quinta-feira, 23 de julho de 2009

Merecimento, sorte e outras hipóteses

Antigamente, quando se falava sobre vestibular, era comum se comentar acerca de pessoas muito inteligentes e/ou esforçadas, que não haviam passado, ou de pessoas em quem ninguém acreditava, mas que haviam logrado sucesso. Nos cursinhos, quando alguém dizia não se sentir preparado para as provas, sempre havia uma voz amiga aconselhando:
Faz a prova. Vai que cai justamente o que estudaste!
Era o reconhecimento de que capacidade e estudo dedicado compunham apenas uma parte do processo. Sempre houve uma larga margem de imponderabilidade influenciando os resultados dos vestibulares.
O tempo passou e essa discussão perdeu o interesse. O desmantelamento do ensino público para gáudio da iniciativa privada levou à explosão do número de instituições particulares, de tal modo que, hoje, há quase tantas instituições de ensino superior quanto farmácias Big Ben por aí. Bobeou uma esquina, abre mais uma. E o número de cursos e de vagas não para de aumentar. Graças a isso, qualquer um passa no vestibular hoje em dia.
Entretanto, um outro funil surgiu há uma década e meia, que atende pelo nome de exame de Ordem. De incidência mais restrita, influencia apenas a vida dos bachareis em Direito. Mas estes não são poucos e, devido à enorme procura e pressão sobre os cursos jurídicos no país, há um certo interesse da sociedade pelos resultados. Nem que seja pela ausência de testes de proficiência em outros cursos, paira alguma curiosidade quanto aos números da OAB.
A cada nova edição do controverso exame (não é meu objetivo voltar a essa cansativa polêmica agora), a seccional de São Paulo torna públicos os índices de aprovação. Aliás, os índices de reprovação, que são sempre superiores. No resultado divulgado esta semana, houve nada menos do que 86% de insucesso. O percentual está sempre nesse patamar.
Como não estou preocupado com São Paulo, acessei o sítio da seccional paraense e, como sempre, nenhuma palavra. Pelo visto, o nosso sodalício deve acreditar que sua função se esgota na realização em si das provas, pois não manifesta interesse pelos resultados. Mais tarde, deve sair o famoso ranking das instituições, que na prática serve apenas para saber quem aprovou mais e transformar isso em publicidade, uma prática que cheira à odiosa rotina dos cursinhos vestibulares. Não é atrás dessa informação que estou.
O que me interessa são informações que, salvo ignorância minha, a OAB/PA jamais forneceu:
Como ela avalia o último exame?
As questão estavam bem elaboradas, dos pontos de vista técnico e pedagógico?
Existe algum acompanhamento do desempenho das instituições ao longo do tempo?
A OAB procura as instituições para dialogar com elas, procurando mecanismos que melhorem esses resultados?
A OAB tem interesse na melhoria desses resultados?
A OAB tem algo a dizer aos candidatos reprovados?
Aliás, a OAB tem algo a oferecer aos aprovados, além de descontos da anuidade?

O mínimo que se podia esperar era que, a cada resultado, a OAB emitisse um pronunciamento oficial sobre as questões acima ou outras, que parecessem relevantes. E não esse absurdo silêncio, que soa a descaso. Descaso, sim, porque não passar no exame estaciona a vida de muita gente. E seria bom que a OAB informasse se já se deu conta disso.

5 comentários:

Luiz Bentes disse...

Exame de Avaliação de cursos de graduação no país são importantes, acredito nçao haver dúvidas sob tal ponto, inclusive deveria ser uma prática não somente para todos os cursos autorizados pelo MEC. O que se deve ter cuidado, e você toca neste ponto fundamental, é sobre a qualidade dessas provas aplicadas aos formandos, será que, no caso do Exame de Ordem, estes aspectos estão tendo um efetivo acompanhamento pela OAB? Quero crer que não. A lei 8.906/94 que institui a obrigatoriedade do exame para inscrição na Ordem, remete o Exame de Ordem a regulamentação de provimento do Conselho Federal da OAB. Não sou Advogado e não sei exatamente em que condições isso se dá, mas como já relatei não acredito que todos os aspectos que devam ser levados em consideração estão sendo considerados. Isso atravanca, como você bem coloca, a vida de muita gente. Acho que está na hora de rever esses conceitos de avaliação. Tem muita gente boa ficando pelo caminho neste Exame. Eu conheço pelo menos um. Obrigado pelo oportunidade. Abs.

Luiz Bentes

Yúdice Andrade disse...

Caro Luiz, para o caso de você ser novo aqui pelo blog, destaco que sempre fui favorável ao exame de Ordem, desde quando era estudante de Direito e ele nem existia. Eu aceitava de bom grado me submeter a ele e de fato me submeti, no ano de 1997.
Não sei quanto a todos os cursos, mas entendo que muitos deles deveriam ser, também, monitorados por testes de proficiência, notadamente os de saúde. Fiz uma postagem sobre isso, em relação ao curso de Odontologia. E eram eles mesmos que queriam. Um abraço.

Maurício Gieseler de Assis disse...

Olá Yúdice,

Eu gostaria de publicar esse texto no meu blog ( blogexamedeordem.blogspot.com ). O Senhor me autorizaria?

Meu mail é mauriciogieseler@gmail.com

Abraços!

Luiz Bentes disse...

Sem dúvida, a avaliação, não somente em cursos de Graduação, mas acredito que em todas as atividades humanas é importante. Somente é preciso cuidar dos critérios, assim como analisar os resultados, conforme você bem pondera em seu texto. Obrigado mais uma vez pela oportunidade. Abs,
Luiz

Frederico Guerreiro disse...

Perfeito.

É por isso que o Yúdice e o Luiz são meus amigos.