domingo, 3 de setembro de 2006

Rigoletto


Amanhã se encerrará o festival de ópera deste ano, apresentando a terceira e última récita de Rigoletto, de Giuseppe Verdi (Busseto, 10.10.1813 - Milão, 27.1.1901), esse senhor elegante aí ao lado, compositor italiano que se notabilizou, acima de tudo, por suas óperas. Mesmo quem não gosta do gênero já ouviu alguma melodia verdiana - afinal, isso é o que distingue a música universal e eterna dos hits de ocasião a que estamos quase relegados hoje. Basta citar a célebre ária "La donna è mobile" ("A mulher é volúvel / como uma pluma ao vento / muda de vontade e de pensamento"), justamente do Rigoletto.
Esta ópera mostra a depravação, crueldade e total falta de respeito pelo semelhante que os nobres cultivavam - características que muitos dos nobres de agora, a high society, continuam cultivando. O mote é a obsessão do Duque de Mântua por desvirginar e desonrar (na época, dava no mesmo) as donzelas da região. Rigoletto é seu criado e o ajuda em suas maldades, sentindo um prazer sociopático com isso. Mas suas vítimas lançarão contra ele o mais certeiro dos castigos...
Nestes tempos de política descida aos mais baixos níveis de imundície (que se sabe, pois pode ser que já fosse assim e nós apenas não soubéssemos), a discussão sobre os desvios de caráter dos poderosos e a capacidade de grupos de se opor a isso é muito bem vinda. Pena que os malvados são punidos apenas na ficção. Se o fossem nas urnas, em outubro, já seria um alento.
Amanhã verei Rigoletto. Espero que numa montagem à altura, pois algumas óperas em anos anteriores foram bem fracas no quesito cenário, por exemplo. E sonharei com a punição dos ímpios. Pelo que sei, haverá uns tantos ao meu redor. Xô caô!

Um comentário:

Anônimo disse...

Rigoletto é uma ópera realmente muito forte. A primeira cena já mostra isso, ainda que a segunda tenha uma pulsação menor. É particularmente tocante a figura do bufão no início do segundo ato, gargalhando e tentando disfarçar a dor que vai por sua alma. Magnífica ária e maravilhosa interpretação.
O figurino desta vez ficou bom. Gostei de suas soluções cênicas e o trabalho com o preto ficou fantástico. Infelizmente não foi desta vez que eu pude ver um cenário que valorize o trabalho... sendo mais claro, estava horrível, aliás, como vem acontecendo desde há muito em nosso festival.
Para quem foi vítima das montagens locais de Carmem e Madame Buterfly, Iara e, sobretudo, Rigoletto, foram um alento.