terça-feira, 5 de abril de 2011

Para onde foram os acentos?

Nos dias de minha infância, os nomes próprios, quando escritos, eram acentuados, exatamente como qualquer outra palavra. Era o tempo dos Antônios, dos Fábios, das Bárbaras, das Patrícias, etc. Mas vieram os estrangeirismos, os kk, hh, yy e outras firulas, de modo que, hoje, em qualquer rincão de meu Deus pode surgir um Prince Whellyhngtthon ou uma Khattherynne Dhayahnne. Com isso, deu-se um processo de dissociação entre nomes de pessoas e as regras da Língua Portuguesa, como se aqueles não fossem subordinados a estas.
Assim, o mundo ficou cheio de gente chamada Antonio, Vitor, Jessica, Natalia, o que exige de nós uma certa dose de condescendência, para não os chamar de Antonío, Vitor (o r, ao final da palavra, é tônico), Jessíca, Natalía, etc. É como se tivéssemos todos a obrigação de conhecer a pronúncia correta do nome, o que pode ser simples na maioria dos casos, mas como vou saber se o sujeito é Artur ou Ártur? Davi ou Dêivid? Sem acento, Pamela soa como aquele artefato no qual cozinhamos.
E com tantas barbaridades em termos de nomes de seres humanos, a preocupação é cada vez mais atual. Mas talvez as pessoas pensem que, se palavras estrangeiras devem ter respeitadas as regras fonéticas alienígenas, o mesmo deve acontecer em relação às aloprações que fizermos por aqui. O difícil é desvendá-las!
Já me perguntaram se o nome de minha filha levava acento. Respondi secamente: "Claro." Claro, ela se chama Júlia, não Julía.
Costumo dizer que um sujeito chamado Yúdice não pode criticar o nome de ninguém. Mas pelo menos o acento faz parte de minha identidade. O pouco que restou de coerência aos meus pais, antes de me condenarem no registro civil, foi empregado para acentuar corretamente a palavra.
Enfim, admito que esta seja uma questão de somenos. Mas eu realmente preciso perguntar: qual o problema de escrever o acento em cima do nome? Não custa nada!

10 comentários:

Ana Miranda disse...

Yúdice, eu também não abro mão do meu acento e fico brava se alguém escreve Lúcia sem acento.

Edyr Augusto Proença disse...

Apoiado!
Abs

caio disse...

Também não gosto. Sou até mais radical nessa questão. Não veria problemas se os cartórios do país fossem proibidos por lei a registrar brasileiros com prenomes estrangeiros (e, principalmente, "estrangeirizados"), a não ser que ao menos um dos pais fosse de fora e quisesse um nome de sua língua para a criança.

Uma das coisas que gosto no futebol é ver como ele transmite certas realidades locais. Dentre alguns jogadores brasileiros, só para ficar nas invencionices, há Jadson, Nadson, Madson, Valdson, Mithyuê, Halisson, Allyson, Uéslei, Maicossuel, Ailton, Gerson, Liedson, Wescley, Elson, Richarlyson, Denilson, Edilson, Edmilson, Keirrison, Harison, Sidní, Maicon, Kleberson, Adailton, Admilson, Wilton, Ewerthon, Weverson, Jeovânio, Geovani, Genilson, Élber, Dener, Jobson, Iarley, Valber, Velber, Welerson, Athirson...

Não deixa de ser curioso que muitos outros nomes vêm do que eram originalmente sobrenomes. Do inglês, Edison, Milton, Nelson, Junior, Anderson, Jefferson, Robson, Wilson, Wendell, Washington, Wellington, Gladstone, além de "paródias"; do italiano, Donizetti virou Donizete; do holandês dos tempos de Nassau, Van der Leij se transformou no do técnico do Flamengo (não sei se Vanderson também veio das terras batavas); do alemão, Walter e Wagner ficaram Válter e Vágner...

