quinta-feira, 5 de março de 2009

Excomungado

Já que comecei, tenho que ir adiante. Volto, assim, ao tema de postagem de ontem. Desta vez, duas novidades: a menina de 9 anos estuprada pelo pai desde os 6 e que estava grávida de gêmeos teve induzido o abortamento, que se consumou ontem, e o raivoso bispo de Olinda e do Recife, José Cardoso Sobrinho, excomungou todos os envolvidos no caso, exceto a própria menina, mas deduzo de suas palavras que ela só foi poupada por ser menor de idade. Do contrário, até ela ganharia o fogo do inferno.
Obtuso que só ele, o bispo ignorou sumariamente as explicações dos médicos, que são plausíveis até para um leigo: uma criança de 9 anos não tem condições físicas de estar grávida, ainda mais de gêmeos, de modo que essa gestação provavelmente seria de risco, com perigo de morte inclusive. Se não isso, a menina poderia sofrer sequelas capazes de lhe subtrair a capacidade reprodutiva. Ou seja, quando adulta e apta a decidir livremente, ela não poderia ser mãe.
A repugnante atitude do bispo é daquelas capazes de afastar das igrejas qualquer católico de bom senso, porque viola valores e princípios ligados à solidariedade humana que, imagino, sejam albergados em alguma medida pela maioria das pessoas.
Antes desse novo e ridículo episódio, o leitor Roberto Barros já me premiara com este lúcido comentário:

como visitante ocasional de seu blog eu gostaria de lhe comprimentar pela análise. A propalada "defesa da vida" da igreja - que se dá inclusive apoiando ditaduras, tiranos e fanáticos, contanto que eles detenham o poder - é em verdade a defesa de seus dogmas fundamentais e, assim, dela mesma. A igreja católica e o cristianismo em geral defendem a vida como princípio primeiro por saber que em verdade o que está em jogo não é a vida de todos, mas o egoísmo humano que defendendo um princípio universal busca decisivamente defender a sua própria vida e a dos seus. desse modo, para a igreja defender a vida significa justificar sempre a necessidade da igreja, que assim se torna uma caixa de ressonância dos anseios do povo, fundamentalmente do de Estados ineficiêntes e hipócritas como o nosso. O resultado final disso é o aumento da significação política da igreja, que assim pode obter do Estado todas as suas reivindicações, tais como a reforma de seus prédios, doações de terras e terrenos e financiamento de festas religiosas. Quanto às meninas estupradas e aos milhões de aidéticos católicos da Africa (para quem o preservativo é pecado), resta apenas a paciência e a piedade de Deus, se é que ambos existem.

E depois reclamam do crescimento das outras religiões. Felizmente, a menina passa bem.

Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1028529-5598,00-ARCEBISPO+EXCOMUNGA+MEDICOS+E+PARENTES+DE+MENINA+QUE+FEZ+ABORTO.html e http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1029966-5598,00-APOS+SOFRER+ABORTO+MENINA+DE+ANOS+PASSA+BEM.html

Acréscimo em 6.3.2009:
Hoje, Gilberto Dimenstein nos ofereceu mais uma de suas habituais pílulas de lucidez e humanidade. Clique.

2 comentários:

Anônimo disse...

Será que o estuprador que engravidou a menina também foi excomungado?
Se não foi, a decisão da Igreja Católica de Recife revela uma hipocrisia sem limites. Incrível essa mentalidade tosca em pleno século 21.

Adelino Neto

Yúdice Andrade disse...

Caro Adelino, que bom te encontrar de novo por estas paragens!
Confesso que não tinha pensado nesse aspecto que mencionas, mas as reportagens que vi até o momento não mencionam o pai estuprador sob esse aspecto. Aposto que ele não será excomungado, porque não cometeu nenhuma falta contra a religião e sempre pode se arrepender.
Então tá.