segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sobre a passagem do Iron Maiden por Belém

Meu caso pode ser meio diferente do normal, mas o fato é que na adolescência eu escutava Mozart. O rock é que veio depois e, mesmo assim, fugindo àquela pressão sonora que enlouquecia a cabeça dos mais velhos. Nunca escutei heavy metal nem jamais me interessei pelo estilo. Mas hoje não tenho nada contra e confesso até uma certa curiosidade. Escutei uma longa conversa entre dois roqueiros, na última sexta-feira, que debatiam, trocavam informações e, de vez em quando, cantarolavam alguma canção de uma de suas bandas favoritas. Eu me diverti ao escutá-los.
Seja como for, meu contato com o Iron Maiden se limitou a ver o avião deles estacionado no aeroporto, quando passei pela Av. Júlio César na manhã do último sábado. Eu não iria ao show sem conhecer o trabalho da banda e, mais importante, hoje em dia, é preciso haver um motivo extraordinário para eu me meter num show, onde somos tratados basicamente como gado. Em pé, durante muitas e muitas horas, aguardando um evento, eu só ficaria se esse evento fosse o resgate dos justos pelo próprio Jesus Cristo. E olhe lá.
Mas duas impressões me ficaram, a partir de conversas que tive com algumas pessoas.
Primeira: cobra-se absurdamente por um espetáculo dessa natureza, aqui em nossa cidade. O empresariado local é muito sacana, o que se constata por duas características: a mentalidade tacanha e a busca por maximizar os lucros de um modo covarde. Para ter acesso à área VIP do show do Iron Maiden, era preciso pagar 600 reais. E por esse preço você teria direito a quê? Somente a ver a banda mais de perto. Lá no Brasil, pagando menos do que isso, uma área VIP pode oferecer melhor infraestrutura, buffet e open bar (parece que aqui teve uma comidinha, também). E não me venha falar em custos. Sei que há custos diferenciados para uma cidade mais distante, porém nada que explique tamanha disparidade.
Segunda: não se realizam em Belém shows com gente que está no auge da carreira. Por aqui, é um negócio de Gloria Gaynor, Air Supply e uma trupe que pode até ser bacana e ter uma legião de fãs, mas que, convenhamos, são artistas no ocaso de suas carreiras, até mesmo por conta da idade. Sim, eu sei que grandes ícones não envelhecem; sei também que o Iron Maiden se mantém firme e enérgico, tendo agradado aos fãs que superlotavam o espaço. Minha pergunta é: eles teriam vindo aqui se estivessem tão no topo como em outras épocas e não precisassem ser beneficiados pelo saudosismo?
Pelo amor de Deus, roqueiros: não estou diminuindo a banda nem o show que realizaram aqui. Meu questionamento se dá em razão da impossibilidade de termos, por aqui, um evento do tipo U2 e Paul McCartney, só para citar os que mais recentemente sacudiram o país. Belém poderia ser um ponto de aglutinação dos fãs do Norte e Nordeste. Mas aí voltamos à mentalidade tacanha.
Uma lástima.

8 comentários:

Anônimo disse...

Aguardemos o show do Elvis Presley. Já está com 76 anos, mas ainda canta "Don't be cruel" e "Hound dog" como um garotinho.

Kenneth

André Uliana disse...

Amigo Yúdice,
É claro que gosto musical é uma questão muito delicada. Eu, ao contrário de você, não escutei Mozart na adolescência, escutei, e ainda escuto, Heavy Metal mesmo. Mas não se preocupe, eu passo muito longe do modelo “Existem dois tipos de música, a que eu gosto e a que não presta”. Com exceção de algumas aberrações que ouvimos diariamente pelas nossas rádios, canais de televisão e também pelas ruas, sou um apreciador de vários estilos musicais. Apenas uns me atraem mais que os outros. Lembre-se que há poucos dias eu estava aqui defendendo a Shakira.
Sobre os seus questionamentos, o que posse dizer é que realmente não achei o show caro. Pelo que observei em relação ao mesmo evento, feito em outras capitais, o preço foi igual ou menor. Acontece que em Belém fazem uma malandragem de colocar o preço lá em cima e cobrar meia de todo mundo. No final das contas quem foi pra área VIP pagou R$ 300,00 e pra pista R$ 100,00. Sendo muito sincero, pela qualidade do show e pelo equipamento que a banda traz, não achei um absurdo.
Quanto à segunda parte, acho que você se equivocou quanto ao “auge da carreira”. O Iron Maiden é o ícone máximo do Heavy Metal. Se compararmos com os citados U2 ou Paul McCartney, não vejo diferença entre os três em importância deles para a música mundial. São todos artistas com décadas ininterruptas de sucesso e que atraem público de diversas gerações.
No fim das contas fiquei muito feliz com o show. Foi uma experiência gratificante escutar o Iron ao vivo. E fico mais feliz ainda sabendo que o show foi um sucesso e pode abrir portas para outros eventos de grande porte.

Yúdice Andrade disse...

Quero ver o vozinho Elvis requebrando, Kenneth!

