sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Breve histórico de uma exaustão (parte 3)

Em 2002 Lula foi eleito presidente. Naquele momento, eu vivia uma emoção adolescente com o fato. Considerava - e ainda considero - crucial para um país abandonar o hábito de eleger apenas representantes das elites, que jamais tiveram qualquer identidade com o povo que ludibriam e abandonam após eleitos. Eleger alguém de origem humilde é um sinal inegável de avanço da consciência do brasileiro, por isso me emocionei quando Lula, em entrevista, olhos marejados, revelou seu orgulho por ter o seu primeiro diploma: o de presidente.
O problema é que o eleito não correspondeu aos anseios de ninguém, em especial daqueles que, como eu, tantas vezes bradaram que falta de competência tem conserto, mas falta de caráter não. O primeiro ano de governo foi morno. Tantas e tantas ideias arrojadas simplesmente não deslancharam. Nem os programas assistencialistas, tão questionáveis, fizeram o sucesso esperado. Aí começaram os escândalos, motivo da minha exaustão.
A essa altura, já tinha metido a viola no saco e desistido de acreditar até mesmo nos candidatos que antes me inspiravam confiança. Acreditei tanto, defendi tanto, colei adesivos no carro, me indispus com amigos para defender essa turma e recebi de volta a mesma política econômica que me obriga a pagar 27,5% de imposto de renda todos os anos, enquanto os bancos...
Pouca coisa mudou e o preço que pagamos foi a de ver uma sucessão quase semanal de escândalos. Claro que o PT não inventou a corrupção. Ela vem da colonização e só piorou com o tempo. Havia muita safadeza nos governos militares, mas a falta de liberdade impedia que se comentasse - o que faz muita gente, ingênua, supor que aqueles tempos vergonhosos eram melhores.
Grupinhos que se revesavam no poder extorquiram a nação. Quando finalmente um grupo novo chegou ao poder, extorquiu a nação. E o maior dano que provocam com isso é nos roubar a esperança. Permitir que PSDB e PFL, agremiações do que há de pior na sociedade, apareçam como defensores da moralidade - de um "Brasil decente" -, coisa que eles ignoram o que seja, é uma mostra cabal do fracasso do PT.
É por isso que estou exausto. Extenuado de podridão e mau-caratismo. Por mim, Bin Laden podia explodir Brasília, se é que algum dia teremos o Congresso Nacional lotado, para não sobrar ninguém, no Legislativo e no Executivo. Uma meia dúzia de honestos morreria, eu sei, mas tem aquela história de alguém precisar ser sacrificado por um objetivo maior.
Há uma solução mais fácil: votar melhor em outubro. Mas, infelizmente, com um povo deliberadamente mantido na ignorância, o mais fácil se torna, sabe-se lá por quantos anos, inalcançável.

Acréscimo em 4.9.2011
Eu obviamente escrevi uma bobagem ao afirmar que Lula não correspondeu ao anseios de ninguém. Mas, no geral, ele correspondeu aos anseios de uma elite econômica que já fizera a festa nos anos FHC. Em seu governo, a tributação foi ainda mais dura e os bancos enriqueceram muito mais, o que ele mesmo declarou publicamente (este segundo aspecto), cheio de orgulho, já ao final de seu segundo mandato. Por outro lado, para muitos brasileiros que melhoraram de vida, ele correspondeu plenamente. Quem até então só lutava pela sobrevivência não vai pensar em impostos, plano de saúde, desmantelamanto de universidades, etc.

3 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Eu não mudaria uma vírgula de seu comentário, mestre Yúdice. Principalmente naquela parte em que revela que a "falta de competência tem conserto, mas falta de caráter não". Antes um desvio de personalidade. Mas de caráter...? É câncer moral.
Estamos exaustos de tanta falta de caráter, de tanta empulhação. Não sabemos mais em quem votar, que causa abraçar, por que votar. Eu preferiria que fosse possível um presidente que arruinasse o país com sua utopia, mas que pelo menos fosse honesto, ou melhor, sincero. Certo é que não desfrutaria muito do palácio. Mas plantaria uma semente, inderrubável no futuro, quiçá? A semente do resgate de nossos valores, que talvez nunca tivemos em essência.
Em breve, a continuarem as coisas do jeito que estão, honestidade será sinônimo de "otarisse". Ouviremos as crianças falando: "tu é doido, é? Eu quero é ganhar grana!" Aliás, já acontece. Triste. Dinheiro e poder é tudo que interessa em nosso modelo socio-eleitoral, se é que existe. Não há mais sociedade no sentido etimológico. Por isso a misantropia de muitos.
A massa está perdendo os valores mais sublimes. Está sendo guiada para o matadouro eleitoral, sem consciência, sem alvedrio, como o novilho que segue perene o rumo do brete que o levará ao juízo final.
O cinismo é colossal. Repito: a cada eleição temos mais candidatos e menos opções para votar. Todos, sem exceção - aqui permito-me ser radical -, são "farinha do mesmo saco". Um saco que, de tão pesado, já nos causa exaustão.
Já parou para pensar: eu sei mesmo em quem eu vou votar? Conheço o meu candidato? Eu tenho certeza? Se sim, pode ser que a sensação seja de já estar no meio do rebanho, ao toque do berrante.
Ah..., como Zé Ramalho foi clarividente quando cantou: "ê ôô vida de gado... povo marcado ê, povo feliz".

