A arquiteta e professora Claudia Nascimento, que mantém o blog Marcos do Tempo, publicou uma interessante postagem sobre o estado de abandono e depauperação dos outrora graciosos chalés de Mosqueiro, cuja conservação deveria ser um objetivo prioritário tanto dos proprietários quanto do poder público.
É a velha falta de visão, que tanto caracteriza esta nossa região. Aqui, o negócio é demolir, para construir no lugar alguma casa de linhas retas supostamente arrojadas e modernas, cheias de vidros e splits aparentes. Quando não prédios comerciais ou mesmo espigões.
Soubéssemos o valor do passado, as linhas arquitetônicas dessas edificações e a história neles embutidas, por si só, já lhes valeriam a condição de atrações turísticas, como acontece em países mais civilizados — e mesmo aqui no Brasil.
Cito como exemplo o Município de Pomerode (SC) — a cidade mais alemã do Brasil —, que criou a rota do enxaimel. O enxaimel é um estilo arquitetônico típico da Alemanha e os pomerânios invocam para si a condição de local fora daquele país que reúne a maior quantidade de construções nesse estilo. São cerca de 70 casas. Eu fiz o trajeto. Você percorre estradinhas de terra batida e vê as casas. Apenas vê. Não entra nelas, pois são apenas residências, salvo uma ou outra, onde funcionam pequenos comércios, inclusive de artesanato. Mas a cidade encontrou uma forma de usufruir de uma peculiaridade paisagística que possui. Inteligentes eles, não nós.
Em Mosqueiro, poderíamos reunir a arquitetura, a história do ciclo da borracha (que foi importante para todo o país) e, de quebra, o vasto potencial ecoturístico do local — que, para além das praias, envolve mata nativa, igarapés e modos de vida dos ribeirinhos. Seria espetacular. Mas falta gente espetacular para levar adiante uma ideia como esta.
4 comentários:
Muito obrigada, Yudice, pela referência. Nossa Mosqueiro, e porque não dizer Belém, precisa de atenção às questões críticas. Ética, educação, cultura nos compõe como cidadãos.
São tantas urgências... mas se formos cidadãos saberemos tomar frente a todas as lutas.
Concordo plenamente. E por isso mesmo me entristeço, já que todos os dias temos renovados e contundentes exemplos de que não somos cidadãos. É uma pena. Mas façamos o nosso trabalho voluntário de formiguinhas, nesta luta por educar as pessoas. Se funcionar com um, já terá valido a pena, se ela própria se tornar uma multiplicadora.
Tenho tentado crer nisto. Abraço.
De fato, além da questão da péssima conservação de alguns chalés, com algumas honrosíssimas excessões, Mosqueiro se recente da falta de ordem pública. O que aconteceu neste mês de Julho por lá, foi uma invasão de bárbaros, flagrantemente tolerados pelas autoridades, que deveriam impor-lhes limites. Agora, empresários predadores, antes restritos aos primeiros metros da Praia de Murubira, montam "casas de espetáculos em plena orla residencial da praia, atraindo e incentivando os energúmenos aos abusos, saques, poluição sonora e tudo o mais que vc pode imaginar. Mas não vai ficar assim não. Já existe uma iniciativa de moradores contra este tipo de empreendimento na orla da praia. Todos interessados no lucro à qualquer custo.
Vejamos então.
Sabia que passarias por esta postagem, Barretto.
Sobre o ponto que mencionas, recordo a fama de Mosqueiro, de ser muito popular, enquanto Salinas era elitizada. Hoje, contudo, os endinheirados escutam pagode, arremedo de forró, axé e outros tipos de porcaria, de modo que a linha entre as referências culturais das tais classes sociais foi rompida. Logo, podemos esperar que Mosqueiro, Salinas e todos os demais destinos de férias sejam tomados pela balbúrdia, pela ausência de cidadania, pela irracionalidade e pela sujeira - aspectos por sinal destacados pela imprensa agora em julho, a respeito da atlântica.
Valha-nos quem?
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