André, espero ter ficado claro que não escrevi nenhuma crítica baseada em gostos pessoais. Aliás, não teci comentários sobre o trabalho do Iron Maiden, seja sua obra, seja esse show específico. Minha crítica é mesmo quanto ao comportamento dos empresários paraenses.
Sobre eles não estarem no auge, admito a minha ignorância. Posso estar equivocado, por conta dessa coisa de artistas imortais. Mas deixei o texto, propositalmente, para ver o que me respondiam.
No mais, espero que esse evento cumpra mesmo essa finalidade de abrir portas para grandes eventos, em futuro próximo. Tomara.

Thiago Diniz disse...

O Iron Maiden veio pra Belém porque está decadente ou o empresariado de Belém está querendo evoluir e entrar na rota dos grandes shows?
A cidade cresceu não tem rockeiro só na praça da república tem uma imensa demanda reprimida pra esse tipo de evento, 100 reias não é caro pois pra quem gosta mesmo não existem barreiras pra realizar os sonhos. Costumo sempre viajar atrás das bandas q curto, já vi AC/DC em SP, Rush no RJ mas a sensação de assistir um show dessa importância em casa não tem palavras....

Alê G. disse...

À leitura, de fato, nada a acrescentar à crítica de extrema pertinência quanto à mentalidade tacanha do empresariado local. O fato de não termos um local decente para receber, ao menos com classe, tais ícones musicais, é, no mínimo, vergonhoso. E ícones digo por concordar com o comentário do André acima, onde Iron Maiden, bem como os citados U2 e Paul, são de fato ícones musicais atemporais, merecendo tais aglutinações de fãs apaixonados e grandes admiradores por onde passam.
Não resisti, entretanto, a comentar a respeito da congruência entre este tão mal visto Heavy Metal e a dita erudita Música Clássica. A divergência tão gritante aos olhos de tantos, na verdade, é mínima. Ocorre que, diferente do Punk, o Metal não é um estilo feito de barulhos desconexos, de berros ou apenas atitudes loucas. De fato, a grande influência melódica no Metal é, justamente, a Música Clássica. Não apenas Mozart, mas além dele, compositores bem mais eruditos. Por sinal, um dos meus CDs preferidos, e que não pode faltar no meu carro é um gravado pelo Metallica em conjunto com uma Orquestra Sinfônica (Metallica & Symphony – mais literal, impossível).
Dizem por aí, o que posso até concordar que é um tanto exagerado, que nos dias atuais quem quer ouvir música clássica fora do teatro e com guitarras pode buscar por shows de metal melódico, metal sinfônico ou power metal – estilos estes que merecem elogios, por sinal. Inclusive nosso Angra inspirou-se em passagens marcantes de Vivaldi para compor sua famosa música Carry on.
Não é apenas no instrumental e em temas de passagens épicas que há a inspiração do Metal e sua convergência com a Música Clássica: o vocal é, também, nessas inspirado. O cantor desta banda que veio nos prestigiar na última sexta, utiliza técnicas vocais dos amados (ou odiados) cantores operísticos, que visam alcançar a platéia sem o uso do microfone.
O show, por sinal, foi quase indescritível. Uma experiência maravilhosa, inesquecível. Um show que pôde ser aproveitado do início ao fim, fazendo os trocentos “corações de metal” presentes vibrarem e quererem bis. Show – este que eu, e muitos, acreditamos que seria uma peça, de muito mal gosto, de Dia da Mentira – aconteceu. E em momentos de ociosidade, ainda me pego revivendo minhas memórias desta experiência.
Que as portas se abram.

Yúdice Andrade disse...

Certamente, Thiago. Por isso, fico na torcida para que Belém esteja mesmo entrando no circuito. Mas temos muito feijão para comer, se quisermos ser um destino viável.
Quanto ao público para música, é notório que ele existe e para todos os estilos. Belém não esqueceu de todo os tempos em que glorificava a cultura.

Alessandra, você mereceu maior destaque.

Frederico Guerreiro disse...

Yúdice, seria show de bola te ver bangueando ao som do AC/DC... rsss...

caio disse...

http://www.orm.com.br/amazoniajornal/interna/default.asp?modulo=829&codigo=525280

http://www.orm.com.br/plantao/noticia/default.asp?id_noticia=524675

As duas matérias enumeram motivos complementares para apreciar o grupo: são cultos e uma simpatia de pessoas (exceto, claro, quando fãs sem noção foram importuná-los no meio da refeição no hotel; ouvi relatos de que estes não tiveram a mesma "acolhida").

Uma das matérias cita a música "Alexander the Great", de óbvia temática. Há também "The Trooper" (sobre uma batalha da Guerra da Crimeia), "Aces High" (da Batalha de Londres - II Guerra -, a primeira a ser exclusivamente aérea), "Run to the Hills" (sobre a dizimação indígena nos EUA; das que eu conheço, a mais dramática), "The Evil that Men Do" (de um poema do Shakespeare), "The Number of the Beast" (inspirada em um dos filmes de A Profecia), "2 Minutes to Midnight" (Relógio do Juízo Final; essa hora dele teria ocorrido em 1953), "Hallowed By Thy Name" (pena de morte)... conheci a maioria há menos de uma semana e já falo como fã! Haha.

Uma das matérias sugere até antitabagismo dos músicos. Para o Bruce Dickinson ter aquele vozeirão melódico, eu não duvido. Mais limpo que Tim Maia em sua desintoxicada fase Racional :)