Apesar de ter sido um domingo bastante agitado, a noite não ficou reservada para lazer ou descanso, mas para obrigações domésticas: fazer supermercado — tarefa que, definitivamente, não entrará para a minha lista de coisas que adoro fazer. Mas necessidade é necessidade. Filha na casa da avó, fomos à luta.
Conversava com minha esposa quando demos de cara com um supermercado fechado, às 18h30, aproximadamente. Como o ramo supermercadista nesta cidade é do tipo que tira o couro dos empregados, obrigando-os a trabalhar quase sem descanso, um fato assim é de assustar. Sei que há um dia no ano em que tudo para (o dia do comerciário, certo?), mas é em outubro. Então o acontecimento de hoje foi intrigante. Em meio ao susto e a necessidade, passamos pela frente de outros dois estabelecimentos, embora já se pudesse concluir que estariam do mesmo jeito.
Acabamos no Líder Pedreira, que funciona 24 horas. E lá soube, através de um funcionário, o que se passava. Se saiu algo na imprensa, passei batido. E com certeza não fui o único. Havia muita gente recorrendo aos 24 horas da cidade, únicos que permaneceram funcionando.
Recordo-me, agora, da discussão salarial da categoria, que ainda não chegou a um acordo. Tanto não chegou que voltou a prevalecer uma decisão da Justiça do Trabalho, de meses atrás, determinando o fechamento dos supermercados, aos domingos, às 13 horas. Aborrecimento para consumidores que usam esse dia para suas compras, prejuízo para os empresários, mas descanso e convivência familiar para os empregados. Realmente, não sou contra.
Faço supermercado aos domingos por necessidade. Como eu e minha esposa somos professores e lecionamos até tarde da noite, só nos resta a superlotação absurda dos sábados ou a tranquilidade dos domingos. Fizemos nossa escolha. Logo, sou afetado diretamente pela medida. Mas apoio o esforço do sindicato da categoria. Inúmeras vezes senti pena (no bom sentido) de funcionários exaustos, após uma rotina indigente de trabalho, tendo que aguentar mais umas tantas horas pela frente e, depois, ter que contar com a sorte para chegar em casa, numa cidade em que o transporte público é uma droga. Espero que essas milhares de pessoas — empregados e suas famílias — possam usufruir dessas horas de descanso, que sabemos não durarão muito. Enquanto isso, os empresários sofrerão umas perdas, o que pode ser o único caminho para que reflitam sobre suas prioridades.
Citei o nome do supermercado em que estive — Líder — não para fazer jabá, até porque não ganharia nada com isso. Mas para lembrar que esse grupo se desligou da Associação de Supermercados do Pará há alguns dias, justamente por discordar da deliberação sobre acabar com o funcionamento 24 horas de algumas de suas lojas. Neste momento, eles é que estão lucrando com esse imbróglio trabalhista.
PS — Como já era de se esperar, o Líder é mais caro do que o Formosa. E deste eu também não ganho nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário