domingo, 12 de dezembro de 2010

Arsenal de brinquedo

Pode soar como clichê, mas sim, eu sou absolutamente contrário a dar armas de brinquedo para crianças. Sim, eu acho que isso estimula a violência, o que é temerário, além de simplesmente desnecessário. Aliás, essa é uma das razões pelas quais eu não queria ser pai de um menino de jeito nenhum: a sociedade induz os meninos à agressividade, reforçando uma tendência que, dizem, os indivíduos do sexo masculino já trazem consigo naturalmente.
Para piorar, esse arremedo de brinquedo está cada vez mais sofisticado, como era de se esperar.

É para ser divertido?
 Veja essa metralhadora aí ao lado. Para diminuir a brutalidade da ideia, ela é toda colorida, simpática, e seu nome comercial é "lançador". Todos os produtos do gênero são designados como "lançadores", palavra que não nos remete ao conceito de arma. Aliás, no portal Americanas.com, autoproclamada "maior loja da Internet", esses produtos estão classificados sob a rubricada "arminhas". Não é meigo?
Veja a descrição do produto:

Complete seu arsenal N-Strike e prepare-se para o que há de mais moderno em fuzil à pilha! Esteja preparado para qualquer batalha com esse fuzil N-Strike Vulcan EBF-25 um canhão de dados incrível totalmente automático! Carregue o fuzil com pilhas novas e dispare até três dardos por segundo! Observe o cinto alimentando automaticamente o fuzil, criando uma barragem de artilharia contínua enquanto você combate seu oponente.

Esse sistema de lançamento interno acionado a pistão o torna uma força implacável! Passe para modo tiro único para um tiro de precisão. O tripé removível dobra para transporte ou uma rápida escapada do fogo inimigo! Até mesmo seu oponente mais durão não vai saber o que o atingiu quando você liberar o poder do fuzil N-Strike Vulcan EBF-25!

O brinquedo, classificado como "masculino", me impressionou com a preocupação em ser fidedigno ao armamento real, nos detalhes, exceto pelas cores, é claro. Mas a criança pode ver a munição correndo, à medida que atira. Que edificante!
Como o texto supratranscrito demonstra, a Hasbro oferece uma linha de lançadores e estimula a criança a ter um arsenal dentro de casa. E a coisa custa caro: está sendo vendida por R$ 249,90, mas seu preço real é R$ 349,00. Paga-se caro para ensinar o moleque que competir, combater, ferir, destruir pode ser divertido. E o mais interessante é que cada geração reproduz esse tipo de asneira com uma espontaneidade que beira a insanidade. Aliás, não me surpreenderia nada que muita gente considerasse este meu protesto uma imensa bobagem.
Depois reclamam...

4 comentários:

Anônimo disse...

Conheço uma história inclusive de uma pessoa, que antes de entregar os presentes aos filhos, abria todos para ver se tinha algum brinquedo com arma. Depois embrulhava tudo de novo.

O limite entre a super proteção e o bom senso é tênue...

A última notícia que tive das crianças que recebiam os "soldados da paz" (nas palavras do pai), é que os filhos estavam sofrendo bullying na escola. Não é a toa que não conseguiam se inserir no meio social.

Breno Peck disse...

Menos patrulha, Yúdice. Tiro ao alvo também é uma brincadeira sadia. Eu mesmo tive das minhas (atirava liga de borracha e era -- horror dos horrores -- PRETA) e queria a de laser mais do que eu queria um cachorro. Nem por isso fui ou sou uma pessoa violenta.

"Não dá pra citar um caso isolado e dizer que todo mundo vai ser assim". Bem, também não dá pra generalizar e dizer que uma arminha de brinquedo vai transformar todos em assassinos. O buraco é mais embaixo, ou em cima, sei lá. Mas você está errando ele, Yúdice. Vai ver faltou você ter uma pistolinha de plástico.

Yúdice Andrade disse...

Das 2h02, a atitude comentada, de fato, não era legal. Eu jamais faria isso. Receberia o presente com simpatia, mas meu filho não o utilizaria. O pior é que não saberia o que fazer com ele, já que não considero correto doar algo assim.
Sem dúvida, a superproteção produz jovens abobalhados, vulneráveis. É preciso educar a criança para o mundo real em que estamos inseridos. Mas friso o termo: educar.

Breno:
1. Em primeiro lugar, penso que "patrulhamento" pressupõe uma vigilância sobre a ação de pessoas determinadas, e não o simples exercício da liberdade de expressão. Logo, não estou patrulhando ninguém.
2. O que chamas de generalização é, a meu ver, a indicação de uma tendência. E tendência é uma possibilidade, até uma probabilidade, mas não uma certeza.
3. Em nenhum momento afirmei que quem brinca com arma de brinquedo vai se tornar um assassino. Eu não pensaria uma asneira dessas.
4. Obviamente, das incontáveis influências que uma pessoa recebe ao longo da vida, ela escolhe aquelas com que mais se afiniza (se tiver escolha, claro). Por isso, é possível que um moleque "educado" do jeitão tradicional se torne uma boa pessoa (aliás, creio que isso aconteça com a maioria), assim como um monge budista pode sair do monastério direto para o mundo do crime. A alma humana tem muito de imponderável.
5. Não vejo razão para você se sentir tão pessoalmente atingido pelo comentário. Talvez seja o caso de pensar sobre o que armas - de brinquedo, pode ser - significam para você. Para mim, são um estímulo negativo, como funk e desenhos de porrada - esses lixos do tipo Naruto e Dragonball. Convivo em paz com pessoas que gostam disso, mas na minha casa não entra.
6. Sob os argumentos acima, acredito que não estou "errando". Até porque não sei em quê.
Abraço.

PS - Não me faltou nenhuma pistolinha. Fui bem feliz com os meus carrinhos de plástico. Se na minha época já existisse Hot Wheels, então, teria sido a glória!

Anônimo disse...

Ah, Yúdice! Poxa, eu adorava brincar de arminha na infância. Ainda hoje sou admirador de armas (de verdade). Claro, isso não me faz a favor da má utilização destas. O que sempre gostei mesmo foi tiro ao alvo, que nunca foi nada vivo ou que um dia teve vida. E isso não me fez uma pessoa violenta... acho.

Alexandre