Esta eu conto porque devidamente autorizado pelo protagonista.
Meu amigo cujo primogênito nasceu na quinta-feira passada registrou o bebê ontem. A experiência rendeu.
Para quem não sabe, você registra a criança apresentando um documento regulamentado pelo Ministério da Saúde, a Declaração de Nascido Vivo — DNV. Esse documento contém uma série de informações sobre a mãe, dentre as quais estado civil e profissão. Na DNV do filho de meu amigo, a mãe aparecia como solteira e do lar. O rapaz reclamou do erro, sendo que a funcionária da maternidade (por sinal, uma das mais renomadas da cidade — a maternidade, não a funcionária) disse que não poderia corrigir. O pai insistiu que não poderia apresentar ao cartório um documento com informações inverídicas, já que sua esposa era casada e advogada. Aí ele escutou a grande explicação: a funcionária disse que toda mulher que faz parto normal é "solteira" e "do lar".
Com essa alucinante assertiva, tentou minimizar o problema. No final, o documento foi retificado, mas o episódio nos rendeu uma advertência importante: hoje em dia, parto normal é coisa de pobre. O preconceito se enraizou de uma tal forma no imaginário coletivo que, daqui a pouco, nem mais teremos noção da realidade. E observe que falo de uma pessoa que trabalha com isso.
5 comentários:
Absolutamente chocante. A mentalidade do brasileiro é uma coisa impressionante.
Como mulher, que conversa mais abertamente sobre isso com outras mulheres, devo lhe dizer a razão principal para isso: o medo de ficar "larga" (assim, nesses termos mesmo).
Não interessa que pesquisas e médicos digam que a mulher não fica menos atrativa sexualmente. A coisa está tão enraizada no imaginário das pessoas que elas não acreditam e lançam mão de histórias de conhecidos. Ou conhecidos de conhecidos.
Também já tentei apelar para a comparação, dizendo que nos Estados Unidos e na Europa a predominância absoluta é o parto normal. Surpreendentemente, o mesmo povo que admira tudo o que é feito lá fora, não embarca nessa também.
Para acabar com o dilema, bastava ir ao dicionário e verificar o significado da palavra normal. Mas querem complicar...
Já ouvi falar disso, Luiza, mas sempre me concentrei na ideia de medo da dor. Vou dar destaque ao teu comentário e ver se alguém se anima a discutir mais.
Que absurdo... faço parte de um grupo que apoia ao parto humanizado e garanto que tem muitas mulheres instruídas.
Esse tipo e história me revolta justamente pela banalidade da cesariana que é uma cirurgia de risco, mas fazer o que se a mulher não está disposta a conhecer o que é melhor para ela e para seu bebê...
esse negócio de "larga" é pura ignorância, a mulher desconhece seu próprio corpo e permite que médicos lhe roubem de seu parto... lamentável...
É um absurdo, sem dúvida, mas disseminado a tal ponto na sociedade que me levou a escrever mais de uma vez a respeito. Já sabíamos da preferência irresponsável pelo parto cesariano, mas durante a gestação de minha esposa ficamos impressionados com o nível da coisa. Principalmente por partir de gente altamente instruída e com acesso a todo tipo de comodidade material. Triste.
Acho que a mulher tem o direito de escolher. Eu, nunca escolheria parto normal, conheço meu limite, medos.
Erm relação ao "ficar larga", é um rico real, pouco falado, é tabu. Arriscar ou não, isso é um direito de toda mulher.
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