segunda-feira, 14 de março de 2011
Mazelas que criamos
Parece ficção científica: mãe e filha conversam através de uma parede de vidro. Não podem tocar-se nem ter qualquer espécie de contato mais próximo. Para dar mais dramaticidade à cena, a mãe vai ao insólito encontro com um cachorrinho na coleira.
Não se trata de um enredo de Ray Bradbury, mas apenas da realidade: a moça pode ter sido contaminada por radiação, nas imediações das instalações nucleares de Fukushima, atingidas pelo terremoto que abalou o Japão, há três dias. Até segunda ordem, o mundo da garota é uma caixa de vidro.
A usina em apreço, contudo, não para de produzir cenas impressionantes, como esta:
A alta cúpula da empresa concessionária de energia elétrica que administra a usina se curva, pedindo perdão aos japoneses. Eu nem sei se a empresa está sendo responsabilizada por alguma falha. Se não estiver, trata-se apenas da constatação de que o problema é meu e devo satisfação a todas as pessoas prejudicadas.
Meu Deus, que abismo há entre nós! Cada dia que passa fico mais feliz de o Brasil não ser alvo habitual de catástrofes naturais.
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2 comentários:
Imagine como seria aquela fila para distribuição de comida aqui no Brasil. Desnecessário dizer que um pisotearia o outro. Outra coisa é: como várias usinas nucleares foram desativadas, a empresa de energia elétrica disse que iria racionar energia, mas não foi necessário, pois o próprio povo fez este trabalho. Empresas fecharam temporariamente para deixar energia para quem precisa. Outro mundo, Yúdice. Outro mundo.
Alexandre
Certamente, Alexandre. Mas a diferença não é apenas cultural. O japonês médio está acostumado a uma vida digna, com suas necessidades básicas atendidas, confia no seu governo, nas suas instituições, sabe que no mínimo de tempo possível os serviços públicos serão normalizados, as cidades reconstruídas, etc. Mesmo que haja uma retração da economia, o nível salarial permite que ele refaça a sua vida em paz.
Diferentemente disso, no Brasil, existe a fome encruada, a necessidade que existe desde sempre. O brasileiro tem pressa porque não sabe quando será atendido de novo; aliás, não sabe se será. Não há como exigir paciência de brasileiros, africanos, haitianos. Isso vai muito além da simples educação.
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