Foi através do blog do Flávio Nassar que me deparei, nesta manhã, com o significado histórico do dia 31 de março. Reproduzindo notícia de outro blog, ele exibiu o convite do Comandante Militar do Nordeste para solenidade alusiva à — veja bem a designação — "Revolução Democrática de 31 de Março de 1964". Os militares persistem na convicção de que existe algo a comemorar.
Na seção de cartas dos leitores do Diário do Pará de hoje, deparamo-nos com um texto intitulado "Salve 31 de março!". Subscrito por um coronel da Polícia Militar, lamenta que a sociedade não perceba mais a relevância daqueles acontecimentos históricos, a educação distorcida dada à juventude sobre o tema e à falta de entusiasmo com que a cúpula das Forças Armadas comemoram o fato. Para ele, o que houve foi uma "gloriosa retomada e democrática devolução". Ufanismo típico.
Não lamento militares tentando convencer, aos outros e a si mesmos sobretudo, que o golpe militar de 1964 foi um sacrifício de amor à pátria contra a ameaça do comunismo. Nunca tentei convencer a Tia Coló, minha amantíssima tiazinha octagenária e analfabeta, que o homem realmente pisara na Lua em 1969. Ela estava convencida de que aquilo era mentira da televisão e as fotos e vídeos, apenas montagens. Se não tentei mudar aquela cabecinha branca, que era bem melhor, imagine a dos militares convictos.
O que eu realmente lamento é existir, ainda hoje, tanta gente saudosa dos tempos da ditadura, bradando que naquela época não havia tanta violência nem tanta corrupção. Violência e insegurança pública de fato não eram como hoje, mas por diversos fatores. Já quanto à corrupção, não se pode falar do que não se sabe, já que não havia liberdade de imprensa, nem de opinião. O que eu lamento, de verdade, é tanta gente legitimando e defendendo a barbárie e sustentando que, assim agindo, está provando ser um cidadão de bem.
Mas essa insanidade também tem um aspecto pitoresco: o mesmo inteligente que exalta a ditadura militar fala mal do Hugo Chávez. Não há como não destacar as conveniências ideológicas nesse tipo de sandice.
31 de março não é um dia a ser comemorado. O que devemos comemorar é a redemocratização do país — e olha que a nossa democracia é altamente capenga!
Um outro dia chegou. Ao menos isso.
4 comentários:
Nao consigo acreditar que esse caras acreditam no que eles falam.
Como, por exemplo:
"Tudo foi necessário para que fosse restaurada a verdadeira democracia. Se houve excessos foi por que o governo legal estava sendo afrontado por terroristas que hoje vocês insistem em qualifica-los como heróis."
Governo legal?
Da uma olhada la no blog pra enteder o naipe do maluco.
http://pauloandrenassar.blogspot.com/2011/04/um-salve-para-gloriosa-revolucao-de-64.html
Abs,
PA
Grato pelo apoio e pela sugestão de leitura, PA. Abraço.
Quando patrocinado por movimentos de esquerda é revolução e quando por setores de direita é golpe....será que é isso mesmo? Particularmente creio que 64 foi sim revolução e 68 (AI-5) golpe. Também creio que o assunto é geralmente abordado sem rigor fático por todos, a exemplo de outro assuntos polêmicos como o nazismo, ou será que alguém com alguma tribuna teria coragem de contrariar as "verdades" estabelecidas e ensinadas nos livros de história. Os pouquíssimos que ousaram se arrependeram. Enfim, quem sai vencedor conta a história e não a verdade...
Caro Paulo,
Acho que não compartilhamos da mesma concepção de "Revolução" (ou de Golpe).
Seria interessante que vc explicasse isso. Pq até onde meus rasos conhecimentos permitem falar, em março/abril de 64 os militares destituíram um governo democraticamente eleito e impuseram sua "ordem", tendo a força e a violência como principal instrumento de "legitimação".
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