sábado, 29 de novembro de 2008

Soneto a meus antepassados

Meu sangue, do pragal das Altas Beiras,
boiou no Mar vermelhas Caravelas:
à Nau Catarineta e à Barca Bela
late o Potro castanho de asas Negras.

E aportou. Rosas de ouro, azul Chaveira,
Onça malhada a violar Cadelas,
depôs sextantes, Astrolábios, velas,
no planalto da Pedra sertaneja.

Hoje, jogral Cigano e tresmalhado,
Vaqueiro de seu couro cravejado,
com Medalhas de prata, a faiscar,

bebendo o Sol de fogo e o Mundo oco,
meu coração é um Almirante louco
que abandonou a profissão do Mar.


O Soneto a meus antepassados foi composto por Ariano Suassuna sobre tema de Fernando Pessoa, cujo poema "Ah, um soneto...", escrito sob o pseudônimo Álvaro de Campos, começa com os dois magníficos versos que encerram este ora transcrito.
A seleção de hoje foi retirada da obra Seleta em prosa e verso, organizada por Silviano Santiago com teatro, poesia, ficção e um depoimento do famosíssimo paraibano autor do Auto da Compadecida, que comprei há uma semana (José Olympio Editora, 2007, capa aí ao lado) e hoje, em meio às obrigações do dia, proporcionou-me instantes de serenidade e prazer.
Para além das obras que o tornaram uma celebridade, sobretudo após as adaptações para a TV e para o cinema, Suassuna produziu outras pérolas que precisam ser conhecidas. É constrangido que reconheço que somente descobri que ele também era poeta ao me deparar com esse livro, no sábado passado. E adorei o que li.

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