Não importa o dia do semana: se você folhear os jornais, encontrará uma sucessão de lançamentos imobiliários, em todos os cantos da cidade. Observo isso todos os dias e, por interesse pessoal, presto atenção aos anúncios, à imagem dos edifícios, ao que oferecem, localização, etc. Hoje, domingo, jornal maior, mesmo sabendo do boom imobiliário que anda acontecendo, confesso que fiquei impressionado com a quantidade de empreendimentos. Belém virou, de fato, um enorme canteiro de obras.
Além dos habituais edifícios para gente endinheirada ou ao menos remediada, que pululam em bairros como Batista Campos (ou Jurunas, mas que as construtoras anunciam como Batista Campos, para ficar mais chique), Umarizal ou Marco, a onda da construção civil se expande cada vez mais. Antes, a Augusto Montenegro era espaço para os condomínios horizontais. Não se faziam torres altas lá, porque o preço final do apartamento seria alto, a ponto de só poder ser custeado por pessoas cujos objetivos de vida não envolveriam morar naquela região. Pois os espigões estão chegando lá.
A BR-316 também está sendo tomada. Condomínios horizontais e verticais vão sendo lançados, um após outro, com mil e uma propostas diferentes. Temos desde os pseudo-resorts urbanos, com direito a campo de golfe (alguém por aqui joga golfe, além dos descendentes de japoneses?), onde você pode chegar de helicóptero (até parece que algum dos nossos "ricos" se permite esse luxo por aqui), até os projetos para o público que depende dos financiamentos de trinta anos, para acabar num espacinho de setenta metros quadrados (já tem até menor do que isso).
Os novos empreendimentos já estão em Ananindeua e, hoje, vi o anúncio de um condomínio vertical supostamente requintado em Castanhal. É, meus manos e minha manas: é o pogreço.
Mas ao mesmo tempo em que a indústria da construção civil trabalha num ritmo jamais visto por estas paragens, o outro lado da realidade começa a dar suas caras. Ontem, uma notinha no Repórter Diário dizia que pessoas que pagaram taxa de inscrição desistiram da compra depois de visitar os apartamentos decorados, nos empreendimentos. As empresas não aceitam devolver os valores pagos e o caso pode acabar no PROCON e juizados da vida. Como o mercado imobiliário vive de boato em boato, especulação em especulação, não sabemos ao certo a veracidade e a intensidade do alegado. Mas a nota vai ao encontro do que o meu amigo arquiteto disse. Segundo ele, quando essas milhares de unidades residenciais começarem a ser entregues, daqui a mais ou menos dois anos, a dura realidade vai bater na cara dos compradores: o desencanto virá e as construtoras — especialmente as paulistas, com seus projetos minúsculos — terão que lidar com o descontentamento e a frustração.
Se assim for, vai haver uma boa briga. Lamento pelos prejudicados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário