Passei toda a minha vida morando no entorno do Parque Ambiental de Belém, coisa de pouco mais de um quilômetro de distância. Era para eu me sentir muito próximo dele, ligado a ele, mas não me sinto. E tenho sérias dúvidas de que outros moradores se sintam, mesmo aqueles que residem de cara para ele. Motivo? Simplesmente não temos acesso ao parque.
Hoje à tarde, levei minha filha para ver os macaquinhos que brincam nas árvores sobre a calçada, mas parece que, assim como os bancários, eles estão em greve, pelo menos desde ontem. Mesmo à sombra, fazia muito calor e não ventava, então decidi aventurar e fui falar com o guarda municipal de serviço na guarita de entrada. A imagem mostra a entrada do parque, pelo Conjunto Médici II. O círculo vermelho indica a guarita onde se deu a conversa.
Comecei me identificando como morador antigo e expliquei que gostaria de entrar, só para que minha filha — indiquei a minúscula Júlia junto à mãe — pudesse passear um pouco entre as árvores. Não iríamos além do quiosque que você vê pouco acima da primeira construção.
Confesso que o rapaz foi bem intencionado, mas consultou uma colega no interior da guarita — que não se dignou a mostrar-se nem se interessou em saber quem era o visitante — e voltou com uma resposta negativa. Mas tinha uma explicação plausível, que o isentaria da culpa.
Explicou que a administração do parque é de responsabilidade "do pessoal do Bosque" e que eu deveria comparecer de segunda a sexta-feira, em horário de expediente, para fazer uma solicitação escrita de acesso, mediante agendamento. O responsável então poderia deferir o pedido (ou não), designando um guarda municipal para me acompanhar. Isto tudo porque há invasões nos arredores do parque e já houve casos de ataques a visitantes. Aduziu que um colega autorizou o ingresso de um visitante (informalmente, do jeito que eu pedi) e houve algum problema. Desde então, há desavenças entre "o pessoal do Bosque" e a Guarda Municipal. Ele disse que muitas coisas que os guardas pedem não são atendidas, dando a entender que se trata de retaliação, pura e simplesmente.
Ou seja, um parque que deveria estar de portas abertas para cada cidadão belenense só pode ser visitado mediante pedidos escritos, formais, agendamentos, autorizações incertas. Não à toa o cidadão comum sequer sabe de sua existência. Chego a pensar que era melhor quando não havia parque algum e nós entrávamos na mata livremente. Mas isso foi há muitos anos, quando o mundo era mais inocente do que agora.
De quebra, temos mais uma demonstração de que o interesse público não é nada diante das picuinhas dos agentes que deveriam ser servidores públicos, mas que se valem de uma função custeada por recursos do contribuinte para dar vazão a seus problemas de caráter e de personalidade, além de seus transtornos psiquiátricos. De que, aliás, tive inúmeros exemplos durante os anos em que trabalhei no serviço público municipal. Creiam-me: para muita gente, só interessa que o salário caia na conta. O resto — o serviço — é apenas um aborrecimento que eles tentam driblar dia após dia. E quem trabalha não aparece, porque no final a coisa não anda.
Esta é a nossa cidade. O parque é nosso. Mas apenas para contemplação externa.
4 comentários:
Que pena.
Seu post veio em boa hora, justamente quando, embalado por imagens do Google Earth e alguns websites que descrevem caminhadas ecológicas interessantes no entorno do Utinga e Bolonha, planejava fazer uma empreitada fotográfica no local.
E planejava fazê-lo junto com esposa e filhos.
Mas pelo jeito, trata-se de mais uma obscenidade do poder público com os cidadãos.
Devemos protestar veementemente contra isso. Como se não bastassem a quase ausência de janelas para o rio, que possuem donos históricos e aguerridos, agora temos também que amargar outros "donos" para o hinterland.
Não é o cúmulo!!!
Meu amigo, se a tua intenção era ir ao Parque do Utinga, então sugiro que leias esta postagem minha:
http://yudicerandol.blogspot.com/2008/10/quem-ir-ao-parque-ambiental-do-utinga.html
Caro Yudice. O Parque deve ter visitação liberada para a comunidade, claro. Mas, lendo seu texto, não achei cabimento nas críticas que fazes aos servidores públicos que naquelas circunstâncias lhe negaram o direito de adentrares com tua filhinha. Pelo contrário, aplaudo a preocupação com sua segurança e de sua família, tanto pelo guarda, quanto da pessoa com que ele falou ao telefone. No meu entendimento eles estão certíssimos. Neste quadro caótico de insegurança em que vivemos, todo cuidado é pouco e, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. De resto, tou contigo quanto à qualidade do serviço público no geral. Abraços....ah... agende a visita.
Caro amigo das 12h27: Na verdade, eu pretendia dar uma explicação sobre a crítica, mas durante a redação do texto acabei me esquecendo.
O que me deixou chateado é que eu pretendia ficar junto ao quiosque, ou seja, bem ao lado do pórtico de entrada, bem ao lado da segurança, bem junto à cerca. Não me embrenharia pelo parque com minha família, sem segurança. Foi aí que, penso, faltou bom senso. Tanto que me queixei, a minha família, dizendo: Sabe o que é o pior de tudo? Ele me dá um não no meu próprio interesse!
No mais, por conhecimento próprio, posso afirmar que o serviço público municipal está coalhado de pessoas que deveriam ser banidas dele sumariamente. Experimente precisar e você verá. Por isso mesmo, vou agendar a visita. Aliás, vou tentar. Porque estou certo de que me será negado o direito. Com alguma grande explicação, é claro. Quando acontecer, conto para vocês.
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