É impressionante como entra ano, sai ano, a briga sobre a presença de cruzes nas dependências do Poder Judiciário não termina. Tema recorrente, já foi muito debatido aqui no Brasil, o segundo Estado laico menos laico do mundo, que só perde para a Itália, devido à presença do Vaticano em suas fímbrias. E foi justamente na Itália que um juiz acabou exonerado por se recusar a trabalhar em salas onde houvesse crucifixos. Um absurdo, claro, mas ele comprou uma briga boa e perdeu. Vai recorrer.
Além de concordar com a irresignação do magistrado (mas eu, no lugar dele, não deixaria de trabalhar para marcar posição; não sou tão veemente assim), devo ressaltar que ele ofereceu alternativa: se não retirassem os crucifixos, então que expusessem símbolos de outras religiões. Muito justo, mas a pretensão foi negada. A posição é sectária, mesmo.
Resta, pois, aguardar cenas dos próximos capítulos.
5 comentários:
Eu, apesar de ateia, não me incomodo de maneira alguma com símbolos religiosos, a obrigatoriedade do uso em locais públicos é que me deprime.
O problema é que muita gente se incomoda, Ana. Para um judeu que queira discutir uma questão trabalhista, p. ex., não deve haver inconveniente. Mas e se for uma causa relacionada à liberdade religiosa? Se ele se julgar assediado por causa de sua religião, e se o assédio partiu de um católico, como ele se sentirá sendo julgado por um sujeito que tem em cima de sua cabeça um crucifixo? E ele é tão jurisdicionado quanto o católico.
Olá!
Eu acho que símbolos religiosos ficam bem em igrejas e afins. Também em casas de pessoas que gostem desse tipo de ornamento, ou no âmbito particular. Talvez em uma praça pública. Mas dentro de órgãos públicos não sou a favor. Talvez justamente pelo fato de o Estado ser laico os órgãos públicos deveriam "respeitar", por assim dizer, o direito que todos tem de professar (ou não) sua religião. Creio que em um ambiente jurídico devam ser tratados assuntos jurídicos. E a pessoa que lá está trabalhando está representando o Estado, e não suas próprias convicções. Por isso, não sou a favor de símbolos religiosos em órgãos públicos, quaisquer que sejam eles (executivo, legislativo, judiciário etc).
Um abraço!
Penso que a habitual incapacidade do brasileiro de separar o público do provado explica, em parte, essa insistência em fazer dos órgãos públicos extensões da própria casa.
O CNJ tem procurado coibir essas práticas em ambientes judiciários, mas para variar meteram os pés pelas mãos. Há relatos de visitas do CNJ no qual magistrados foram obrigados a retirar de suas salas até fotografias de família, em nome do princípio da impessoalidade administrativa.
Isso eu considero distorção e exagero. Passamos muitas horas em nosso ambiente de trabalho. Não há nada de mal em torná-lo um pouco mais humano e acolhedor, tudo com bom senso. Pendurar 30 fotos na parede e cobrir o monitor do computador com uma capa de oncinha seria ridículo.
Concordo plenamente!
Um abraço!
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