quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Questão de modelo

A reunião do Ministro Extraordinário de Assuntos Estratégicos (???), Roberto Mangabeira Unger com empresários paraenses, missão ainda não concluída, deixou clara uma verdade que precisa ser escancarada para todos: enquanto os setores econômicos persistem em sua verborragia inútil sobre desenvolvimento, que reclama como custo inevitável o avanço sobre o patrimônio ambiental, o ministro responde com categoria: os custos ambientais são tanto maiores quanto mais incorreto o modelo de exploração adotado. O projeto do governo é adotar um modelo que seja eficiente, eficaz e o menos agressivo possível.
O fato é que a turma da grana quer lucrar ao máximo, internalizar ao máximo os benefícios e externalizar ao máximo os ônus. É imediatista e absolutamente antissolidária. Sempre foi assim, desde que o mundo é mundo e a mentalidade jamais mudou. Como argumento cretino contra seus opositores, acusam todo e qualquer discurso pró-meio ambiente de ser edênico, o que não corresponde à realidade.
Somente uma parcela dos ambientalistas é edênica e corresponde, justamente, aos ecochatos. Os sensatos sabem que os recursos ambientais precisam ser explorados; sempre foram e jamais deixarão de sê-lo. Óbvio. Precisamos nos alimentar, consumir água e produzir energia, dentre outros fatores. Mas há meios e meios de fazê-lo.
Os países desenvolvidos têm em comum já terem dizimado os seus recursos ambientais ou quase isso. Quando veio a escassez, descobriram que precisavam fazer o caminho de volta. Foram tolos, claro, mas temos que lembrar que o discurso ambiental hoje em voga surgiu em 1972, com a Conferência de Estocolmo. Antes disso, o mundo inteiro estava em erro. Precisamos barrar a exploração dos países ricos, mas nem por isso podemos exigir a nossa própria quota de insanidade. Hoje, com o desenvolvimento da tecnologia, pode-se produzir com menos danos. Que o diga o Japão, um arquipelagozinho vulcânico, com quase nada de terras agricultáveis e sem uma gota de petróleo — mas podre de rico. Assim como os tigres asiáticos.
Haver gente em 2008 pedindo para derrubar florestas como condição sine qua non do desenvolvimento passou da besteira para a burrice; passou da esperteza para a suprema calhordice. Afinal, sabemos bem o que é esse desenvolvimento e quem se beneficia dele.
Boa, Mangabeira. Vamos desenvolver. Mas escolhendo o modelo certo. Não é uma decisão de governo. É uma exigência da humanidade.

2 comentários:

Anônimo disse...

Yúdice,

muito bom Post. É uma pena, mas a visita e as respostas do ministro mostram a defasagem do empresariado estadual com respeito a questões de insuperável atualidade. Os argumentos usados por aqueles que defendem o atual modelo predatório e pouco coerente é absurdamente rasteiro, com vistas apenas à manutenção de seus ganhos (irrisórios se comparados com a potencialidade de exploração daquilo que eles destroem), ainda assim com pouca ou quase nenhuma perspectiva futura. O mundo capitalista todo sabe e se preocupa com o fato de que a Amazônia está sendo destruída e desperdiçada em quase todas as suas possibilidades e os "empresários" (me desculpem os 5% que são sérios) nada apresentam para se justificar a sua prática, que um discurso nacionalista-regionalista pra lá de hipócrita, que visa apenas mascarar a exploração de trabalho quase escravo e da brutal concentração de renda que ocorre na região decorrente das atividades madeireira, pecuarista e agrícola extensiva. O senhor Armando Soares, que pôde sem dúvida dar ao ministro mostras da alienação dos segmentos econômicos que exploram a região, diga-se de passagem, publica com terrível freqüência as suas banalidade e mantras no "jornal" "O liberal" (!), para quem ainda tem a paciência para tal leitura, basta só conferir.

Roberto Barros.

Yúdice Andrade disse...

Não transito em meios empresariais, Roberto, mas pelo que sou capaz de especular, através de notícias da imprensa e das críticas a elas feitas, deduzo que o empresariado brasileiro ainda é muito tacanho e imediatista, e que tais defeitos pioram quanto mais nos aproximamos da linha do Equador. Enquanto em fazendas de gado no sudeste se discute aumento de produtividade com base em tecnologia, aqui ainda se está na mesma história de desmatar para ampliar pastagens. Convenhamos, não há sequer nível num debate assim.