quarta-feira, 9 de março de 2011

Homenageados vencedores

Não me ligo em carnaval e não tenho a menor paciência para os desfiles das escolas de samba. Reconheço que é um trabalho espetacular, belíssimo e muitas vezes repleto de detalhes impressionantes. Só não tenho paciência, mesmo. Aprecio a qualidade do que fazem, mas não paro na frente da TV, porque em cinco minutos já me enchi de ver gente passando, passando, passando. Enfim, não nasci para desfiles.
Ouvi dizer que há algum tempo não vencia a disputa uma escola cujo enredo homenageava uma pessoa em especial. Ao contrário, quando a Caprichosos de Pilares resolveu homenagear a mala da Xuxa, foi rebaixada e nunca mais retornou ao Grupo Especial. Bem feito. Este ano, contudo, a coisa foi diferente.
No Rio de Janeiro, a Beija-Flor (que ganha demais; já está até chato) venceu novamente prestando reverência ao cantor Roberto Carlos, que as pobres almas deste país insistem em chamar de "rei", um dos nossos persistentes exemplos de submissa idolatria. Roberto é um chato, pessoalmente falando, mas ninguém em sua sã consciência diminuiria o valor que possui para a história da música brasileira, mesmo que não goste do estilo. Além do mais, ele sabe se fazer cativante, para quem já se considera súdito.
São Paulo, contudo, me deixou mais satisfeito. Claro, além dos paulistanos e da Rede Globo, ninguém dá a mínima para o carnaval de São Paulo. Desconheço suas escolas e não tenho a menor curiosidade pelo tema. Mas gostei de saber que a homenagem ao maestro João Carlos Martins, prestada pela Vai-Vai, sagrou-se vitoriosa.
Martins foi um pianista famoso, especialista em Bach, que pareceu desafiado a desistir de sua arte. Primeiro rompeu um nervo da mão direita durante um jogo de futebol. Submeteu-se a diversos tratamentos, com razoável sucesso, mas aí vieram as lesões por esforço repetitivo (LER). Afastou-se da música e enveredou pelo boxe, como treinador, mas a paixão venceu e ele retornou ao piano, desenvolvendo uma técnica que lhe permitia tocar com a mão esquerda. Realizou grandes concertos assim. Mas sofreu um assalto (em Sofia, Bulgária), que lhe rendeu uma lesão neurológica e perda de movimentos das mãos. Era o fim da carreira como pianista. Mas nascia o maestro, mesmo com toda a dificuldade para realizar o ato elementar de segurar a batuta. Daí que o enredo da Vai-Vai é tão bonito quanto verdadeiro: "A música venceu".
Fico feliz de saber que o público do carnaval, a partir de agora, conhecerá a trajetória extraordinária desse homem que levou muito longe o conceito de superação. E no campo da música clássica, tão discriminado pelo brasileiro médio. Não vi o desfile, só uma rápida entrevista do maestro. Foi de emocionar.
Se quiser saber mais sobre João Carlos Martins, você pode visitar o seu site oficial. Infelizmente, você pode e deve, também, ler a caixa de comentários desta postagem e descobrir que o maestro tem acusações criminais graves, como revela o comentarista Kenneth Fleming.

6 comentários:

Anônimo disse...

Yúdice,

Por curiosidade mesmo, a Mangueira ganhou pela última vez quando homenageou Chico Buarque no Carnaval de 1997.

Homenagens em especial a alguém, não estão dando muito certo mesmo.

Com relação ao "rei", és a PRIMEIRA pessoa desde que eu me entendo por gente, com quem compartilho digamos assim, uma certa repulsa, para não entrar em detalhes! hahaha.

Felipe Guimarães.

Ana Miranda disse...

Não assisti ao desfile, aliás, nunca assisto, mas gostei que a escola que homenageou o Roberto Carlos, ganhou.

Luiza Montenegro Duarte disse...

Roberto Carlos é chato, feioso e só faz música ruim sem Erasmo. Ou seja, de Rei, não tem nada.
Não sei o que poderia ser mais tedioso do que um show dele, com as mesmas músicas de sempre. Nem que me dessem esse ingresso, olha!

Yúdice Andrade disse...

Não chega a ser repulsa, Felipe, mas ele me enche o saco, com certeza. Não apenas com suas músicas dos últimos anos, mas por suas atitudes ridículas. Qualquer dia conto alguns episódios pitorescos dele.

Então és uma fã do rapaz, Ana?

Eu poderia até ir, Luiza, mas seria um exercício de altruísmo, em favor das mulheres que me cercam e adoram o cidadão.

Anônimo disse...

Caro Yúdice

Creio que é necessário incluir, nessa "trajetória extraordinária" também aquelas "coisitas" feias que o homenageado andou fazendo por ai. Lembram do escândalo Pau-Brasil? Lá pelos idos de 1990, o pianista abriu uma empresa de engenharia, a Pau Brasil , e lepidamente forneceu notas frias para justificar gastos de campanha de seu amigo Paulo Maluf.

Ainda ontem, salvo engano, o TRF-3 CONDENOU o maestro e seu sócio à prisão e multa, por crimes contra a ordem tributária. A condenação foi de 2 anos e 9 meses mais a multa.

O que me chamou a atenção nesse processo é que a denuncia inicial foi então rejeitada pelo Juiz Federal João Carlos da Rocha Mattos. Lembram dele? Aquele que vendia sentenças igual ao pão quente da Padaria Camões e viu o desfile do João Carlos de uma cela do xilindro(ao menos imagino que ainda esteja preso).

Ainda que a sua verve musical(do pianista) seja digna de aplausos, temos que lembrar - também - da sua verve criminosa, que não deve ser esquecida enquanto não cumprir a sua pena .

Infelizmente até o Wikipidia deletou esse passado/presente tenebroso do homenageado.

Assim, fico pasmo em ver uma "homenagem" dessas a uma pessoa condenada por crime. E o Brasil todo embarcou. Ou por desconhecimento, ou por ignorancia ou por achar que a parte musical do maestro se sobrepoe à sua parte criminosa. Mas também pudera. É só vermos a vida pregressa dos dirigentes das escolas de samba . Muitos estão presos nesse momento.

Em tempo, o nº do processo no TRF-3 : 1999.03.99.009113-7

Kenneth Fleming

Maria Luiza disse...

Nossa!!! Ainda bem que não estou só, não aguento mais ver tanta babação em cima do Roberto Carlos,meu amigo de trabalho vive imitando ele, o "rei", é um "súdito" assumido, sabe tudo da vida dele, até que faz uso da chapinha. Mas enfim vou engrossar o coro: O Roberto Carlos é um chatooooo!! Urruuuuuu..Arraaaaaaa.
Abraços MALU!