terça-feira, 31 de março de 2009

Chuva no brejo

Já que praticamente só se falou disso hoje, encerro as postagens do mês de março com uma antiga cantiga de Moraes Moreira, gravada por Marisa Monte em seu CD Barulhinho bom:

Olha como a chuva cai
E molha a folha aqui na telha
Faz um som assim
Um barulhinho bom
Faz um som assim
Um barulhinho bom
Água nova
Vida veio ver-te
Voa passarinho
No teu canto canta
Antiga cantiga
No teu canto canta
antiga cantiga
Boa noite.

2 comentários:

Anônimo disse...

É como diz o Lúcio Flávio, a Amazônia só é o que é pela combinação de água e floresta. Essa água interminável a cair, pelo mês de março afora, adentrando abril, parecendo que "o mundo vai se dissolver" (Peregrino Júnior), para mim é uma riqueza que estamos ainda longe de reconhecer e muito menos de aproveitar. Sempre que os alagamentos acontecem, fico espantado por ninguém lembrar que o estranho, o invasor aqui somos nós, humanos. Belém, rés-ao-mar, é mais várzea, igapó, que outra coisa. Aterro após aterro, com caroço de açaí, ou com eleitoreiras carradas de piçarra grudenta, fomos sumindo com os cursos naturais de água, suas plantas, seus bichos. Dos anos 70, até parte dos 80, lembro bem dos frangos d'água, maçaricos, suindaras, calangos verdes e azuis e alguns jacarés "importados" à beira do canal da Dr. Moraes. Isso sem falar dos tamuatás que ficavam encalhados no meio da rua, depois que a enchente baixava, por essa época. Tudo acabou.
A natureza dá seu troco. Esse aterro todo continua a ceder, o terreno continua a se acomodar. Quem constrói a um metro de altura, em dois, três anos, vê a casa afundar, tombar, rachar. Anos de economia desdenhados pela várzea, porque também ela foi desdenhada por nós. A água que devia descer, sobe, o terreno mole não suporta os ônibus e carros passando, o igapó avisa: está aqui debaixo de nós, como a boiúna silenciosa dos mitos, imóvel, mas nem sempre.
Artur Dias

Yúdice Andrade disse...

Artur, muito bonito o teu comentário. Poético, mesmo. Além de tudo, é uma grande verdade. Há aquela expressão dramática, de que a natureza se vinga das perversidades que os humanos perpetram. Vingança ou não, que há consequências, é indiscutível.
E pensar que Belém seria uma cidade muito mais bela se tivesse crescido aproveitando, como capital ambiental e paisagístico, a beleza de seus igarapés! É uma lástima que essa mentalidade seja tão recente e tão pouco difundida.