quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Breve histórico de uma exaustão (parte 2)

Até uma semana antes das eleições de outubro de 1996, se me dissessem que um dia eu votaria no PT, receberia o meu descrédito. Àquela altura, porém, eu já tinha uma compreensão muito mais decente sobre o socialismo e já via com simpatia os ideais da esquerda. Por outro lado, já estava convencido de que a direita funciona na base do "primeiro eu, depois eu e, por fim, os meus; então, danem-se todos os outros", por isso não poderia votar num tal de Ramiro Bentes, candidato daquele mesmo Hélio Gueiros que, segundo dizem, mandou tirar as telhas francesas de um prédio municipal antigo (aquele da Almirante Barroso, ao lado da RBA) para instalar em sua residência, na mesma avenida.
Aquele ano foi interessante: Elcione (que já não usava o sobrenome Barbalho) começou favoritíssima, mas acabou não indo sequer ao segundo turno. Enquanto ela trocava desaforos com Bentes, Edmilson crescia, sem ninguém se espertar com ele. Quando viram a pesquisa em que ele aparecia em segundo e depois em primeiro lugar, já era tarde. Bentes, um sujeito muito menos carismático que o Picolé de Chuchu, foi derrotado e a cidade se coalhou de vermelho. Era emocionante escutar aquela toada de boi, que fazia sucesso naquele tempo: "Meu coração é vermelho/De vermelho vive o coração..."
Começavam os oito anos de gestão petista no Município. Foi quando me formei e, em maio de 1997, fui trabalhar como assessor na Câmara Municipal de Belém. Aí eu comecei a ver, in loco, como as coisas funcionavam. Edmilson nunca teve maioria na Câmara. A maioria era formada por capachos do governador e tinha a missão precípua de atrapalhar o prefeito, que foi perseguido implacavelmente pelo Legislativo, pela imprensa e, claro, pelo Estado. O jogo situação-oposição funciona assim: se o governo tem maioria no Legislativo, consegue tudo o que quer, por mais imoral que seja a sua pretensão; se não tem maioria, não consegue aprovar quase nada, por mais importante que seja para o povo, aquele que não vale um vintém nessa história. Para Edmilson aprovar alguma coisa, só se fosse um projeto de impacto perante a sociedade, que faria os próprios vereadores ficarem mal na foto se rejeitassem. Ou então tinha que negociar (tenho medo de saber o quê).
A gestão petista não soube explorar a propaganda e se calava quando devia se defender. Foi ineficiente em muitos aspectos, na gestão do espaço urbano, na negociação com camelôs, no relacionamento com o Legislativo, etc. Petistas fazem reuniões demais e tanto falam que não sobra tempo para agir. Deixaram que se criasse a imagem de um governo incompetente. Mas seu grande mérito, além de dar uma trégua nas oligarquias que se revesavam no Município, foi instituir um modelo de gestão participativa, sobre o qual falarei mais em outra oportunidade. E também mostrar que o PT era uma alternativa viável, tanto que, em 2000, contra toda a máquina que o Estado empenhou para derrotá-lo, Edmilson foi re-eleito. E o tracuateuense que caiu por estas bandas de paraquedas teve o que merecia.
Continua.

Acréscimos em 4.9.2011
Hélio Gueiros morreu este ano, em 15 de abril. Cumprindo a tradição de que dos mortos não se pode falar mal, a imprensa e a blogosfera cobriram-lhe de homenagens e virtudes. Nada foi dito em sentido contrário. Então o desinformado devo ser eu...


"Picolé de Chuchu": ironia datada. Quem se lembrará do Geraaaaaaaaaaaaldo por esse apelido?


Hoje, eu tenho uma ideia bem melhor do que se negocia nessas situações em que o Executivo, sem maioria no parlamento, precisa aprovar alguma coisa. Hoje, também sei que essa "análise" da gestão Edmilson foi tosca. Ele nunca foi fácil.


Língua tem osso: o tracuateuense do paraquedas acabou se elegendo e fazendo a pior gestão da história de Belém. Muitas postagens no futuro sobre isso.

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