segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Içami Tiba — educação de crianças e adolescentes

O texto abaixo foi originalmente publicado no Blog do Pedro Nelito. Içami Tiba é uma referência em educação de crianças e jovens. Confesso que estranhei algumas das afirmações (por acaso só as mães são permissivas?), notadamente a recomendação de "abandonar" o filho, mas vale a pena aprender com o mestre e, naquilo em que dele divergimos, debater a respeito.

Recebi de uma amiga algumas frases retiradas da Palestra ministrada pelo médico psiquiatra Dr. Içami Tiba, em Curitiba, 23/07/08. [O palestrante é membro eleito do Board of Directors of the International Association of Group Psychotherapy. Conselheiro do Instituto Nacional de Capacitação e Educação para o Trabalho "Via de Acesso". Professor de cursos e workshops no Brasil e no Exterior.]
Içami Tiba sempre me ajudou na tarefa de pai, professor, cidadão... Leiam as frases retiradas da palestra:

1. A educação não pode ser delegada à escola. Aluno é transitório. Filho é para sempre.

2. O quarto não é lugar para fazer criança cumprir castigo. Não se pode castigar com internet, som, TV, etc.

3. Educar significa punir as condutas derivadas de um comportamento errôneo. Queimou índio pataxó, a pena (condenação judicial) deve ser passar o dia todo em hospital de queimados.

4. É preciso confrontar o que o filho conta com a verdade real. Se falar que professor o xingou, tem que ir até a escola e ouvir o outro lado, além das testemunhas.

5. Informação é diferente de conhecimento... O ato de conhecer vem após o ato de ser informado de alguma coisa. Não são todos que conhecem. Conhecer camisinha e não usar significa que não se tem o conhecimento da prevenção que a camisinha proporciona.

6. A autoridade deve ser compartilhada entre os pais. Ambos devem mandar. Não podem sucumbir aos desejos da criança. Criança não quer comer? A mãe não pode alimentá-la. A criança deve aguardar até a próxima refeição que a família fará. A criança não pode alterar as regras da casa. A mãe NÃO PODE interferir nas regras ditadas pelo pai (e nas punições também) e vice-versa. Se o pai determinar que não haverá um passeio, a mãe não pode interferir. Tem que respeitar sob pena de criar um delinqüente.

7. Em casa que tem comida, criança não morre de fome. Se ela quiser comer, saberá a hora... E é o adulto quem tem que dizer QUAL É A HORA de se comer e o que comer.

8. A criança deve ser capaz de explicar aos pais a matéria que estudou e na qual será testada. Não pode simplesmente repetir, decorado. Tem que entender.

9. É preciso transmitir aos filhos a idéia de que temos de produzir o máximo que podemos. Isto porque na vida não podemos aceitar a média exigida pelo colégio: não podemos dar 70% de nós, ou seja, não podemos tirar 7,0.

10. As drogas e a gravidez indesejada estão em alta porque os adolescentes estão em busca de prazer. E o prazer é inconseqüente.

11. A gravidez é um sucesso biológico e um fracasso sob o ponto de vista sexual.

12. Maconha não produz efeito só quando é utilizada. Quem está são, mas é dependente, agride a mãe para poder sair de casa, para fazer uso da droga. A mãe deve, então, virar as costas e não aceitar as agressões. Não pode ficar discutindo e tentando dissuadi-lo da idéia. Tem que dizer que não conversará com ele e pronto. Deve "abandoná-lo".

13. A mãe é incompetente para "abandonar" o filho. Se soubesse fazê-lo, o filho a respeitaria. Como sabe que a mãe está sempre ali, não a respeita.

14. Se o pai ficar nervoso porque o filho aprontou alguma coisa, não deve alterar a voz. Deve dizer que está nervoso e, por isso, não quer discussão até ficar calmo. A calmaria, deve o pai dizer, virá em 2, 3, 4 dias. Enquanto isso, o videogame, as saídas, a balada, ficarão suspensas, até ele se acalmar e aplicar o devido castigo.

15. Se o filho não aprendeu ganhando, tem que aprender perdendo.

16. Não pode prometer presente pelo sucesso que é sua obrigação. Tirar nota boa é obrigação. Não xingar avós é obrigação. Ser polido é obrigação. Passar no vestibular é obrigação. Se ganhou o carro após o vestibular, ele o perderá se for mal na faculdade.

17. Quem educa filho é pai e mãe. Avós não podem interferir na educação do neto, de maneira alguma. Jamais. Não é cabível palpite. Nunca.

18. Se a mãe engolir sapos do filho, ele pensará que a sociedade terá que engolir também.

19. Videogames são um perigo: os pais têm que explicar como é a realidade, mostrar que na vida real não existem "vidas", e sim uma única vida. Não dá para morrer e reviver. Não dá para apostar tudo, apertar o botão e zerar a dívida.

20. Professor tem que ser líder. Inspirar liderança. Não pode apenas bater cartão.

21. Pais e mães não podem se valer do filho por uma inabilidade que eles tenham. "Filho, digite isso aqui pra mim porque não sei lidar com o computador". Pais têm que saber usar o Skype, pois no mundo em que a ligação é gratuita pelo Skype, é inconcebível pagarem para falar com o filho que mora longe.

22. O erro mais freqüente na educação do filho é colocá-lo no topo da casa. O filho não pode ser a razão de viver de um casal. O filho é um dos elementos. O casal tem que deixá-lo, no máximo, no mesmo nível que eles. A sociedade pagará o preço quando alguém é educado achando-se o centro do universo.

