Com este lamento doloroso, chega-se ao trágico desfecho da ópera Rigoletto, de Verdi, a que assisti ontem e sobre a qual postei algumas linhas anteriormente. Após ajudar um jovem duque desprovido de qualquer senso moral a desonrar muitas donzelas e senhoras casadas da corte, e fazê-lo com prazer sádico, o personagem-título prova do próprio veneno e vê a desonra e a morte de sua própria filha. Uma ópera italiana típica, centrada nos eternos temas da vilania, das influências místicas sobre a vida das pessoas (como as maldições) e do amor que busca a morte, pela felicidade do ser amado, mesmo quando ele não merece. Não faltaram nem mesmo os gorjeios de ave canora da soprano Lys Nardoto ("Gilda"), numa atuação cativante.
Também se destacaram Manuel Alvarez, no Titelrolle, e José Gallisa, como o assassino Scarafucile, que fica menos tempo em cena mas, quando nela, sabe ocupar muito bem o seu espaço. Já Leonid Zakhozhaev, que vivia o Duque de Mântua, não empolgou. Basta dizer que, ao primeiro acorde da celebérrima "La donna è mobile", o teatro inteiro se agitou, mas quando ele acabou, não houve reações - e o público, como sempre, aplaudiu milhares de vezes na hora errada, mas não nessa, que seria o óbvio.
Conclusão natural: o cantor não empolgou a mim e aos demais. Minhas fontes do meio musical esclareceram que se trata de um artista consagrado, mas já sentindo o peso da idade. Já não tem o mesmo viço, como prova a sua atitude de erguer o corpo ao fazer os maiores esforços vocais - ao contrário de Lys Nardoto, que mostrou sua força sentada e até deitada.
Um belo espetáculo, sem dúvida; uma música de encher a alma. Mas a produção, como sempre, deixou a desejar - sempre o problema do cenário. De longe se identificavam os materiais de qualidade inferior, pintados de preto. E aquele lurex ao fundo? O que era aquilo, meu Deus?
Mas que venham mais óperas, todos os anos! Não podemos passar sem elas!
PS - Conforme me foi pedido, informo que, graças a Deus, o teatro não estava contaminado por muitos miasmas pútridos. Por lá só passou o saltitante (como diz o Juvêncio de Arruda) secretário de cultura, como sempre mal vestido, inclusive com uma capanga pendurada no ombro. Tudo bem que, em nosso clima quente, não acho necessário ir de terno ao teatro, mas também não precisava ir com a mesma roupa com que vistoriou as obras do Hangar - aquelas do metro quadrado mais caro do país. Fora isso, o teatro estava cheio e agradável.
Agora, segundo se reclama no meio artístico, ele volta a ser o Theatro do Paz - assim chamado porque, no resto do ano, não acontece nada nele...
Um comentário:
Ahahaha...mas a blogosfera ganhou um ótimo cronista.
Quer dizer que o Ghost estava lá...rs
Com todo o respeito, não gosto de óperas.Mas concordo com voce: acho muito importante que elas venham.
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