terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A loura das letras

Vera Fischer é mesmo uma mulher que merece ser estudada.
Anos atrás, li uma nota na qual ela se declarava uma atriz que não acredita em laboratórios (técnica através da qual o ator tenta qualificar-se para um personagem por meio de vivências pessoais, tal como fez Alinne Moraes, que conviveu com tetraplégicos para compor Luciana, sua personagem em Viver a vida). Apostando todas as suas fichas na própria intuição, ela disse que simplesmente entra no estúdio e grava.
Sem dúvida que existem atores tão talentosos que só precisavam mesmo da própria luz para interpretar, convencer e emocionar. Mas tenho cá as minhas dúvidas de que Vera Fischer seja um desses iluminados. Sou mais propenso a achar que ela não teria chegado onde chegou não fosse a cara e o corpo, que lhe renderam muitos papeis no tempo em que o cinema nacional se resumia à pornochanchada. Na TV, p. ex., ela teve bons papeis, mas ganhou muito mais destaque nos noticiários graças a problemas com drogas, crises conjugais e disputas pela guarda do filho com o ator Felipe Camargo. Sua grande sorte é que alguém na Globo é louco por ela e todas as vezes que tomava um tombo, ganhava de Fausto Silva uma entusiasmada homenagem.

Esbanjando talento
 A loura — cujo último papel na TV foi altamente secundário (na novela Caminho das Índias) — agora ataca de novo: virou escritora. E como bandeira pouca é bobagem, escreveu não um, mas dez livros de uma série “vibrante”, na opinião dela mesma. Livros sobre mulheres ricas, gostosas e bem sucedidas, como ela deve se ver (já que os livros contêm episódios autobiográficos).
O que está repercutindo é sua declaração pública de que detesta escrever para pobres. “A vida dos ricos é muito mais interessante”. Se você gostou da explicação, saiba que ela fica melhor ainda com a demonstração que a futura ganhadora do Nobel dá do universo que pretende retratar: em cada livro há pelo menos uma viagem para o exterior. E com isso, resume a sofisticação.
Aquela minha listinha de sugestões literárias para o Natal acaba de aumentar.

PS — De fato, a televisão brasileira tem adoração por mostrar a vida dos ricos. Já o cinema, que cresce a olhos vistos, segue um viés diametralmente oposto, explorando sobretudo a violência e a miséria. Que o digam os internacionalmente reconhecidos Cidade de Deus e Tropa de elite.

3 comentários:

Anônimo disse...

Para mim ela não sabe nem falar: voz de taquara rachada.
Crua e sem graça, como vários outros artistas.

Alexandre

caio disse...

Sei lá, nunca vi muito nela. Normalmente, faz os mesmos papéis: a mulher sensual compromissada que se entrega a outro. Vide Riacho Doce, Desejo, O Clone, Agora É Que São Elas, um episódio de Você Decide em que ela se relaciona com o enteado... Não por puritanismo, mas apenas por só ver ela interpretando tipos similares (Laços de Família escapa). Tipo um Paulinho Vilhena ou um Dado Dolabella.

Mas, de fato, ela admitiu que no início da carreira chegou a dormir com um diretor para ser aprovada em um teste. E justificou-se em uma declaração do tipo "temos que usar tudo - tudo - o que temos para alcançarmos nossos objetivos".

Mas desconhecia esses outros detalhes da vida pessoal dela. Drogas? Agora sei de onde vem a referida voz de "taquara rachada" (adorei essa!!).

(a propósito, ela não esteve em Viver a Vida, e sim na anterior... a das Índias. Hehehe)

Yúdice Andrade disse...

A voz dela é igual à interpretação, Alexandre: mecânica e invariável.

Corrigi o equívoco, Caio. Grato.