sobre o assunto, com direito a fotos. Seria isso um furo de reportagem? Ou apenas mais um rombo no nosso patrimônio?
Alegria de rico dura?
A Singapore Airlines — uma das mais requintadas companhias aéreas do mundo — está muito orgulhosa de ser a proprietária do primeiro Airbus A380 em operação comercial no mundo. Trata-se da maior aeronave do gênero já construída, um verdadeiro colosso, com capacidade para 555 almas a bordo — que tirou o sono de muita gente, principalmente devido aos atrasos para a conclusão do projeto e para a entrega do brinquedo pronto.
A Singapore colocou um link com destaque em sua página, anunciando o voo inaugural como um acontecimento histórico. Não deixa de ser.

O A380 oferece serviços que estão sendo considerados "além da primeira classe". Dentre eles, dez cabines do tipo suíte, sendo oito individuais e duas duplas. E é justamente nestas que mora o perigo. Como era de se esperar, alguns passageiros decidiram aproveitar o conforto de uma cama de casal e banheiro privativo para... digamos... deixar fluir os instintos mais primitivos do ser humano. O problema é que, como a aeronave tem baixo nível de ruído, as festinhas podiam ser ouvidas longe, o que deixou muitas senhôuras de cara rubra (ou mortas de inveja). Resultado: a Singapore proibiu sexo nas cabines!
Pelo visto, não é só a alegria do pobre que dura pouco...
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