Creio que, no que se refere ao acento (ou melhor, a falta dele), o anglofilismo (a outra face atual de certo "complexo de vira-lata" - vê-se pelo nome do autor desta expressão, por sinal, que tal face já tem uns 100 anos, pois o Nelson Rodrigues nasceu em 1912) também teria sua contribuição aí, pelo inglês ser uma língua sem diacríticos.

Eu não aprecio bairrismo (não é minha intenção aqui diminuir alguém pelo nome, nem de me mostrar contra mestiçagens entre as pessoas, que fique bem claro a quem porventura eu venha a ofender), mas, sei lá, um pouco de orgulho da língua nacional não faria mal... pensando bem, deixa eu ir cuidar da minha vida. Abraço!

Wirna disse...

Professor, meu nome não leva acento e nem acho que deveria, mas o meu companheiro se chama Luã e apesar de sua certidão de nascimento estar "Luã", todos os demais documentos dele, como RG, CPF, Passaporte tudo está "Lua" pois as máquimas não imprimem o til, acredita nisso? Acho que isso prejudica também. Às vezes o nome da pessoa até leva acento, mas os documentos dizem o contrário.
Luã está morando em Portugal e sempre que lhe pedem seu documento, ou a empresa de telefonia lhe telefona para oferecer promoções falam: "Bom dia, Sr. Lua"... ninguém merece.

Maíra Barros de Souza disse...

Concordo plenamente, adoro meu acento!

Yúdice Andrade disse...

Ana (Lúcia? eu não sabia), Edyr, Caio, Wirna e Maíra: engraçado como achei esta postagem boba, mas no final ela acabou chamando a atenção. Folgo em saber que mais pessoas concordam comigo.
Com efeito, Wirna, o teu nome dispensa acento por causa da tonicidade do "r". Mas coitado do Luã. Eu mesmo já chamei um aluno de Lua, em plena sala de aula, na primeira chamada. E isso tem uns dois anos, mais ou menos. Fora outras derrapadas, algumas das quais me inocento, porque seria impossível conhecer a pronúncia do nome.
Quanto à ausência de acentos em documentos, é mesmo uma tolice injustificável. Não há nenhuma razão plausível para que os nomes não apareçam corretamente escritos. Aliás, existe uma razão importantíssima para que estejam corretos: assegurar a correta identificação do indivíduo.

Luiza Montenegro Duarte disse...

"Antes de me condenar no registro civil"? Hahahaha. Morri! Juro que não acho teu nome estranho.
Adoro meu nome, mas gostaria que ele não suscitasse dúvidas. Sempre tenho que esclarecer se é com "z" ou "s". Atualmente, já me adianto aos que preenchem um cadastro: "Luiza com z". Já o vi grafado com acento, mas, apesar de uma certa ignorância em relação a algumas regras gramaticais (escrevo certo por intuição, eu acho), tenho a impressão de que é desnecessário. Uma redundância a uma sílaba que já é forte. Estou correta?

Yúdice Andrade disse...

Acho que as pessoas se acostumam, Luiza, e passam a achar meu nome normal. Mas se eu contasse todos os transtornos que já me causou!
Quanto a "Luiza", segundo a escritora Regina Obata, num livro sobre significado de nomes, a forma correta seria, de fato, "Luísa", porque feminino de "Luís". Assim também "Filipe", que é a forma correta, em vez de "Felipe".
Mas o que a autora chama de correto tem a ver com a origem histórica dos nomes. Fica difícil dizer que uma forma é mais correta que outra. No mais, como o "z" gera tonicidade, Luiz dispensa acento, mas a forma feminina precisaria dele, porque o "a" tirou a tonicidade. Oficialmente, tu és "Lúiza".

Luiza Montenegro Duarte disse...

Esse tipo de coisa gera traumas, viu? Como vou continuar vivendo neste mundo, sabendo que meu nome está grafado errado e que me falta um acento? Será que nem com o Novo Acordo Ortográfico ele se endireita? haha

Yúdice Andrade disse...

Não, a reforma ortográfica não te ajudará nisso, Luiza. Mas tenho certeza de que vais superar! Afinal, eu dei conta do Yúdice Randol...