A partir de postagem publicada no blog Saiba das coisas, do prezado Cel. Costa Neto, fico sabendo que durante reunião do Comitê de Gestão do Governo do Estado, realizado na última quarta-feira (16 de março), o governador Simão Jatene anunciou uma redução da violência no Pará. Mas como ele está há pouco mais de dois meses à frente do Executivo, cuidados precisam ser tomados na hora de divulgar a notícia. Por isso, ela chega assim: a redução ocorreu no mês de fevereiro, em relação a janeiro e a fevereiro do ano passado. Com isso, qualquer classe média pode chegar à conclusão de que o retorno dos sempre supereficientes tucanos ao poder promoveu benefícios automáticos em termos de segurança pública.
Não questiono os dados apresentados. Seria leviandade minha fazê-lo. Mas lembro que pouca coisa pode ser tão manipulada quanto números, quando se trata de ludibriar o cidadão comum, pouco instruído.
Dia desses, conversava com um amigo e dizia-lhe de minha impressão (é apenas uma impressão) de que a criminalidade foi reduzida, ao menos um pouco, nos últimos meses. Realmente acredito que isso tem a ver com o reforço do policiamento, que começou com o controverso contrato de aluguel de veículos de passeio, para servir de viaturas policiais, ainda pelo governo Ana Júlia, em pleno ano eleitoral. Essa medida pode receber inúmeras críticas, a começar pelos questionamentos quanto a sua legalidade. Mas a imprensa se concentrou principalmente na baixa potência dos automóveis, para criar na população a ideia de que a medida seria inócua. E deu certo, claro. O que mais se ouvia nas ruas sobre o assunto era gente repetindo bovinamente que os carros eram inadequados. Exatamente o que pretende a imprensa, na maior parte do tempo. Com efeito, as tais viaturas têm motor de baixa potência, mas boa parte delas circula na cidade, onde nenhum de nós pisa fundo, porque o trânsito não permite. Convenhamos: o que pode intimidar o criminoso é saber que a polícia está nas ruas. E ela está. Algum efeito isso produziu.
O que me leva a supor que os índices de violência caíram nos últimos meses é a própria imprensa. Observe como os noticiários policiais baixaram o tom, há bastante tempo. Claro que isso pode ser, também, influência de um ano eleitoral, mas o fato é que o famigerado golpe da saidinha saiu de cena. Antes, falava-se dele toda hora; agora não mais. Não têm acontecido megaoperações criminosas. Os crimes mais graves, ou mais debatidos pelas pessoas, que têm acontecido são de natureza pessoal, que não seriam afetados pelo policiamento ostensivo.
Com isso, afirmo que há redução, sim, da violência. Mas graças a medidas que vêm sendo tomadas desde o ano passado. E que o governador, sempre pródigo no uso da retórica — com aquele jeitinho ensaiado de falar, como se fosse um líder religioso instruindo seu rebanho —, tenta atribuir a sua gestão exclusivamente, com base em números absolutos (57 homicídios a menos, p. ex.). Mas vários questionamentos podem ser feitos, de imediato:
a) Alguém se lembrou que as estatísticas apresentadas correspondem a registros policiais e que o número de ocorrências policiais sempre é muito inferior ao número real de delitos praticados?
b) Alguém sopesou as possíveis causas para os delitos do período anterior e o atual? Nâo existem fatores sazonais, p. ex.?
c) Alguém se lembrou, ao menos, que fevereiro teve três dias menos que janeiro?
d) Alguém tem algo a dizer sobre a afirmação de que, no Brasil inteiro, apenas cerca de 10% dos homicídios são elucidados? A realidade do Pará é diferente?
Há muito mais a se perguntar. E antes que o governador cante vantagem, que tal ele esclarecer se, consoante anunciado logo que tomou posse, o tal contrato de locação das viaturas policiais foi rescindido, revisto, requalificado? As viaturas continuam na rua. Se o contrato era mesmo tão ilegal, que providências foram tomadas pela atual gestão, em nome da moralidade administrativa? Se o programa continuou em execução, não somos naturalmente levados a concluir que a atual gestão admitiu como válida a iniciativa da antecessora? E em caso afirmativo, isso não deveria ser apresentado como causa dos números atuais?
Gostaria muito que alguém discutisse comigo essas questões. De preferência, alguém que saiba alguma coisa do assunto, não aqueles lesos que só vêm bostejar coisas sobre PT e PSDB.
2 comentários:
Não vou discutir essas questões que você levanta, pois não disponho dos dados necessários. Mas quero manifestar meu apreço pela postagem. Números em si dizem pouco e análises governamentais costumam ser pouco objetivas quando precisam se referir a "gestões" sobre as quais, no mercado eleitoral, é preciso atribuir autorias bem demarcadas, separando o que se faz no "meu" governo e no do "antecessor". Sabemos a complexidade de uma gestão e a heterogeneidade dos seus atores, o que não impede todavia de discernir linhas políticas, opções preferenciais e estilos. Mas, ao fim, tomara que essa aparente tendência declinante seja efetiva. Uma grande notícia então.
Tomara, minha cara, que haja mesmo uma tendência de queda na violência, e não que seja apenas um dado eventual. A criminalidade, assim como os preços e tantas outras coisas, ora aumentam, ora caem. Se a tendência fosse de ascensão permanente, já estaríamos mortos - de fome ou de bala.
Por isso, ainda preciso ser convencido de que existe mesmo a tendência até aqui suposta. Abraço.
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