Prefeito da cidade com maior taxa de homicídios acha situação "normal"Brasília, Agência Brasil
Coronel Sapucaia (MS), na fronteira com o Paraguai, ficou em primeiro lugar no ranking das cidades com as maiores taxas de homicídio do Brasil, segundo o Mapa da Violência 2008, divulgado hoje (29). Com 13.828 habitantes, o município registrou 13 homicídios em 2006, cerca de um a cada mil moradores. O prefeito Ney Kuasne, no entanto, classificou a taxa como “normal”.
“É um número normal. Número grande é o do Rio de Janeiro”, disse o prefeito em entrevista à Agência Brasil. O Rio ficou fora do ranking, pois não está entre as 500 cidades com maiores taxas de homicídios, proporcionalmente à população.
No entanto, o diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, Dênis Mizne, acha que a estatística do município sul-mato-grossense não é nada normal. Citando critérios da Organização das Nações Unidas (ONU), ele afirma que, para que uma sociedade seja considerada “segura”, a taxa de homicídios não pode superar dez para cada 100 mil habitantes, ou seja, um para cada dez mil (dez vezes menos que Coronel Sapucaia).
“Treze mortes pode parecer pouco, mas, para o tamanho da cidade, causa preocupação. E a atitude do prefeito de aceitar como normal deveria ser substituída por uma tentativa de mudança no índice, e de melhorar as condições de vida na cidade”, disse Mizne.
O prefeito aponta a proximidade com o Paraguai como a principal causa das mortes. Ele acredita que alguns crimes foram na verdade praticados por paraguaios do outro lado da divisa. “Por exemplo, dois corpos foram encontrados na estrada que vai para a fronteira com o Paraguai, e não foram reconhecidos por ninguém no nosso município. Elas [as fronteiras] são muito vulneráveis para a geração de criminalidade, bandidagem e violência”.
Ney Kuasne também cobrou atenção do governo federal nas regiões fronteiriças. “Falta mais carinho por parte do governo para com as fronteiras, que são a porta de entrada do país. Coronel Sapucaia tem três policiais militares, um delegado da Polícia Civil, dois investigadores e um funcionário que faz identidades [emite documentos] na delegacia. São três policiais que fazem plantão um dia sim, outro não. Quem agüenta?”.
Neste ponto, o diretor do Instituto Sou da Paz concorda com a reclamação do prefeito. Ele acha um “absurdo” a forma como as regiões de fronteira são fiscalizadas no país. “A fiscalização é responsabilidade do governo federal. É uma situação que precisa do apoio dos governos estaduais, no sentido do policiamento, e precisa de um trabalho integrado com o governo local. O aumento da criminalidade permeia as fronteiras por causa do tráfego de drogas e de armas. Isso está repercutindo nesse município, mas é um problema do país inteiro”.
De acordo com o Mapa da Violência, o município registrou 13 homicídios em 2006, 17 em 2005, 17 em 2004, oito em 2003 e 21 em 2002. Em relação a 2006, o prefeito afirmou que houve na verdade uma morte a mais: “A Delegacia de Polícia Civil verificou 14 homicídios. Entre os crimes, estão acidentes de trânsito, mortes de indígenas, de foragidos e outros homicídios dolosos".
Fiquei feliz de não passar nem perto de Coronel Sapucaia. Só lamento pelo munícipes de lá. Pelo visto, Belém está longe de ser a única cidade com prefeito desastre.
Esse é o grande mérito de estudos como este, da RITLA: forçar discussões na sociedade e respostas do poder público. Mesmo que elas, em geral, constituam desculpas esfarrapadas. Mas não há meios de mudar as coisas sem que a realidade venha à tona.
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