terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ensino superior: a oferta e a procura

Quando prestei vestibular, no ano de 1992, escutava o povo do convênio e do cursinho comentando que era importante passar logo, pois a cada ano a concorrência aumentava e a aprovação ficava mais difícil. Naquela época, Belém contava com três instituições públicas de ensino superior: UFPA, FCAP (hoje UFRA) e UEPA quadro que não mudou. As instituições privadas eram UNESPA (atual UNAMA) e CESUPA. Não me recordo de nenhuma outra. Se eu estiver enganado, por favor, corrijam-me.
Em nossa ingenuidade e falta de visão de mercado, simplesmente não cogitávamos a possibilidade de novos estabelecimentos entarem em funcionamento. Por isso, imaginávamos um futuro em que a concorrência chegaria a 50 candidatos por vaga, p. ex.
16 anos mais tarde, a realidade é justamente a oposta. Mesmo lutando contra todas as dificuldades, as instituições públicas cresceram, abriram novos cursos e aumentaram o número de vagas. Campi nos interiores reduziram um pouco a pressão sobre cursos na capital. Nada que se compare, claro, à explosão da rede privada. O surgimento de IES foi impressionante, apostando num mercado que não parava de crescer. Mas nem todas conseguiram fincar os pés nesse mercado. Algumas não têm sustentabilidade econômica. As vendas já começaram e se ouve com frequência falar em fusões, embora nenhuma tenha efetivamente ocorrido até o momento.
Graças a isso, são tantas as vagas hoje disponíveis no ensino superior, que o vestibular perdeu a graça. Há casos em que o candidato concorre apenas consigo mesmo. Se não passar, é bom mandar examinar a cabeça. Procurei as relações candidato x vaga em quatro instituições privadas, consoante divulgado em seus sítios, mas só encontrei em duas:

1. CESUPA
- A maior procura é em Medicina (8,59), único curso privado nessa área, a rivalizar com dois congêneres públicos, um deles na UFPA, pessimamente avaliado pelo MEC e por isso mesmo em situação difícil.
- Direito: 3,52 (a relação é baixa devido ao elevado número de vagas: 250).
- Odontologia (2,45) e Engenharia de Produção (2,08), ainda deixarão mais da metade dos interessados de fora.
- Enfermagem (0,89), Nutrição (0,96), Sistemas de Informação (0,84), dois cursos tecnológicos na área de Informática (0,72) e Ciências Contábeis (0,93) estão na base do candidato contra si próprio.

2. UNAMA
- Lista os cursos por turnos, o que influencia na proporção. Na área de tecnologia, a média é de 1,83 candidato por vaga, destacando-se a Engenharia Civil, matutino (2,92).
- Nas Ciências Sociais Aplicadas, média de 4,47, puxada naturalmente pelo Direito, que tem índice 14,16 no matutino e 18,78 no noturno (esta última, relação semelhante a que enfrentei, em 1992, só que sem diferenciação de turno e com oferta de "apenas" 180 vagas).
- Nas Ciências Humanas, média de 1,25, capitaneada pelo curso veja só de Moda, com 100 inscritos para 50 vagas.
- Na Saúde, média 3,0, à frente de Nutrição vespertino, com índice 5,0.
- Sem considerar os cursos de formação específica, a média da UNAMA é de 2,93 candidatos por vaga.

Talvez por já ter divulgado o seu listão, a FACI não disponibiliza mais a relação candidato x vaga. Também procurei na FAP, mas igualmente não localizei a informação. As demais instituições, lamento, são muitas para que eu faça tal garimpagem. De todo modo, não há nenhuma razão para que se suponha que o quadro seja de maior procura, já que em geral são empreendimentos menores e mais novos no mercado e, por isso mesmo, com cursos ainda em fase de reconhecimento, sem turmas formadas, indicadores esses que, naturalmente, explicam uma menor procura.
Meu amigo vestibulando, leve a sério e estude. É sua chance.

2 comentários:

Ivan Daniel disse...

Esses dias eu estava conversando com meu pai, que estava nos visitando aqui em Belém, sobre o grande número de IES e a conseqüente baixa concorrência nos vestibulares. Lembrei que há dez anos eu prestava meu 3º ano seguido de vestibular, sendo que pela primeira vez em faculdades particulares. Fiz em três e passei nas três. Duas em Belém e uma em outro Estado. Optei pela aprovação no Cesupa, onde tinha enfrentado a maior concorrência entre as três. Se eu não estou enganado, chegou a 10 ou 11 por vaga. Hoje este mesmo curso tem uma concorrência sempre inferior a 2 canditados por vaga.
Antigamente não bastava apenas levar a sério o estudo, tendo o vestibulando que "esquecer sua vida social" na reta final para a prova. Acredito que hoje ainda seja assim para os que tentam passar nas Universidades públicas, mas para quem pode pagar mensalidades, ou se arriscará no financiamento estudantil, basta levar a sério mesmo. Aprender alguma coisa sempre é bom.

Yúdice Andrade disse...

Em outros Estados, Ivan, devido a uma população bem maior, as demandas continuam altas, o que decerto contribui para a permanência do processo de abertura de novas vagas - um fenômeno de âmbito nacional. Talvez os empresários do setor ainda não tenham parado para fazer uma pesquisa de mercado mais local.
No caso de Belém, p. ex., eu não consigo acreditar que precisemos mesmo de tantas instituições. Enquanto isso, ninguém dá bola para o ensino fundamental.