sexta-feira, 27 de junho de 2008

Futuros aprendizes

Numa época em que praticamente não vejo mais televisão, é curioso que um programa de entretenimento ainda prenda a minha atenção. Mas prendeu e de modo completamente espontâneo: a primeira vez que vi O aprendiz 5 — O sócio foi por acaso. Parei na frente do televisor ligado, de pé mesmo, e fiquei assistindo. A coisa foi me agradando e eu, ficando. Passei a ter vontade de ver os episódios seguintes. E, de repente, flagrei-me olhando o relógio para saber se já era hora do programa, pois queria vê-lo todas as terças e sextas.
Quando comecei a me interessar, a quinta edição já estava em andamento. Jamais assistira ao programa antes, primeiro pela minha aversão natural a reality shows, segundo por ter uma outra aversão, de cunho estritamente pessoal, quanto a quaisquer coisas que tenham a ver com administração de empresas, mercado e esse horrível estilo de vida baseado na cultura do seja-um-vencedor, que na prática significa ganhe muito dinheiro e vá curtir a vida; sem isso, você não é nada.
Foi com surpresa que me vi interessadíssimo num programa ambientado no mundo dos negócios. Devo dizer, porém, que O aprendiz é muito bom, inclusive pela condução de Roberto Justus, interpretando a si mesmo. Para mim, o motivo de interesse reside num aspecto muito específico: as relações interpessoais mostradas. Gosto de ver como as pessoas realizam as provas, cumprem suas tarefas e como se portam na sala de reuniões. Observo sua linguagem corporal, as mensagens sub-liminares e os inevitáveis jogos de palavras, para ocultar o que realmente se pensa. Fascinante.
Ontem, a final do programa causou prejuízos à audiência da Globo, que já não é mais a mesma e agora precisa, sim, batalhar para se manter na liderança. Que também não é mais uma lideraaaaaaaaança...


O aprendiz vencedor e o patrão, numa final de elevada audiência

Após anunciar o vencedor, o engenheiro Clodoaldo Araújo — que desbancou Henrique Sucasas, visivelmente mais preparado, porém derrubado pelo temperamento difícil —, Justus anunciou uma novidade para a sexta edição do reality. Depois de três temporadas contratando funcionários e duas escolhendo sócios, a próxima será O aprendiz 6 — O universitário. A proposta é espetacular: todo brasileiro que esteja cursando uma graduação, inclusive fora do país, poderá inscrever-se e concorrer a um emprego de pelo menos um ano, em uma das empresas de Justus, além de um prêmio de um milhão de reais, "para começar a vida".
Imagine o que representaria para um jovem, ainda nem sequer formado, ter esse dinheiro à disposição e colocar no currículo a experiência profissional em uma grande e bem sucedida empresa. A produção está de parabéns pela iniciativa. Espero que os estudantes brasileiros atendam ao convite e mostrem sua força. Será delicioso ver um grupo de pessoas, de variados cursos e locais de origem (espero), mostrando suas habilidades.
Enquanto isso, na Globo se aguarda mais uma edição de futilidade, imbecilidade e inversão de valores, com o seu detestável Big Brother Brasil. Depois reclamam.

7 comentários:

Anônimo disse...

GLOBO = COCÔ PODRE MISTURADO COM VÔMITO

Yúdice Andrade disse...

Ahahahahah
A Globo pisou no teu pé, hein, anônimo?! De minha parte, faço críticas, mas confessou que sou chegado numa novelinha. Infelizmente, há vários anos não posso mais assistir.

Anônimo disse...

Yúdice, comigo aconteceu algo parecido. Como gosto de assistir ao Doutor House, às quintas, tive um primeiro contato com o "Justus" em uma dessas vezes; e depois já ligava antes do programa só para acompanhar O Aprendiz - pena que perdi a final.
Não consigo deixar de lembrar o tempo todo do Tom Cavalcante interpretando o Robertos Justus, que é imperdível. Concordo contigo que o programa que é uma ótima maneira de observar relações entre as pessoas e com elas mesmas, um bom aprendizado, diga-se de passagem. As dicas empresariais são interessantes tb, mesmo para quem não é do ramo.

Abs!

Luciane.

Anônimo disse...

Sou Globo, SBT, Bandeirantes, Gazeta e qualquer outra emissora menos a Record.

Ainda tenho na memória a imagem do chute gratuito, na imagem de Maria.

Não dou audiência pra Record.



Pronto, falei.

Frederico Guerreiro disse...

Resta saber se os participantes da medonha gincana do Roberto Putus vão ser levados a laboratório, para um estudo neurológico detalhado, para se chegar à causa dos fenômenos pseudointelectuais vistos, uma vez que se não são zerinho quilômetro, devem ter pouquíssimo uso. Que "célebros", ein? Quem acredita que um retardado mental vai ser sócio do Quese-lindo-lindão?

Yúdice Andrade disse...

Parece que fomos atraídos pelos mesmos aspectos, Lu. Beijo.

Anônimo, o seu "pronto, falei" dá a entender que você já espera críticas. De minha parte, não receberá nenhuma. Televisão é um supérfluo e as pessoas são livres para escolher a que assistirão. O seu motivo não é mais nem menos justo do que outros. Só não acho que os profissionais envolvidos nas diversas produções da emissora devam ser penalizados pela política do patrão. Mas isso também é só uma opinião.

Fred, quanta maldade com o empresário-cantor! E se ele te oferecer um emprego, hein? Que tal?

Frederico Guerreiro disse...

Essa é uma hipótese inexistente, meu caro. Há coisas que o dinheiro não compra, amigo. Nem o Credicard. Para mim, uma delas é fazer-me passar por ridículo, ainda que a troco de gazua.
Entretanto, se de alguma forma eu fosse compelido a aceitar essa funesta oferta, certamente minhas colocações seriam editadas e/ou eu seria demitido (para a satisfação do ego do Quase-lindo-lindão e da audiência da Record) logo na primeira rodada.
O dinheiro não regula minha personalidade, minha vida. Acho que não sou um misantropo tão néscio para aceitar uma proposta que, por promessa de pagamento, me coloque ao lado da regressão da intelectualidade da espécie humana. Agora tenho uma carreira para construir. Acho que 99,99% dos meus pares aceitaria, pelo simples fato de que pensam o ofício como uma redenção financeira para a família, colocando o dinheiro como o objetivo maior da carreira; é esse último aspecto o que prevalece na vida de uma grande maioria que não sabe construir em texto o próprio pensamento, justamente porque abandonou a leitura e adotou a tevê como fonte de (in)formação. Fico com o 0,01%.
Ademais, não tenho nenhuma simpatia pela área do marketing, que, para mim, é a grande ferramenta de hipnose das multidões, sempre à serviço de grandes empresas e políticos demagogos.
Roberto Justus é um embuste de si mesmo (perdão, Ivan!); usa a gincana televisiva para se autopromover como empresário de sucesso, para um povo que só entende o sucesso se estiver relacionado à fortuna. E só.