domingo, 15 de março de 2009

A classe média vai à luta

Vocês viram? Durante dois dias, moradores do bairro do Reduto  ali pelas imediações da 28 de Setembro com Rui Barbosa, ou Quintino, tanto faz  lançaram-se ao enfrentamento com os travestis que fazem ponto na região. Na pauta, acusações de algazarra, palavrões, tráfico e consumo de entorpecentes, roubos, assédio agressivo sobre moradores e visitantes, nudez, prática de sexo às vistas de todos, inclusive das muitas crianças das redondezas, e outros quetais. Houve mobilização, com direito a faixas, palavras de ordem, imprensa e intervenção da polícia.
Do outro lado, os travestis alegaram, como sempre, a necessidade de subsistência. Que eu me lembre, não foi negado que as acusações sejam procedentes. Pretendem uma política de boa vizinhança, para permanecerem no local.
Fiquei impressionado de ver a classe média se mobilizar, sair de casa de faixa em punho e ir lutar por seus direitos. Legítimos, por sinal. A História não registra muitos exemplos desse tipo de manifestação, até porque manifestação de rua é coisa de pobre, comunista e vagabundo, não é assim? Pelo menos, é isso que escutamos quando gente menos bacana vai às ruas por algum motivo.
Talvez por influência do opúsculo A luta pelo direito, de Rudolf von Ihering, que li no primeiro semestre do curso de Direito, penso que as pessoas devem, sim, lutar sempre pelo que lhes pareça justo. Ir às ruas se preciso, questionar e enfrentar as autoridades. Por isso, não encampo o discurso ironizado no parágrafo anterior e dou parabéns aos manifestantes do Reduto. Mas que me impressionou a coisa, impressionou.
Tenho dito com cada vez mais frequência: o mundo está mudando. Até Belém do Pará talvez esteja...

5 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Logo bem no quarteirão da casa da minha mamãe. O triste vai ser quando as pessoas começarem associar o nome do bairro àquela atividade profissional. Aí não vou mais poder dizer que vou ao Reduto visitar uma pessoa amada.

Carlos Barretto  disse...

Rssssssssss

Yúdice Andrade disse...

Caro Fred, uma aluna certa vez me contou que seus avós moravam ali pela Riachuelo. Não me recordo se ela mesma chegou a morar na casa. O fato é que, quando ela e outras netas chegaram à adolescência, os avós colocaram uma tabuleta na porta, com os dizeres "casa de família", numa tentativa de evitar que houvesse confusão entre elas e as meninas do entorno.
É triste, mas um reflexo deste mundo complicado em que vivemos.

Bar, mais rssssss.

Unknown disse...

O assunto é de grande polêmica. Sou estudante do curso de Direito pela UFPa, a professora de IED nos solicitou uma pesquisa sobre o assunto. Como não sou de Belém e fazem apenas 2 semanas que moro na metrópole, gostaria de saber mais sobre o assunto e o bairro, percebei que pela matéria o REDUTO seria um bairro nobre?
Mas a principio excelente matéria!!

Yúdice Andrade disse...

Caro Alisson, fico feliz de saber que sua professora decidiu dar aula com os pés fincados na realidade - e na nossa própria, desta cidade. Aos poucos, o ensino do Direito vai descobrindo que precisamos conhecer e enfrentar as questões que estão aí, em vez de ficar ruminando aqueles exemplos de livros, que por sinal conseguem ser, às vezes, esquisitos e improváveis.
Não sou a pessoa mais indicada para responder a tua pergunta, mas acredito que o Reduto pode ser considerado um bairro nobre, sim. Decerto não tem o status habitualmente dado ao seu vizinho imediato - o Umarizal - ou aos famosos bairros de Nazaré ou Batista Campos. Contudo, ele possui uma localização privilegiada, berm na cara da Doca. Do outro lado, está a Praça da República.
O que compromete o bairro são suas ruas estreitas e soturnas. Culpa da prefeitura, que podia melhorar a iluminação e fazer alguma intervenção para deixar o local mais alegre. Não à toa, os travestis escolheram essas ruas escuras para o "batalho".
Atualmente, o bairro do Marco, que era considerado periferia, já é considerado nobre, o que se percebe pela enorme pressão imobiliária nele. Imóveis lá chegam a ser mais caros do que nos bairros tracicionais, porque há uma migração para lá: a região não está saturada, o trânsito é um pouco menos opressivo e vários órgãos públicos e estabelecimentos comerciais estão se transferindo para aqueles lados.
Boa sorte na pesquisa. Volte sempre.