segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Gran Torino

Clint Eastwood é um dos nomes mais respeitados e queridos da indústria cinematográfica, arrisco dizer que mundial. Isso porque, embora enredado em Hollywood, age sem as histerias e arrogâncias típicas do mundo das celebridades. Após uma carreira vitoriosa como ator, tornou-se um diretor admirado por seus filmes sempre muito humanos, bem feitos e inspiradores. Além disso, é descrito como um profissional bem educado, sereno, que trata a todos com gentileza e espírito de equipe. Fosse um artista brasileiro típico, viveria dando chiliques.
Em 2008, Eastwood produziu, dirigiu e interpretou o papel principal de Gran Torino, filme que acabei de ver.
O roteiro está longe de ser original. Walt Kowalski é um veterano da guerra da Coreia que carrega os traumas (e um segredo, que o enche de culpa) decorrentes dos horrores que viveu. Volta da guerra com um temperamento péssimo e vai trabalhar na Ford, o que ajuda a recrudescer o seu extremo nacionalismo. Racista e xenófobo em níveis paroxísticos, quase não se relaciona com os filhos. Logo no começo do filme, no velório de sua esposa, fica evidente a sua repulsa ao mundo que o cerca. Seus filhos, noras e netos são pessoas detestáveis, sem dúvida, mas é difícil saber o quanto ele mesmo contribuiu para isso.
Mas a vida de Walt muda quando ele passa a se relacionar com dois jovens da comunidade hmong (um povo asiático; leia mais na caixa de comentários) que se instalou em seu bairro. Com o tempo, e ainda acirrado por um incidente que o transforma numa espécie de heroi contra a sua vontade, o velho solitário vai se tornando amigo dos chineses e isso mudará a história de todos. Afinal, no meio do caminho existe uma gangue.
Gran Torino é mais um filme sobre redenção de uma pessoa que nos parece odiosa em todos os sentidos, que aos poucos se humaniza e revela as belezas que possuía em sua alma. Aqueles com quem atritava, como o jovem padre Janovich, acabam se tornando seus admiradores.
Do ponto de vista cinematográfico, o roteiro é algo previsível. Mas quando um cineasta decide reinventar a roda, normalmente acontecem desastres. Por isso, há muita virtude em reeditar uma ideia e fazê-lo com qualidade, elegância e emoção. Eastwood é um homem inteligente e conseguiu virar o desfecho para um lado diferente do que pensamos a maior parte do tempo. E com muita coerência. O filme conclui de modo condizente com um projeto cujo objetivo parece ser tirar lições de tragédias, inspirando o bem, a justiça e o altruísmo. Não se pode deixar de destacar, também, o seu peculiar senso de humor. A grosseria de Kowalski rende algumas boas risadas.
Em suma, vale muito a pena ver.

Em tempo: Gran Torino é o nome de um famoso modelo esportivo da Ford, que fez sucesso na década de 1970. Walt Kowalski possui um, que parece ser a única coisa com que se importa no início do filme. Muita gente tem interesse no carro, inclusive o líder da gangue acima mencionada. E aí a trama ganha os seus caminhos.

6 comentários:

caio disse...

GRAN TORINO É DEMAIS!!!!!

O melhor Eastwood velho-rabungento-machão desde Os Imperdoáveis!! Hehe. Grande injustiça não ter sido sequer indicado pro Oscar 2009. Agora sim, irei ler seu texto sobre o filme.

caio disse...

Bom, agora li seu texto, hehe. Só uma correção: os imigrantes asiáticos do filme são hmong, não chineses. Kowalski os chama de "chinas" por preconceito (da mesma forma que pra muito brasileiro, tudo que tem olho puxado é "japa"). Na visão restrita de mundo dele, todos os asiáticos, inclusive os coreanos que ele combateu, são "chinas".

Os hmong eram uma etnia indochinesa que haviam apoiado os EUA na Guerra do Vietnã, e que por isso foram perseguidos ao final do conflito.

O filme, embora incidentalmente, não deixa de mostrar certo paradoxo aí. Afinal, eles são discriminados no próprio país que haviam apoiado. O próprio Kowalski, ironicamente, seria uma minoria nos EUA: é descendente de poloneses (algo que se poderia deduzir, mas o próprio filme confirma) e, ao menos estatisticamente, católico.

Yúdice Andrade disse...

Verdade, Caio. Na cena em que Walt dá carona a Sue, após salvá-la da gangue de negros, ela explica que seu povo, hmong, espalhou-se pela China, Laos e um terceiro país que esqueci. Confesso não ter prestado atenção nesse detalhe, pois entendi que, de todo modo, aquelas pessoas tinham nascido na China.
Observei, contudo, que Sue explica que seu povo migrou para os Estados Unidos porque apoiou os americanos na Guerra do Vietnã.
Grato pela correção.

caio disse...

Pela proximidade, o terceiro país deve ser o Camboja. Falando nele, já viu Os Gritos do Silêncio?


Parece que a Academia não indicou Gran Torino como protesto ao apoio de Eastwood ao John McCain nas eleições presidenciais de 2008. O ator é um reconhecido republicano.

Tanto disse...

Yúdice. Saudade. Estive ausente do Domisteco e do mundo blogueiro por muitas razões, mas nunca longe o suficiente.
Esse filme é bom. Muito bom. O Clintistiudi é um excelente diretor e a história, mesmo não sendo original, é bem contada. O final é surreal: vencer o mau sem brigas ou armas. A esperteza contra as metralhadoras. Ele vitorioso diante dos coitados que apodrecerão... (ops... mais um pouco e conto o final). Adorei o filme.

Anônimo disse...

Sem dúvidas um bom filme.

Alexandre