sábado, 21 de março de 2009

O xadrez das cores

Faz uns poucos anos, houve um festival de curtametragens brasileiros aqui em Belém, no teatro Maria Sylvia Nunes. Na noite em que fui com minha esposa, assistimos a algumas obras, das quais três nos agradaram tremendamente: uma comédia escrachada (Sequestramos Augusto César), um drama sobre racismo (O xadrez das cores) e um documentário sobre mulheres que convivem com a dor de ter um marido ou companheiro na prisão (Visita íntima).
Este último, pelo tema e pela abordagem humanista, tem tudo a ver com a minha atividade docente. Por isso, dei um jeito de entrar em contato com a diretora e roteirista do filme, Joana Nin, e ela teve a gentileza de compreender os meus motivos e me mandou uma cópia. Costumo exibir o documentário para minha turmas de Direito Penal II, disciplina em que estudamos o sistema penitenciário.
Hoje, tive o prazer de me reencontrar com O xadrez das cores, dirigido e roteirizado por Marco Schiavon. Foi o último trabalho completo da adorável atriz Myrian Pires (a inesquecível Dona Milú, da novela Tieta), que morreu em 7.9.2004, quando fazia uma participação no folhetim Senhora do destino, ora sendo re-exibido pela Globo.
No drama, Pires é Stella, uma viúva solitária cujo sobrinho viaja muito e por isso contrata uma empregada para tomar conta dela. Mas a empregada, vivida por Zezeh Barbosa, é negra e aguenta  com uma humildade desconcertante  as ofensas e provocações da idosa racista, que chega ao ponto de menosprezar N. Sra. Aparecida (uma santa preta), sem jamais revidar e sem deixar de priorizar os interesses da idosa.
Em menos de vinte minutos, Schiavon  que peca apenas pelo texto algo panfletário  mostra que as duas mulheres têm mais em comum do que pensam, levando a um desfecho previsível, mas esperado e comovente. E, de quebra, ainda faz um marketing social, quando mostra a personagem de Barbosa ensinando xadrez para as crianças da vizinhança, que assim param de se divertir com revólveres de brinquedo, simulando matar e morrer.
Uma bela demonstração de como o cinema brasileiro, especialmente os discriminados curtas, tem muito a oferecer em matéria de entretenimento, emoção, reflexão e conhecimento.

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