terça-feira, 6 de outubro de 2009

800 mil mortos

Idelphonse Nizeyimana. Poderia ser o nome de um escritor, p. ex. Alguém que, com sua arte, houvesse contribuído para um mundo melhor. Mas ele é, tão somente, um dos principais responsáveis por um dos piores crimes de que se pode ter notícia o genocídio. Foi perpetrado em Ruanda, no ano de 1994, e deixou um saldo superior a 800 mil mortes. Foi mais um dos conflitos étnicos que rasgam a superfície do continente africano até hoje. Étnico, segundo afirmam as ideologias locais, mas subvencionado por muita gente interessada em vender suas armas para esses países, como se fosse um comércio como outro qualquer.
"Não é minha guerra", diria Yuri Orlov, protagonista do filme O senhor das armas (Lord of war, dirigido por Andrew Niccol, 2005). Sem dilemas de consciência, o personagem interpretado por Nicholas Cage explicava, na ficção, qual é a realidade: países ricos, fabricantes de armas, notadamente os Estados Unidos, fomentam ódios raciais e disputas de todo tipo, para que eclodam guerras e eles possam vender suas armas. E não apenas armas e munição, mas todo tipo de material bélico, de ataque a contra-ataque, remédios adquiridos pelos governos para atender as populações atingidas, etc. Tudo comercializado para os dois lados, simultaneamente.
Felizmente, Nizeyimana foi preso anteontem e será julgado pelo Tribunal Criminal Internacional para Ruanda. Naturalmente, não há nenhuma resposta possível a esse tipo de criminoso. Nem mesmo os adeptos da pena de morte podem cogitar de uma. Não se morre 800 mil vezes.
A imagem ao lado mostra um memorial aos mortos nessa tragédia, que abala a nossa compreensão sobre a humanidade.

4 comentários:

Jean Pablo disse...

Queria saber onde estava a ONU neste contexo? Aliás esteve lá e saiu na calada da noite, afinal no que lhe interesse fazer intervenção num Estado que pouco representa economicamente no cenário mundial?

A Guerra Civil foi armada. Tal potencial armamentício veio justamente de quem? Dos que 'contribuem' com 22% do orçamento da ONU, tente advinhar...

Por que não se debate sobre genocídio causado pelo Imperialismo durante décadas?

Sicneramente perdi a confiança no Direito Internacional e, principalmente nos seus organismos que viraram fantasmas sem nenhum poder. O Direito Internacional morreu após o 11 de Setembro. A partir de então atos unilaterais e arbitrários, contrários aos princípios do Direito Internacional estão continuamente sendo violados.

Realmente não acredito mais em Direito Internacional...

Abraços Primo

Yúdice Andrade disse...

Um protesto bastante contundente, Jean. Com efeito, as críticas quanto à ineficácia do Direito Internacional não vêm de hoje. Pelo contrário. Ele é um instrumento questionado desde os seus primórdios, já que depende do elemento cooperação internacional, que sempre esteve no fio da navalha.
No final das contas, a comunidade internacional reproduz a dinâmica interna dos pacientes: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Daí que a ideia de soberania não passa de uma utopia, para muitos povos.

Anônimo disse...

Dizem que uma imagem valem por mil palavras, essa imagem calou-me.
Sem comentários.
Ana Miranda.

Yúdice Andrade disse...

E a ideia de isso ser um memorial, então, Ana? Se aquela famosa capela de ossos de Portugal já causa mal estar em muitos, imagine um conglomerado de esqueletos de pessoas vítimas da insanidade?