Em 1985, antes de completar dez anos de idade, assistia pela TV à eleição indireta de Tancredo Neves à Presidência da República e, logo em seguida, sua doença e morte. Presenciei um momento histórico mas, ainda criança, não reunia predicados intelectuais para aquilatar a importância daqueles fatos. Fiquei aborrecidíssimo com um dia inteiro de cobertura sobre as exéquias do presidente eleito e nunca empossado. Preferia ver Pernalonga.
Entre 1985 e 1989, lamentei a falta de dinheiro, mas não soube da incapacidade administrativa daquele tal de José Sarney, que ainda existe.
Em 1989, como um bom alienado, fiquei feliz com a eleição de Fernando Collor. Naquela época, eu odiava o comunismo, embora não tivesse a menor ideia do que se tratava. Lula, para mim, era uma ameaça de retrocesso para um país já atrasado. Ao tempo do impeachment, contudo, eu já estava na faculdade de Direito e a política finalmente começou a me interessar. Adorei o fim do presidente maluquinho e nunca fui ingênuo de achar que os caras pintadas foram responsáveis por isso. E também não achei que o Brasil tinha lavado a imoralidade reinante.
Entre 1992 e 1994, achei que Itamar Franco, como presidente, só serviu para mostrar o assanhamento de um senhor da terceira idade. Nesse meio tempo, votei pela primeira vez. Meu candidato: o parlamentarismo. Perdi.
Em 1994, Fernando Henrique Cardoso foi eleito, inclusive com o meu voto. Tenho ao menos a dignidade de confessar o meu crime. Mas me deem um desconto: eu tinha 19 anos e acreditava no Plano Real. Mas o Curso de Direito me enchia de informações. Comecei a odiar FHC por causa do excesso de emendas constitucionais. O ordenamento jurídico era alterado a todo momento, sempre para beneficiar o presidente. E o último reduto da minha esperança, o Poder Judiciário, desmoronava: suas decisões, mais políticas que jurídicas, sustentavam o projeto de poder do governante da época. Basta citar o escândalo da re-eleição e posterior decisão judicial permitindo ao chefe do Executivo não se desincompatibilizar do cargo, para concorrer à re-eleição.
Em 1998, já considerava o tucanato uma das maiores tragédias da história recente do país. Meu ódio pessoal por FHC só rivalizava com o que nutria pelo governador paraense. Passei a odiar todos os que apoiassem essa camarilha. O desprezo pelo Direito, o governo elitista, a carga tributária escorchante, a propaganda excessiva e mentirosa, a arrogância de pretender deter toda a verdade do mundo, a influência indecente do Executivo sobre o Legislativo, o Judiciário, o Ministério Público e outras instâncias sociais, dentre outros, foram determinantes para esse sentimento, que prossegue, com substanciais motivos. Então votei no PT. Perdi nas esferas federal e estadual, mas havia ganhado um prefeito dois anos antes.
Em 2002, cheio de razão e orgulho, ajudei a eleger Lula presidente, mas não pude impedir a desgraça tucana aqui na aldeia.
Os quatro anos de mandato estão acabando. Alguém quer saber o que penso agora? Numa próxima postagem eu conto, mas o título que escolhi já indica o que vem pela frente.
Acréscimos em 3.9.2011
Passados cinco anos, Sarney ainda existe, ainda é presidente do Congresso Nacional e ainda tem poder demais. O Maranhão, hoje, é chamado de Sarneyquistão. Parece que, para certas coisas, o tempo não passa.
Na época do plebiscito, eu me irritava quando diziam que o Brasil não se afinava ao parlamentarismo nem estaria pronto para recebê-lo, se quisesse. Hoje, tenho a impressão de que é isso, mesmo. Ambos os modelos têm seus méritos e falhas. O problema do Brasil não é ser presidencialista. O problema do Brasil é a sacanagem, mesmo. E essa parece um mal incurável.
Em 1994, eu achava que o Plano Real era obra, senão pessoal, ao menos da iniciativa de FHC. Tem gente desinformada que acredita nisso até hoje.
Meu Deus, eu era um blogueiro passional demais! Até eu estou me achando chato...
3 comentários:
No mês de julho, ao visitar minha terra natal, resolvi verificar junto ao TRE local como anda meu histórico eleitoral, já que nunca votei na vida! Saiu uma extensa lista de justificativas que o servidor até se assustou, mas estava tudo ok. Esse ano, se tudo der certo, vou ter o privilégio (ou dar o privilégio a alguém) de escolher diretamente nossos representantes. Deseje-me sorte.
Yúdice,
Muita calma.
O processo histórico exige tempo para que possamos emitir opiniões mais conseqüentes...
Muito cuidado! O tempo é o senhor da razão.
Abraços,
Pedro
Navi, boa sorte. E em qualquer caso, espero que o Amapá tenha dias mais risonhos daqui para a frente. Tenho amigos queridos lá.
Caríssimo Pedro, sei disso. O post é apenas o desabafo, em conta-gotas, de um brasileiro cansado. Não tenho qualquer pretensão de fazer ciência política, pois nem tenho qualificação para isso. Imagina pessoas tomando um cafezinho num botequim e maldizendo seus infortúnios, sem qualquer cientificidade. Pois é, sou uma delas.
Garçon, vê aí um ovo cozido!
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