Antecipando tendências

Escutei na rua esta manhã uma canção que não ouvia há muito tempo. Trata-se de "Amante profissional", sucesso que a banda Herva Doce emplacou em fins de 1982. Sucesso maiusculo, com direito a videoclips em três diferentes emissoras de TV, antes mesmo do surgimento da MTV.

Para os tempos que então eram vividos — a abertura política pós-ditadura só se completaria em 1985 —, pode-se considerar um feito. Afinal, os debiloides ridículos que governavam o país, naqueles tempos, punham-se na condição de guardiões de uma moralidade que eles mesmos não possuíam (muito antes pelo contrário). Insinuação sexual, assim, estava fora de cogitação. Ainda mais em se tratando de uma letra nada sutil que simulava um anúncio público de prostituição. E pior: masculina, que desperta até hoje maiores tabus. Tudo isso numa época em que os bobinhos ainda pensavam que homens não se prostituíam e em que os classificados dos jornais não ostentavam uma seção com o mimoso título "Amizades".

Eis a pérola:

Moreno alto, bonito e sensual

Talvez eu seja a solução do seu problema

Carinhoso, bom nível social

Inteligente e à disposição

Para um relacionamento íntimo e discreto

Realize seu sonho sexual

Pra qualquer tipo de transação

Sem compromisso emocional, só financeiro

E o endereço pra comunicação

Pra caixa postal do amante profissional

Amor sem preconceito

Sigilo total, sexo total

Amante profissional

É dessas bobagens do passado que escutamos, lembramos e gostamos. A música esculhambada e escrachada de antigamente não se compara ao que temos hoje. Inclusive, em alguns casos, música que se pretende não esculhambada e escrachada.