domingo, 27 de março de 2011

Os jovens

Eu tinha 24 anos quando comecei a lecionar. Um garoto. Nessa idade, muita gente sequer terminou a graduação. De cara, fui para duas instituições: era professor substituto na UFPA e, no CESUPA, comecei através do curso de Tecnologia em Processamento de Dados, para a partir de fevereiro de 2000 assumir a cadeira de Direito Penal. Fui o primeiro professor dessa disciplina, posto que o curso acabara de ser criado (as aulas da primeira turma começaram em abril de 1999). Ainda estou por lá. Da minha época, a Profa. Bárbara Dias (a quem devo a indicação do meu nome) é a única outra remanescente. Ela é a professora mais antiga do curso considerado o tempo de contratação. Eu sou o que está lá há mais tempo ininterrupto, porque minha amiga morou fora alguns anos, por conta de seu doutorado, e eu jamais me afastei. Mas que fique claro: antiguidade não é velhice!
Quando comecei a lecionar, meus alunos incluíam meninos muito novos, mas também algumas pessoas mais velhas, sobretudo na UFPA. No curso de Direito, sempre temos muitos alunos já na casa dos 30 ou bem mais do que isso. Mas à medida que o curso do CESUPA foi-se consolidando, segundo observo, a média de idade dos discentes diminuiu. Hoje, chega-se à universidade muito cedo — senão em idade, com certeza em maturidade.
O fato é que eu precisei lidar com inseguranças próprias de minha juventude, intensificadas pelo meu temperamento. Afligia-me com o que pensariam a meu respeito alunos que tinham bem mais idade do que eu; em alguns casos, o suficiente para serem meu pai ou mãe. Já quanto aos jovens, sentia-me tão próximo deles que temia não ser visto como alguém a ser respeitado. Para minha sorte, nunca tive problemas com isso. Não sei se foi por conta de minha cara azeda e/ou de minhas provas cansativas, mas nunca fui afrontado por causa de minha idade. Todos os problemas que tive estavam relacionados com decisões que tomei, capazes de acarretar reprovações. Por isso, o ofensor tinha razões pessoais para ser tendencioso. Enfim, posso me dar por satisfeito nesse quesito.
O tempo passou e eu comecei a ver, em minha carreira docente, um presente e um passado. Não sou mais um novato; muito pelo contrário. E minha vida pessoal também mudou: casei-me, saí da casa onde passara toda a vida, tornei-me pai. Estou cada vez mais distante daquele rapaz que se sentia similar aos alunos. Hoje, os pés de galinha e o embranquecimento dos cabelos restantes não me permite mais as impressões de outrora. É engraçado, mas agora todos voltaram a me chamar de "senhor".
Quando comecei, os alunos me chamavam de "senhor", por educação. Muitos se recusavam terminantemente a me tratar pelo nome, como eu pedia com veemência. Hoje, sou um senhor, mesmo, e não há nada que se possa fazer a respeito.
O fato é que estas mudanças todas me fazem perceber, hoje, em mim mesmo, o que escutei em várias ocasiões, de colegas mais velhos: a docência é uma atividade que nos rejuvenesce. Vivemos entre os jovens e compartilhamos, ainda que indiretamente, de seu mundo. Os anos passam para nós, mas continuamos no meio da garotada. Os rostos mudam, mas o gosto pela vida, a animação, a necessidade de festa ou de experimentação, a celebração da amizade, as angústias, uma boa dose de descompromisso e até de irresponsabilidade (que agora encaro sem tanto moralismo), tudo isso continua vivo a nossa volta. Esse é um dos maiores privilégios de ser professor.
O mundo está sempre pulsando ao meu redor. E eu não perderia isso por nada!

4 comentários:

Sandro disse...

Acompanho o relator. O que rejuvenesce é termos algo a compartilhar a cada dia, o constante exercício da busca e da comunhão. Ótima postagem que me fez relembrar meu início na docência também.

É privilégio tê-lo como professor no Cesupa.

Abs,

Sandro Alex

Vitor Martins Dias disse...

Belíssimo post Yúdice.

Arrisco dizer que foi o que eu mais gostei, desde que eu passei a ler o blog. É realmente um grande estímulo, para qualquer um que o lê, abraçar a docência com todas as forças. Para mim, que tenho esse sonho, dá vontade de começar amanhã já, hehehehe.

Se você já acha isso, eu, como participante de uma geração do "descartável", em que tudo passa rápido, tudo é substituído rapidamente por um modelo 2.0, etc., sinto realmente que o tempo voa. Vejo com saudade toda a minha época de estudante, e não sei esse é o verdadeiro motivo para eu ter a intenção de lecionar. Vamos ver se vou conseguir, hehehehe.

Fica aqui o meu grande abraço e parabéns pelo ótimo post.

Vitor Martins Dias

Yúdice Andrade disse...

É um privilégio estar lá, Sandro. Muitos de nossos valorosos colegas reforçam essa sensação. E muitos dos alunos, também.

Sei como é a sensação, Vítor. Entre os 21 e os 24 anos, tempo entre minha formatura e o começo da atividade docente, sofri desse desejo que mencionas. Um dia vi duas colegas de turma debatendo sobre suas experiências docentes e quase sequei de inveja. Mas Deus foi bom para mim e, menos de dois meses depois, uma delas me levou para a sala de aula.
Algo de bom acontecerá para ti, também.

Hellen Rêgo disse...

Oi Yudice td bem?
gostei muito do post, como de muitos outros tbm.
De vez em qdo venho aqui ver as novidades...
Dessa vez to precisando de uma orientação sua, será que poderia me mandar o seu email?
o meu eh:hellenrego_ufpa@hotmail.com.
Abraços para a familia.
Hellen