Aqueles que se consideram acima de todo bem e de todo mal — os jornalistas — estão furibundos com a decisão judicial que, atingindo os jornalões locais, que dispensam apresentações, proíbe estes de publicar as imagens tétricas de cadáveres, a que se acostumaram. Estão dando sucessivos pitis desde então. Hoje, apelam para uma suposta revolta dos leitores contra a medida.
Pode até ser. Não faltam leitores para esses cadernos pustulentos. De minha parte, nunca entendi porque o crime e a violência precisam ter um caderno específico, diário e grande nos jornais. Até entendo a utilidade social de informar o público sobre os riscos do nosso mundo, mas duvido dos fins imediatos e condeno a forma como isso é feito.
Algo que considero inquestionável, porém, e só não vê quem é burro ou está mal intencionado, é que nenhum dos jornais reconhecidos como de alto padrão de qualidade de conteúdo explora o mundo cão, por meio de imagens aterradoras. Aliás, esse é um indicativo de qualidade. Quanto mais sangue e sensacionalismo, pior o jornalismo. Ou seja, os nossos provincianos ao tucupi estão lutando pelo direito de ser medíocres! Isto sim é o mundo cão.
Mas como a burrice e as más intenções precisam ser escamoteadas, ficamos nesse discursinho exaustivo de "liberdade de expressão", "censura", "nem nos tempos da ditadura" e outros clichês ridículos, sacados de dentro da cueca toda vez que a sociedade, ainda que apenas algum segmento específico, reage contra os abusos da imprensa, que são muitos e cotidianos. Mas quem tem o poder da comunicação não aceita, por nada no mundo, ser limitado. E se prevalece no trágico passado deste país — de perseguição nos tempos da ditadura — para corromper os fatos e fazer a cantilena da perseguição à imprensa.
A guerra ainda não terminou e, lamento dizer, acredito que haja boas chances de o mal prevalecer, como normalmente acontece (não pelo melhor direito, claro). Mas enquanto isso podemos comemorar a melhora do padrão visual dos jornais. E podemos comemorar, também, a raivinha dessa turma que bem poderia estar, agora mesmo, estudando para fazer um jornalismo melhor.
E tenho dito.
PS — Vale lembrar que o Poder Judiciário só age mediante provocação de alguém. Por isso, ao decidir, ele não se intromete indevidamente nas vidas alheias ou no exercício de atividades, como afirmam algumas estultices que acabei de ler. Ele resolve uma demanda que lhe foi proposta voluntariamente por quem se sentiu prejudicado, dando razão a um dos lados. Aliás, é a Constituição deste país quem diz que o Judiciário existe exatamente para isso.
2 comentários:
Sua análise foi de extrema lucidez. Concordo plenamente e assino embaixo. E digo mais: quem gosta desse tipo de conteúdo é vampiro, não leitor.
Um forte abraço!
Adelino Neto
Salve, Adelino. Grato pela concordância e pela ótima tirada. Outro abraço, com meus votos de que teus comentários estejam sempre por aqui.
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