Faz menos de duas horas que entreguei as últimas provas na sala dos professores. Com esse gesto, encerrei o mais trabalhoso semestre letivo dos meus quase nove anos de docência. E que canseira que foi! A quantidade e a diversidade de tarefas foram muito penosas, mas acho que já é tempo de parar de repetir isso. O trabalho está concluído, salvo algum ajuste de última hora. E, honestamente, acho que trabalhei direitinho, o que não me livra de um profundo sentimento de reflexão, neste instante.
Houve uma grande quantidade de reprovações, desta vez. Isto não me deixa nada satisfeito e me conduz, naturalmente, a refletir não somente acerca de minha praxe em sala de aula, no dia a dia, mas especialmente no que tange às avaliações. Estarei eu agindo acertadamente? Continuo achando que se deve oferecer bastante e cobrar bastante, mas talvez esteja passando da hora de pensar em outras formas de avaliação. Tenho cogitado de instrumentos mais diversificados, mais criativos, menos tradicionais. Infelizmente, sabe qual é o maior obstáculo para implantá-los? Os próprios alunos! Não sei os outros cursos, mas em Direito há uma rejeição, às vezes veemente, a aulas que não sejam as vetustas preleções e a avaliações que não sejam as manjadas provas escritas, onde se depositam conteúdos mais memorizados do que assimilados. Esse tipo de constatação me deixa aflito.
O modelo educacional brasileiro está petrificado no tripé conceito-exemplo-exercício. Para onde olho, é isso que vejo ser feito. E é isso o que eu faço! Mas fugir disso é um desafio para poucos, já que todo o sistema está organizado assim. Só sabemos fazer isso e nem o sistema, nem a generalidade dos professores, nem os alunos querem uma mudança refletida. Inclusive porque, provavelmente, ela seria muito trabalhosa.
Como o magistério é o meu único amor absoluto no campo profissional, frequentemente me vejo às voltas com ideias românticas, delírios a Paulo Freire e congêneres. Desejos de viver experiências acadêmicas singulares, profundamente humanas. Mas eu mesmo não tenho muita clareza do que isso significa. Por conseguinte, a ordem é meter a cara nos livros sobre educação, conversar com quem entende do assunto, trocar idéias com outros educadores e experimentar. Profissional experiente não é o que repete há anos a mesma coisa, e sim aquele que experimenta.
O que me vale, nessas horas, é ter esperança. Vou continuar tentando. Até acertar.
2 comentários:
Eu acho legal quando os professores mudam a forma de avaliar o aluno, saindo da clássica prova escrita, onde os alunos que não levam nada a sério perdem mais tempo preparando maneiras de colar do que estudando. Nesse semestre que acabou, por exemplo, gostei da iniciativa do Prof. Alexandre Rodrigues de fazer um júri simulado com o caso da morte de Euclides da Cunha, usando como base o livro Crônicas de uma tragédia inesquecível. Pena que a greve dos rodoviários estragou a programação dos júris e acabamos por fazer trabalho escrito mesmo.
Fico penalizado de o meu amigo Alexandre não ter conseguido realizar esse júri, Ivan. Idéia magnífica, sem nenhum favor. Pretendo conversar com ele para, quem sabe, costurarmos tarefas desse gênero oportunamente.
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