23. Filhos drogados são aqueles que sempre estiveram no topo da família.

24. Cair na conversa do filho é criar um marginal. Filho não pode dar palpite em coisa de adulto. Se ele quiser opinar sobre qual deve ser a geladeira, terá que mostrar qual é o consumo (kWh) da que ele indicar. Se quiser dizer como deve ser a nova casa, tem que dizer quanto isso (seus supostos luxos) incrementará o gasto final.

25. Dinheiro "a rodo" para o filho é prejudicial. Mesmo que os pais o tenham, precisam controlar e ensinar a gastar.

5 comentários:

João Paulo disse...

Boa noite, Yúdice,

Só para seu conhecimento e a título de curiosidade, como já haviamos tocando em assunto tão complexo, no seu post, "Das prioridades ou dos calos no pé", peço a devida licença para colar notícia do portal Terra, a respeito da lei antifumo:

"O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio julgou inconstitucional o decreto municipal que proibia o fumo em locais fechados na capital fluminense. Por unanimidade, os desembargadores decidiram acolher, nesta segunda-feira, o pedido da Federação Nacional de Hotéis, Restaurantes Bares e Similares.

Segundo o relator da ação, desembargador Sergio Cavalieri Filho, os municípios não têm competência para legislar sobre o assunto. 'Não se discute nesta ação os malefícios do cigarro. O que se discute é quem tem competência para legislar sobre a matéria', afirmou o relator.

Ao vedar de forma absoluta o uso de cigarros em recintos coletivos fechados, o Decreto Municipal foi além da Lei Federal nº 9294 de 1996", disse o desembargador. Ele também destacou que a lei federal proíbe o fumo em recinto coletivo, mas permite que existam fumódromos."

Não sou fumante, como já tinha escrevido, mas respeito a liberdade dos outros. Acho que já estão exagerando na dose contra os fumantes, tratando-os como se marginais fossem e não é bem por aí. Comungo do mesmo entendimento da r. decisão.

Abs,

Fonte: Redação Terra

Yúdice Andrade disse...

Meu caro, agradeço a colaboração. Tenho acompanhado os julgamentos declaratórios de inconstitucionalidade dessas leis, com vivo interesse e profunda antipatia. Mas ainda confio que o interesse superior da saúde pública há de prevalecer. Se somos utilitaristas para o mal, havemos de sê-lo para o bem.
No mais, meu amigo, penso que não há liberdade em prejudicar os outros. A questão nunca foi não fumar, e sim não fumar perto de abstêmios. Assim como a questão nunca foi não beber, e sim não beber e dirigir.
Por fim, a meu ver, quem solta baforadas na cara de pessoas inocentes e indefesas, mesmo diante de toda a campanha que se faz contra isso, merece ser tratado como o marginal que é. Sei que divergimos nesse particular, mas esse é um ponto de honra para mim.
Obrigado e continue ajudando a fazer deste um blog aprazível.

João Paulo disse...

Yúdice, perceba bem; não estou incentivando nem defendendo ninguém que desrespeite outrem, mas pura e simplesmente o que vale para um, vale para o outro. Tem que haver respeito por ambas as partes, se existir espaço especifico para fumantes, queiram ou não, gostem ou não, se mal ou bem faz a saúde, não dá o poder de alguém destratar e ameaçar outros, como algumas vezes presenciei. Sei que é degradável o cheiro e a fumaça do cigarro, mas quando há espaço específico para isso, respeitemos e não é um direito atacar a opção do outro, o fumo não é uma droga proibida, assim como, a bebida. O bom senso é o filtro. Quanto ao mérito do fumante passivo, tenho lá minhas dúvidas, acredito que a poluição expelida pelos caros é infinitamente pior do que as dos fumantes.
É só uma questão de liberdade de escolha, que está protegida - em espaços específicos -, constitucionalmente.

Mas respeito sua opinião.

Amplexos,

Yúdice Andrade disse...

João, é um prazer debater contigo.
1. Quanto à existência de espaço próprio para fumantes, já declarei aqui no blog que não sou contra. A minha guerra santa é para que os abstêmios sejam resguardados. Mas se quiserem separar um espaço para os fumantes, não tenho nada com isso. Aí vale a regra da liberdade, com certeza. O que não pode é a "liberdade" do fumante ferrar comigo, já que a minha abstinência não prejudica ninguém.
2. Bom senso é a chave da questão, sem dúvida.
3. Quanto ao ponto da poluição causada pelos carros, penso que o argumento não procede. Decerto que essa poluição é muito mais grave e generalizada do que a do cigarro, mas se insere no âmbito dos chamados riscos permitidos. Afinal, precisamos dos veículos para atender a necessidades insanáveis por outro modo. Ou vamos abdicar dos carros e andar a pé? Diversamente, o cigarro está nos riscos proibidos, já que ninguém precisa ser submetido a isso e, convenhamos, daí não se extrai nenhuma utilidade.
4. No mais, espero que os carros movidos a combustíveis alternativos se tornem uma realidade de mercado o mais rápido possível. Um mundo com carros limpos e sem cigarro seria um sonho, não? E é um mundo possível.
Um grande abraço.

Leo Nóvoa disse...

Professor, não tem muito a ver, mas acho que o senhor se interessa, pois vi que anda as voltas com alguns livros. Li uma reportagem sobre um escritor argentino chamado Jorge Luis Borges e suas obras, que fazem uma mistura de ficção e romance, mesclando assuntos e histórias fantasiosas com realidade. Tal escritor já tem mais de vinte anos de falecido, portanto suas obras não caem naquela concepção pop atual. Só estou lhe fazendo mesmo esta recomendação, pois me interessei bastante e vou tentar adquirir algum livro deste autor.
Abraço