terça-feira, 12 de abril de 2011

Um cordel nada encantado, mas necessário

A notícia é velha (do ano passado) e já teve o seu momento de correr a rede mundial de computadores. Mesmo assim, confesso que nunca tomei conhecimento do caso até receber um e-mail a respeito, hoje. Como as pessoas acreditam e retransmitem tudo, sem pensar, tomei o cuidado de checar as informações e descobri que o fato é verídico. Refiro-me a um cordel composto por um dos mais famosos artistas do gênero esculhambando (rectius: falando a verdade) sobre o Big Brother Brasil.
Os leitores do blog, notadamente aqueles que apreciam o dito programa, devem ter observado que, desta vez, não dediquei uma só vírgula a essa baboseira superlativa. Decidi assim porque sempre rola um estresse e, no final, eu estava dando cartaz para a porcaria. Fiz o certo e a ignorei por completo, não estando sozinho nisso, já que a audiência foi significativamente mais baixa nesta 11ª edição, a sugerir que mesmo a patuscada um dia cansa.
Eis-me aqui, porém, falando do malsinado assunto, mas apenas porque eu não poderia deixar de divulgar o cordel de Antônio Barretto, que reproduzo conforme se encontra em http://mais.uol.com.br/view/e8h4xmy8lnu8/o-cordel-de-antnio-barreto-0402983970DC892326.

O educador Antônio Barreto, um dos maiores cordelistas da Bahia, acaba de retornar ao Brasil com os versos mais afiados que nunca depois da polêmica causada com o cordel "Caetano Veloso: um sujeito alfabetizado, deselegante e preconceituoso".
Desta vez o alvo é o anacrônico programa BBB-10 da TV Globo. Nesse novo cordel intitulado "Big Brother Brasil, um programa imbecil" ele não deixa pedra sobre pedra. São 25 demolidoras septilhas (estrofes de 7 versos). Só para dar um gostinho:


Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.


Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.


Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.


Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.


Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.


O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.


Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.


Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.


Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dar muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.


Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.


Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.


A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.


Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.


Talvez haja objetivo
“professor” Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.


Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.


É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.


Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.


A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.


E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.


E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.


E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.


Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.


Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?


Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…

Salvador, 16 de janeiro de 2010.

* * *
Antonio Barreto nasceu nas caatingas do sertão baiano, Santa Bárbara, na Bahia.
É autor de um dos mais recentes e estrondosos sucessos da Internet, o cordel "Caetano Veloso: um sujeito alfabetizado, deselegante e preconceituoso".
Professor, poeta e cordelista. Amante da cultura popular, dos livros, da natureza, da poesia e das pessoas que vieram ao Planeta Azul para evoluir espiritualmente.
Graduado em Letras Vernáculas e pós graduado em Psicopedagogia e Literatura Brasileira.
Seu terceiro livro de poemas, Flores de Umburana, foi publicado em dezembro de 2006 pelo Selo Letras da Bahia.
Possui incontáveis trabalhos em jornais, revistas e antologias, com mais de 100 folhetos de cordel publicados sobre temas ligados à Educação, problemas sociais, futebol, humor e pesquisa, além de vários títulos ainda inéditos.
Antonio Barreto também compõe músicas na temática regional: toadas, xotes e baiões.
O cordel "Big Brother Brasil, um programa imbecil" é imperdível e está completinho aqui, em primeira mão: http://cachacaaraci.wordpress.

9 comentários:

Anônimo disse...

Que perda de tempo.
Supérfluo, vaidade e nada mais.

Anônimo disse...

larga o pé do Bial, cara. tu tá com inveja da grana, da fama e do prestígio. o brasil adora o BB e o Bial.
que sujeito sacana esse Barroto.

Anônimo disse...

EQUAÇÃO LEGAL:
B.B.B = BRASIL, BIAL E BARRETO.
TRIO PODEROSO.
PERFEITO.

Yúdice Andrade disse...

Você estava mesmo a fim hoje, não?

Wilson Franco disse...

Olha, só posso agradecer! não conhecia esses versos! darei uma pesquisada no cara!

Penso tudo isso do BB.

Mas, por outro lado, o controle remoto é seu. "you got the power". Toda manifestação televisiva, cultural(de qualidade ou não) tem seu propósito, por mais medíocre e vago que seja.

Pra não me alongar muito exemplifico: É como o cara que escuta música clássica criticar quem curte seu forró universitário ou seu brega, são estilos com propósitos diferentes e, necessáriamente, o gosto não vai determinar a capacidade intelectual de quem passa horas ouvindo música.

Kayo César disse...

Professor, eu tive a honra de acompanhar suas aulas semestre passado (antiga DI2NA), semestre que me fez refletir em muita coisa, inclusive quando estive contigo numa quinta feira, se eu não me engano, tendo algumas discussões sobre o principio da legalidade. Hoje eu faço a mesma matéria com outra professora, nada contra esta, apenas, fiquei um pouco chateado comigo, poderia ter passado para o próximo semestre, faz-me falta suas lições.
Passando essa parte introdutória, tenho 21 anos sou oriundo de uma família pobre, do sertão do maranhão, que tem na figura paterna, o seu grande líder, o provento do sustento da minha, humilde, família. Estamos no Pará, na antiga capital da Amazônia, agora capital ocidental dela, se por aqui verificamos comportamentos como estes, de completa alienação civil, imagine no lugar de minha origem. Os fatos ecoam muito mais quando estão próximos de nós e falo isso analisando a minha realidade.
Verifiquei, na fase final do BBB, se não podemos dizer "ilustríssimo" programa, um completo feriado nacional e, em umas das páginas sociais, na internet, o referido programa foi, simplesmente, aclamado
É triste que ainda hoje, com a velocidade que as noticias se propagam, ainda percebemos a imensa maioria destes jovens, usando estes meios para atingir outras finalidades, nada-nada afinados com o desenvolvimento intelectual.
Jovens passam horas em MSN/ORKUT e agora Facebook, sem falar no Youtube, dispõe, em alguns casos, cerca de 60% de seu tempo a uma inutilidade publica que serve em regra geral, apenas para entreter, guardada suas devidas medidas, e esquece-se de coisas que poderiam ajudar a construir um futuro, digno e sólido.
Yúdice, seu comportamento é extremamente aceitável, como, me dissestes, naquela quinta feira, "Faz a tua parte, isso faz parte do controle social" como já diziam os outros, é a mágica do capitalismo. YES, WE CAN!

Ana Miranda disse...

Eh...eh...eh...
O jeito é rir para não chorar.
Afffffffffffffffffffff...

Frederico Guerreiro disse...

Excelente postagem!

Yúdice Andrade disse...

Verdade, Wilson. Por isso a minha decisão de passar ao largo do programa: não vejo e não comento a respeito. Só me permiti esta postagem porque a coisa já acabou e a abordagem tem caráter genérico, não se referindo nenhuma edição específica. Eu lá vou dar cartaz para esses merdinhas?!

Pois é, Kayo. Tu nos falas sobre quem realmente merece ser tratado como heroi. Esbarramos, porém, no problema da inversão de valores. Por isso mesmo, fico feliz com a nota de esperança que a tua manifestação traz.
No mais, quem sabe ainda nos encontramos de novo, numa outra oportunidade?

Gargalhemos então, Ana!

Ela rendeu algumas boas manifestações, Fred!