quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Discursos de neutralidade

Do comentarista Nilson Soares, a respeito da postagem "Conveniente", duas abaixo desta:

Salve, toda vez que escuto essa baboseira de que o juiz é neutro, de que ele representa o Estado (jurisdição) e coisas do tipo me sinto cansado...
Só acho interessante observar que foi justamente no séc. XIX, quando a burguesia já era a classe dominante (e se agrava o risco social dos trabalhadores) que não por acaso surgem os discursos científicos da neutralidade do cientista social, com Comte e mais elaboradamente com seu discípulo Durkhein. E esse engôdo foi levado para o direito, e no Brasil até hoje faz escola.
Honestemente desconheço, no Brasil, literatura que discorra objetivamente sobre o discurso da neutralidade dos administradores da justiça e os resultados de suas ações.
Como não há discussão, e principalmente, como temos um bando de analfabetos funcionais nas faculdades, todo tipo de justificativa é apresentada sem qualquer pudor.

5 comentários:

Anônimo disse...

Uma alternativa contemporânea para a fundamentação positivista é a assim chamada ética discursiva, que rompe definitivamente com a idéia do sujeito neutro e do livre arbítrio possivelmente incondicionado. Há entretanto muitas variantes para isso que eu mencionei acima, a mais discutida hoje no Brasil é sem dúvida a posição defendida por Habermas que, entretanto, já é bastante criticada na Europa.
A consepção discursiva advém da idéia jogos de linguagem de Wittgenstein, parte do princípio de qua a racionalidade é antes de tudo comunicativa. O puro sujeito, ou a consciência neutra, só assim o é (seria) se em relação de significação para outra consciência. Para simplificar, o Cogito cartesiano apenas é possível quando comunicado e, desse modo, ele não pode ser neuto ou objetivamente incondicionado, pois se origina no jogo de significações condicionadas da linguagem, cujas possibilidades são infinitas. Diante disso são necessárias outras auternativas para a legitimação universalisante da lei, mas isso é uma outra estória.

Nilson Soares disse...

Cumã?

Anônimo disse...

Caro Nilton, Não fui eu quem escreveu a postagem acima. Entretanto, o autor tem razão ao lembrar da ética do discurso de Jürgen Habermas como alternativa de legitimação às "opiniões das autoridades". Já que esse assunto lhe interessa, é uma boa oportunidade para se informar sobre o assunto. Aconselho o blog de André Coelho para começar (disponível dentre os favoritos do Yudice). É importante que não fiquemos apenas nas reclamações. Certamente quem leu Comte e Durkheim tem experiência suficiente para compreender leituras dessa natureza.
Sds, Daniel Silveira

Nilson Soares disse...

Meu caro, intelectuais que falam só para intelectuais, para mim não têm a menor importância, se não se esforçam para serem claros já que "tem experiência suficiente para compreender leituras dessa natureza". E olhe que estou em boa companhia,p.e., Gogól, Brecht... e por aí vai. Aliás, ser claro é mesmo um requesito, penso eu, à ferramente intelctaul do grande Michael Jackson dos liberais enrustidos da segunda metade do séc. XX, a racionalidade comunicativa de Harbermas

Yúdice Andrade disse...

Olha, gente, passei por aqui apenas para dizer que tenho dado importância ao debate, mas como não sou exatamente versado nos autores citados, estou calado no meu canto, para não falar bobagem.
Com efeito, o blog do Prof. André Coelho é uma ótima pedida.