Certa noite deste semestre letivo recém findo, estava eu dando aula para uma das minhas turmas quando reparei que um cartaz na parede fora vandalizado com a seguinte anotação:
"NÃO FAÇA CESUPA"
Para os de fora da cidade, CESUPA é o nome da instituição particular em que leciono. O semestre ainda ia lá pelos seus meados, por isso ignoro completamente o que teria motivado alguém a escrever a indelicada exortação. O fato é que, algum tempo depois, já agora em dezembro, quando eu aplicava a prova final, observei que o aludido cartaz virara palco de uma disputa de opiniões. Alguém aumentou o protesto (as cores das tintas são diferentes), que passou a ser o seguinte:
"ATENÇÃO NÃO FAÇA CESUPA, pois é igual uma escola militar."
E mais abaixo: "Sentido!". O interessante é que uma terceira pessoa, desta feita usando uma caneta preta, consertou um erro de português (não o de pontuação) e a frase passou a ser:
"ATENÇÃO NÃO FAÇA CESUPA, pois é igual a uma escola militar."
Mas o que me levou a rir da discussão foi o surgimento de um acadêmico que teve o bom senso de valorizar a instituição onde estuda e respondeu ao crítico:
"Ñ aguenta bebe leite!"
Nesse dia, por coincidência, eu tinha comigo a câmera fotográfica e não perdi a oportunidade de fazer o registro. Eis aí o confronto entre o aluno que acredita ter seus interesses contrariados e destilou sua raivinha contra toda a instituição, mas levou uma resposta à altura de um colega, que provavelmente acertou bem no alvo: o problema não é o modo de ser da instituição, e sim o do estudante.
Eu me orgulho de pertencer a uma instituição que assumiu o epíteto de "o caminho das pedras" e utiliza a sua publicidade para deixar claro que sua proposta educacional não é fazer corpo mole, nem vender conveniências, como tantas outras privadas fazem por todo o país, o que é objeto de conhecidas e merecidas críticas. Onde estou, dá para ser um professor caxias e ainda por cima escutar uns agradecimentos de alunos depois.
Claro, dos alunos que não bebem desse leite.
5 comentários:
Ao iniciar meu primeiro semestre letivo no Cesupa, havia um dúvida pertinente que não parava de me perseguir: "Será que eu estou no lugar certo? Eu queria Federal e não Cesupa... Será que é bom?"
E por muito tempo essa dúvida ainda me perseguiu. A minha dúvida estava baseada na qualidade de ensino, ao meu ver uma IES particular não tinha condições de me tornar um grande profissional, e ainda assim, eu estava muito preocupado com o diploma que iria carregar para o resto da vida.
Até que chegou certo ponto que eu parei e realmente cheguei a uma conclusão particular: "Eu estou no lugar certo!" - passei a dizer a mim mesmo. O que me levou a mudar de opinião? É simples, eu passei a conhecer o Cesupa, além da transformação que ele me provocou, logo ainda no primeiro semestre.
Professores excelentes e carrancudos (e muito interessados), outros mais "suaves" mas não menos dedicados, provas com níveis nada abaixo do mediano e a grande maioria acima disso, um agradabilíssimo ambiente de estudo com toda uma estrutura que nos possibilita chegar aos objetivos (é claro, né? pelo valor que se paga tem que propiciar mesmo!), e ainda assim, meu pai que se formara na mesma instituição passou logo de primeira na OAB e só me abriu os olhos para a qualidade do lugar aonde eu estudava.
Enfim, aquele bobo alienado e ingênuo que ainda acreditava naquele batido papo de convênio que infelizmente ainda se ouve nos colégios e cursinhos "faça federal que as particulares não são boas e possuem currículos fracos" caiu por terra!
Hoje eu sei que posso chegar muito longe em minha carreira profissional, até porque o curso de Direito é um curso em que as oportunidades são abertas para aqueles que abrem-nas autonomamente, ou seja, o futuro está na mãe de cada um, no esforço próprio. Basta estudar!
Foi o que comecei a fazer ao começar a me dedicar seriamente (mesmo!) aos estudos.
Professor, o sr é um dos meus professores que eu sei que me ensinaram muitas coisas das quais me ajudaram a evoluir como um estudante e também como um ser humano, até porque a matéria que o sr leciona tem um toque especial no tratamento com o ser humano. Sei também que essa pose de "carrasco", ainda que não obrigatória, é eficaz.
Dei sorte de ter sido seu aluno, e ainda que muitos fujam do rabo-de-arraia, trocando de sala e de professor, com medo de reprovar, continuo com o sr pois quero aprender. Sei que a sua contribuição é e vai continuar sendo muito importante.
Espero estar correspondendo...
CONFESSO: a sua matéria, apesar de ser uma das minhas favoritas, é a que me dá mais trabalho! (rs)
Abraços, e um afetuoso Feliz Natal pra você e toda a sua família.
Se esse aí considera um curso de graduação escola militar, é melhor nem continuar o curso, não perder tempo em fazer exame de ordem e nem meter a cara no mercado de trabalho.
Essas pessoas tem que ficar em casa bebendo leite mesmo!
Felipe Andrade
Ps: Boas Festas de fim de ano, professor.
Yúdice,
Também me sinto feliz em poder ser ‘um daqueles que coloca as pedras no caminho’ dos alunos, e sei o quanto foi importante ter que superar as pedras que foram colocadas no meu caminho (você colocou uma das maiores, pode ter certeza).
Sou um eterno angustiado quando se trata de ensino. Me culpa pelo fracasso dos meus alunos, mesmo sabendo que às vezes não tenho nenhuma responsabilidade por isso. No entanto, esse sentimento de angustia me serve de motor para tornar a cada dia que passa a nossa instituição mais sólida e mais rígida, a fim de proporcionar uma educação que transcenda à valiosa seara jurídica. Espero que esse caminho das pedras do qual fazemos parte como ‘colocadores de pedra’ continue árduo, mas recompensador.
Feliz Ano Novo!
P.S.: Espero que eu não seja um dos professores carrancudos mencionados pelo querido Adrian no comentário acima, mesmo tendo quase a certeza que ele me enquadrou no grupo! (rs)
Adrian, uma análise vinda de um aluno tão focado sempre é relevante para nós. É o tal do feedback que todos procuramos. E não te esqueças: atitudes, às vezes, ou na maioria dos casos, são mais importantes do que resultados.
Felipe, espero que por ingenuidade, somente, o crítico em questão ainda não pensou no chamado "sexto ano" do curso, esse sim assustador.
Arthur, só devemos nos sentir culpados por aquilo que poderíamos ter feito melhor, por nossas próprias capacidades. Hoje em dia, p. ex., já não me culpo pelo que poderia ser melhor e não foi devido a problemas infraestruturais, p. ex. Superar isso é necessário para darmos conta de tantas exigências que nossa função nos dá.
Força, meu amigo. E para a frente, sempre!
O senhor pode ter certeza também de mim do quão penoso me foi ser seu aluno. Depois vi que a sua matéria foi umas das que mais julgo ter assimilado. Mesmo não me vendo trabalhando na área (meu TC e o que penso para uma pós, por exemplo, passa bem longe), é a que pretendo escolher para o exame, sabendo que a de meu interesse (ambiental-internacional) não é vislumbrada como opção na prático-processual. Nem tive dúvidas.
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