"Só assim tenho a chance de declarar publicamente aquele que será talvez o fim da minha liberdade, mas quem sabe o começo do resgate da minha alma. Sou o culpado de todas as acusações que me fizeram. Roubei a nação. Sou um ladrão do dinheiro do povo."
Será com esse discurso dramático e inconvincente que o deputado Romildo Rosa, personagem de Milton Gonçalves na novela global A favorita, confessará seus crimes para se redimir de toda uma vida criminosa e corrupta, após ver sua filha ser atingida por uma bala perdida, resultante de ações criminosas das quais ele participa. O capítulo irá ao ar no próximo dia 11 de dezembro.
João Emanuel Carneiro, o autor, parece ter o objetivo de se tornar porta-voz de um povo alucinado com tanta safadeza, num ano que foi pródigo delas (mais um). Contudo, em que pese ficção ser ficção e poder seguir por qualquer caminho, a conjuntura a ser mostrada pela novela é tão inverossímil que me parece um pouco ridícula. Posso ver um pai cometendo um gesto autodestrutivo em honra de sua filha, mas não consigo digerir esse discursinho — "Fiz tráfico de influência a troco de altas propinas, fraudei licitações... É tudo verdade. Fui baixo, desonesto e criminoso. Me entrego à Justiça do meu País para ser punido" —, didático, quase como se estivesse escrevendo uma cartilha para qualquer um entender a dinâmica da corrupção brasileira, além de uma estranha confiança na Justiça do país, cuja postura com gente do nível do personagem costuma ser, digamos, ficcional.
Aliás, o cenário é tão irreal que permite surpresas como o texto de uma certa coluna de um certo jornal, de hoje, dando relevo à trama global e sugerindo o que todo político corrupto deveria fazer. Fala sério!
Aguardemos a exibição do capítulo para saber a reação do público. E dos políticos. De minha parte, não gostei. Gosto de ficção e gosto de novelas. Mas para tudo há um limite. Ainda prefiro tramas com lobisomens e afins (mas não mutantes).
4 comentários:
viva ao Google!
pescando coisas na internet achei seu blog,muito útil.
abraços de de uma recém formada ainda procurando o direito.
Quase tudo o que ouço ser tema relevante de novela é tratado pelos autores segundo uma visão distorcida. Quase sempre um romantismo tolo, como o do exemplo que você citou.
Novela é "embromation class" para atrair o público e deixá-lo absorto em torno de um vazio. Novela é uma das grandes besteiras disfarçadas de cultura, inventada por brasileiros, para de cima a baixo roubar o tempo dos telespectadores para vender-lhes alguma coisa de que não estejam precisando. Para mim é só para o que servem.
Bem. Ainda que desnecessário, resta-me dizer-lhe que não assisto a novelas e não creio em utopias como o caso da novela APAVORITA.
Amado mestre do vernáculo jurídico, isso é ficção a realidade dos políticos brasileiros é outra, aqui o cara morre se dizendo honesto e jurando que vai para o céu. E se bobear dirá “NUNCA ANTES NESSE PAÍS TEVE UM POLITICO MELH0OR DO QUE EU”. Querido repositório do saber jurídico, adoro seus posts, alguns como esse me fazem rir e chocam-me com o grau de imaginação que um autor global tem para refletir os problemas do povo. Acho que Le ainda acredita em cinderela, três porquinhos e cuca.
Abraço.
O JUSTICEIRO. (HEROI DO SERTÃO).
Obrigado, Carolina, pela carinhosa manifestação. Espero que o blog te ajude de algum modo, como dizes, a encontrar o Direito que procuras. Um abraço.
Meu amigo Fred, sei que não acreditas, mas é possível encontrar assuntos muito relevantes em telenovelas. É possível começar nelas debates relevantes, já que seria muito difícil mobilizar a opinião pública de outra forma. A crítica é feita em relação ao mau uso de um espaço privilegiado, que poderia ser muito bem empregado.
Justiceiro, gostei de ti. Obrigado pela gentil avaliação dos meus textos. Devo dizer que tu também me fizeste rir bastante com esses adjetivos que me atribuis. Abraço.
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