quinta-feira, 14 de abril de 2011

Idade

Um dia você percebe que está envelhecendo. A partir daí, essa sensação começa a se repetir, num ritmo mais ou menos intenso, a depender de variados fatores. Os temas de suas conversas mudam e, muitas vezes, envolvem filhos ou preocupações. Saúde, também, porque os achaques começam a se intensificar. Também pode acontecer de você se desligar um pouco das manifestações culturais e hábitos presentes, passando a preferir uns mais antigos, que lhe pareciam muito melhores.
Um bom indício de que você está envelhecendo é sentir saudade do passado, de um tempo em que as pessoas eram mais parecidas com o que você reconhece. Em que as pessoas pareciam ter mais qualidades, talvez.
Envelhecer sugere uma sensação de estar algo deslocado no mundo.
Não sei se é isso mesmo ou se sou apenas eu. Desculpe, mas o dia de hoje está tão nublado.

11 comentários:

Arthur Laércio Homci disse...

Amigo, agora fiquei preocupado, porque no auge dos meus 25 anos venho sentindo essas sensações constantemente. Abraços!

Maria Cristina disse...

Embora não lhe conheça pessoalmente, acho que no seu caso a reflexão apenas reflete o dia nublado mesmo. Mas a sensação que você refere de fato acontece, no que diz respeito ao "estar algo deslocado no mundo". A idade traz mais vezes a pergunta sobre qual o sentido do que fazemos, o que de fato conseguimos construir... E a resposta?
Uma outra questão é sobre o sentido do trabalho. Acho que a experiência da aposentadoria não é fácil quando aprendemos a vincular nossa identidade em grande medida à profissão. E, também, temos no trabalho a maior fonte de relacionamentos e de inserção na grande rede da sociedade. Agora, com isso não quero em absoluto concordar com propostas sobre reformulação dos direitos sociais, aumento de idade de aposentadoria e outros temas relativos a redução de gastos públicos em políticas previdenciárias. Para muitos, parar de trabalhar é "começar a viver". Mas a transição produtiva é um desafio.

Yúdice Andrade disse...

Não te aflijas, Arthur: essa sensação de deslocamento anda comigo desde a adolescência. Afirmo que é possível viver com ela. Mas uma terapia ajuda e, em alguns casos, pode ser indispensável.

Cara Maria Cristina, na verdade reflete fatos específicos, mas infelizmente não somente um dia nublado.
Agradeço muito a nova abordagem que você trouxe, que por sinal me fez recordar a aposentadoria de minha mãe. Ela sempre foi muito ativa e com a parada, que não foi exatamente voluntária, sentiu-se mal, deu indícios de depressão - infelizmente, é cabeça dura demais para perceber isso e orgulhosa demais para admiti-lo. Acabou desenvolvendo uma obsessão por lavar roupa! Pode?
Eu realmente queria que ela fizesse terapia, mas se eu sugerir isso, vai se ofender e achar que a estou chamando de doida.
É difícil...

Lilica disse...

Huuum, me parece que Yudice manifestou leves sintomas de um episódio depressivo sazonal...tudo bem, não se aflija, isto ocorre quando olhamos o cenário, e, dependendo do que ele nos evoca, ficamos assim. Já, já passa.

Maria Cristina disse...

Uma nota sobre o lavar roupa: pelo menos no quesito exercício físico, a atividade fica bem colocada, não é? Mas de fato a transição é complexa.

Yúdice Andrade disse...

Lilica, não sei se chega a "episódio depressivo". Mas certamente que não é sazonal!
Seja como for, agradeço o apoio.

Pior é que não, Mª Cristina: ela só fica lá, bajulando a máquina de lavar. Claro que existe algum esforço, mas nada que fosse útil à manutenção da saúde, ainda mais considerando os problemas de saúde dela.

Ana Miranda disse...

Eu, que estou quase na meia idade, não fico pensando nisso, não...
Não me sinto envelhecendo ainda, muito pelo contrário, sinto-me na minha melhor fase.
Filhos criados, muito bem criados, sem falsa modéstia, e uma vida inteira pela frente ainda!!!
Envelhecer também tem seus méritos, saber envelhecer é a melhor parte de tudo.

Maíra Barros de Souza disse...

Professor, acredito que seja uma impressão triste desse dia nublado.
Creio que mesmo com o passar dos anos e com as nossas peculiaridades, que podem acabar por nos deslocar em um ambiente específico, nada pode nos deixar deslocados desse mundo quando temos pessoas que nos amam e nos compreendem exatamente como somos, jovens ou velhos.
Amanhã o sol vai sair. =)
Abraços!

Bia disse...

Querido Yúdice:

Saudades.

Isso tudo que você descreve faz parte do kit "amadurecer sem perder a ternura"...rsrs...

Muitos dias serão ainda mais nublados do que parecem, em outros, apenas o sorriso da Júlia será compensador, e em alguns o sol brilhará de novo e você se encherá de prazer e esperança. Simples assim.

Beijão.

Luiza Montenegro Duarte disse...

É, acho que a sensação de deslocamento independe da idade. Tenho 26 e não me reconheço em muita coisa, não. Graças à Deus, sinceramente!

Yúdice Andrade disse...

Eu me pergunto se saberei envelhecer, Ana. Tenho algumas vantagens: como nunca fui baladeiro e alucinado, não sinto falta de maluquices e irresponsabilidades. Mas sinto falta de coisas específicas e de um tempo menos exigente.

Quando nos sentimos deslocados mesmo assim, Maíra, o negócio é grave. E eu suspeito grandemente que o meu seja.

Bia, que saudade! Venha mais vezes, porque suas palavras, sábias e emotivas, sempre me fazem sentir bem, sorrir, ver as coisas por um ângulo melhor.

Mais uma coisa que temos em comum, Luiza.