Meu irmão Hudson Andrade, ator e dramaturgo, passou a última semana no Rio de Janeiro, a convite da Fundação Nacional de Arte — FUNARTE. Como já foi premiado por ela uma vez (pelo texto de O glorioso auto do nascimento do Cristo-Rei, que é encenado todos os anos até se completar um ciclo de sete anos, de acordo com a tradição das folias de reis), foi considerado apto para ser um dos profissionais encarregados de corrigir os trabalhos candidatos à bolsa de dramaturgia.
A FUNARTE concede anualmente prêmios e bolsas de trabalho. Um deles, de dramaturgia, destina-se a assegurar um valor de 60 mil reais para que uma peça seja escrita. O premiado recebe de cara 30 mil reais, depois mais 20 e por fim os últimos 10 mil, quando entrega a peça pronta. São dois prêmios para cada região do Brasil (assim como os jurados são um de cada região, para assegurar uma pretensa paridade de forças).
Tal paridade, contudo, não existe. Para se ter uma ideia, este ano havia 322 projetos concorrendo. A maioria esmagadora do Centro-Sul e, desta, uma maioria restrita ao eixo Rio-São Paulo. Da região Norte, foram inscritos apenas 18 projetos, sendo 4 do Pará.
Meu irmão sentiu o peso do bairrismo. Membros da equipe de jurados consideravam um absurdo a regionalização dos prêmios, o que chamou de "sistema de cotas" — sem nenhuma simpatia. Sustentavam que o "ideal" seria a premiação dos dez melhores trabalhos, independentemente da origem. Ou seja, os dez melhores trabalhos paulistas e cariocas abocanhariam todos os prêmios. Marrento que só ele, meu irmão redarguiu que enquanto formos tratados com desrespeito e incredulidade, o sistema de cotas deve permanecer, como forma de minimizar o desestímulo em que vivem os artistas do Norte e do Nordeste.
A coisa não para por aí. Alguns prêmios que a FUNARTE concede, no mesmo sistema de regionalização, variam de 20 mil a 50 mil reais, para as regiões de cima do país. Mas para São Paulo o prêmio mínimo é de 50 mil reais, podendo chegar a 150 mil. Por que a diferença? Questionou Hudson por qual razão os custos de produção de baixo são superdimensionados em relação aos de cima. O povo do centro não respondia. Claro, não há o que dizer.
Por mais que a FUNARTE cumpra um importante papel de estímulo à cultura, por meio de seus prêmios e bolsas, não há dúvida de que há muita coisa errada na própria concepção do sistema. Uma concepção discriminatória na origem. E depois dizem que temos mania de perseguição.
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