Décadas atrás, o governo federal brasileiro decidiu que o principal modelo de transporte a ser desenvolvido no país seria o rodoviário, mesmo havendo imensidões territoriais (propícias ao ferroviário) e mesmo sendo o território retalhado por muitos e caudalosos rios (recomendando o hidroviário). Não se compara a capacidade de carga do maior dos caminhões em relação a um bom navio. No final, foi escolhida a opção mais inconveniente, sobretudo do ponto de vista ambiental. Mas assim foi feito porque atendia aos interesses dos Estados Unidos, exportador de petróleo, império do qual já éramos súditos e capachos.
Governos tomam decisões, muitas vezes, de costas para o interesse público. Neste país, historicamente, ganham os governantes do momento e a escumalha com que se relaciona, em detrimento de todos.
Este pensamento nasceu de uma postagem no 5ª Emenda, criticando as tentativas da Câmara Municipal de Belém de modificar a legislação urbanística, com vistas a permitir a construção de edifícios mais altos, com benefícios imediatos e exclusivos para a indústria da construção civil. Não importa que isso desfigure a cidade, interrompa o fluxo dos ventos, comprometa o conforto ambiental, gere ilhas de calor, oculte as paisagens naturais ou os bens tombados. O que importa é uma indústria canalha lucrar com isso e só.
Em julho de 1999, passei alguns dias em São José dos Campos, SP. Lembro-me de chegar à Via Dutra e meus anfitriões me mostrarem, de um lado, o caminho para o Estado do Rio de Janeiro; de outro, a capital paulista — neste caso, destacando-se por um céu cinzento e opressivo. Era inverno, tempo propício à inversão térmica.
Visitando a capital, acompanhei aqueles termômetros de rua indicando a qualidade do ar: razoável ou ruim. Estive em um edifício residencial e fui até o telhado. Lá de cima, olhando em todas as direções, via uma coisa só: prédios, prédios, prédios. Uma paisagem intimidadora e árida. Pensei que, das sacadas de Belém, podia-se ver um horizonte mais belo.
Ainda se pode. Mas se prevalecer a escalada edilícia na cidade, hoje embalada por empresas paulistas, é coisa breve.
Na postagem a que me referi, uma leitora perguntava porque a indústria do turismo não se esforçava por barrar esse fenômeno, a fim de lucrar com a exploração de nossas belezas naturais. Uma sugestão curiosa, mas creio que fora da realidade. Turismo, no Pará, não tem indústria; no máximo, uma vendinha na esquina. Não há entidades governamentais ou não-governamentais com cacife para enfrentar o poderio econômico de construtoras. E quem teria interesse? E quais seriam as potencialidades econômicas para o turismo, se uma tal batalha fosse travada e vencida? Há quem interessa se uma fila de espigões, lado a lado, na Pedro Álvares Cabral, acabará com a visão da Baía do Guajará, se felizes proprietários terão garantido um belo por-de-sol?
Creio que a saúde da cidade, naquilo que possa ser afetado pela verticalização excessiva, somente poderá ser mantida se tal preocupação brotar na consciência de cada cidadão, para cobrar o impedimento das iniciativas das construtoras, que possam ser consideradas como abusivas. E, claro, com o engajamento do poder público, não permitindo modificações calhordas na legislação, tomando decisões com base em argumentos realistas técnicos (e não políticos ou econômicos) e implementando uma política ambiental séria.
Que desgraça seria a outrora Cidade Morena, Cidade das Mangueiras e da chuva das duas, que não pode faltar transformada em cidade cinza-concreto, cidade dos arranjos em condomínios e da falta de ventos, para aliviar o calor já inevitavelmente causticante.
2 comentários:
Elite de merda, amigo, desculpe. Para ser mais exato, escória, é o que temos. Gente da pior qualidade, que só pensa em si, através dos piores meios. Pena.
Definitivamente, não te recrimino por pensares e por te expressares assim. Motivos existem em abundância.
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