Anônimo disse...

Em 2002 Lula foi eleito presidente. Naquele momento, eu vivia uma emoção adolescente com o fato. Considerava - e ainda considero - crucial para um país abandonar o hábito de eleger apenas representantes das elites, que jamais tiveram qualquer identidade com o povo que ludibriam e abandonam após eleitos. Eleger alguém de origem humilde é um sinal inegável de avanço da consciência do brasileiro, por isso me emocionei quando Lula, em entrevista, olhos marejados, revelou seu orgulho por ter o seu primeiro diploma: o de presidente.


Leonardo-Com todo o respeito, mestre Yúdice, o sr. está equivocado. Primeiro, pq a eleição de alguém de origens humildes no poder não é exclusividade de Lula. Juscelino Kubstchek e Geisel são exemplos clássicos. Até Serra e Alckmin são de origens humildes. Essa estorinha de que o PSDB representa 5 séculos de poder é mais uma mentirinha doentinha do Sr. Lula e seus intelectuais de estrebaria. Qualquer pessoa séria sabe que o PSDB é cria da mesma loba uspiana, a mesma que criou o PT. A única exclusividade petista é um ignorante "nouveau-riche" subir ao poder sem ter o esclarecimento devido no cargo. Não vejo avanço nenhum na gentalha brasileira tomar o poder. Lula é o que pior personifica do politico brasileiro, o patrimonialismo autoritário, o apelo demagógico do assistencialismo paternalista e o populismo grosseiro comum aos latino-americanos. Ademais, sua conclusão é errada desde a essência: Lula tb faz parte da elite! Da feita que ele deixou de ser operário pra ser uma classe político-sindical de liderança, ele automaticamente já virou alguém da elite. Ou vc acha que alguém manda filhos para a França, usa ternos Armani de 2 mil reais e tem uma legião de PC´s Farias pagando seu aluguel, é alguém do povão?

Ademais, o povão miúdo nunca governa e nunca vai governar. Até pq para ser o poder governante, necessita-se de instrução para isso. E mesmo alguém de origens na arraia miúda, se ele tiver o esclarecimento suficiente para governar, ele deixa de sê-lo, para ser membro da casta política dominante.

Por outro lado, vc está errado quanto ao PT. Nunca vi no PSDB ou PFL algo como aparelhamento partidário do Estado, algo digno dos países comunistas. ALiás, é omitido para toda uma população, o envolvimento escandaloso de Lula e do PT com o Foro de São Paulo, uma entidade de esquerdas latino-americanas, uma espécie de internacional socialista, que implicam, inclusive, grupos terroristas, como Farcs e MIR chileno. Quem não sabe que o PT está por trás do PCC, Farcs e MST? Pq será que o Brasil aceitou de mão beijada, a humilhação que a bolivia impós a nação? Claro, o narcotráfico financia uma boa parte das operações de esquerda na América Latina, e provavelmente o PT está envolvido.

Essa é a diferença básica da corrupção petista e a corrupção da direita: enquanto a segunda é apenas enriquecimento ilicito, o outro lado é um projeto ditatorial de poder.

Yúdice Andrade disse...

Leonardo, primeiramente agradeço pela visita tão profunda ao meu blog. Afinal, comentaste um post antigo. No mais, acho que as questões trazidas são interessantes, para se ter uma visão mais completas do tema. Só acho, sinceramente, que precisas serenar um pouco mais teu coração: não há necessidade de, junto com as idéias, apresentar tanto ódio. Os escritores sábios dizem que os adjetivos são a desgraça do escritor.
No mais, quando dizes "Nunca vi no PSDB ou PFL algo como aparelhamento partidário do Estado, algo digno dos países comunistas", incorres numa ingenuidade. Essas mazelas ocorrem até mesmo aqui no Pará, embora em lugar algum Partido seja sinônimo de Governo. Talvez precises perder essa obsessão por ditaduras comunistas.
No mais, "apenas enriquecimento ilícito", que admitiste para a direita, não é algo "apenas"; é coisa muito séria. Abraços de paz.