A primeira vez que escutei falar em enchente e soube que algo assim poderia arrasar uma cidade, foi em 1983. O local: Blumenau, Santa Catarina. De algum modo, isso ficou em minha mente. 23 anos mais tarde, conheci aquela lindíssima cidade e, em lá chegando, só conseguia pensar na tal enchente de duas décadas atrás. Dirigia pela rodovia que margeia o rio Itajaí-Açu e pensava: "Então foi esse aí que causou tanto estrago."
Fiquei feliz de ver como tudo se havia recuperado. Blumenau é uma cidade bela e organizada, habitada pelos gentis catarinenses, que sabem fazer um café colonial de arrasar. Em uma postagem do ano passado, comentei sobre um de seus restaurantes, onde almocei contemplando a paisagem, que tinha ao fundo, justamente, o rio. Na mesma ocasião, depois do anoitecer, enfrentei chuva — de água e de granizo —, falta de energia, árvores caídas nas ruas e caos no trânsito. Uma noite angustiante (que foi divulgada em cadeia nacional) para quem ainda tinha um bom estirão para chegar em Florianópolis, com direito a acidente no meio do caminho.
Agora, reconheço um ou outro lugar por onde passei em Blumenau, nas reportagens diárias sobre o drama que Santa Catarina tem vivido nos últimos dias. Causa-me enorme aflição. Até menos de um ano atrás, uma pessoa de minha família morava lá. Felizmente, o lado bom do povo brasileiro tem despertado e muitas pessoas têm-se preocupado em ajudar.
É bonito ver como o cidadão comum pode se preocupar com o seu semelhante. Ontem, uma aluna pediu para dar um aviso para a sua turma. Pensei que fosse algo sobre as provas ou o encerramento do semestre letivo. Negativo. Ela queria o apoio dos colegas para arrecadar produtos de limpeza, roupas e gêneros alimentícios, a fim de doar ao povo catarinense. Pedia não apenas a doação, mas ajuda para o transporte e para a organização — já que a Defesa Civil pede que as doações sejam feitas com os artigos devidamente separados por categorias e identificados. Por exemplo, se vai doar sapatos, pede-se que o número do calçado seja escrito do lado de fora da caixa. São medidas destinadas a facilitar o trabalho de quem, diante de uma montanha de itens, precisará fazer chegar a coisa certa a quem precisa.
Fiquei enternecido com a atitude da moça, ainda tão jovem, que podia estar preocupada apenas com a minha prova, que será aplicada esta tarde, ou com as suas outras questões pessoais, mas que tirou uma parte de seu tempo e de suas energias (e até um espaço de sua casa, se preciso), para cuidar de gente que não conhece. É uma grande alegria deparar com esses valorosos jovens, que fazem a diferença.
Desde que esse caos todo começou, pensei em ajudar o povo que tratou a mim e a minha esposa tão carinhosamente, quando ali estivemos, em diferentes oportunidades. Na correria da vida, não me ocupei disso. Thays me devolveu a motivação. Obrigado a ela por isso. Espero que sua empreitada dê certo.
Um comentário:
Olá Primo,
Realmente está sendo catastrófico o resultado das constantes fortes chuvas que desmontou SC.
Nós aqui de Florianópolis não sentimos tanto os estragos de forma direta, sendo prejudicados somente com bloqueios de rodovias estaduais e federais. Mas o que é um incômodo perto da perda de um vida construída com suor?
Acho nobre a atitude daqueles que realmente querem ajudar, o que de fato não representa a totalidade, afinal sempre há os aproveitadores que faze da solidariedade uma bela jogada de marketing.
Destaco, negativamente, o papel de alguns segmentos da imprensa, abusivo, desrespeitoso, inconveniente e, acima de tudo aproveitador, que vê na tragédia alheia uma oportunidade de aumentar a audiência.
O que é lamentável é que não há tal mobilização com as vítimas diárias da seca do nordeste, por exemplo. É algo que já não mais dá notícia, portanto não é passível de compaixão. Parece que esquecemos que há pessoas lá que nem esperança têm mais.
Pode até soar chato minha crítica, mas enfim, gostaria muito de ver essa solidariedade brasileira em mais ocasiões.
Abraços!!!
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